Gralha Azul, a nova musa de Reinaldinho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de outubro de 1983
Reinaldinho Godinho é uma espécie de compositor-emoção. magro, tímido, inimigo das << panelas >> que tanto prejudicam os meios profissionais, desenvolve um trabalho de gabarito, com linhas muito próprias. Passou vários anos fazendo Jingles e produções comerciais no Sir - Laboratório de Som e Imagem - para conseguir gravar seu próprio lp, somente editado em maio/82, graças ao apoio do então governador Ney Braga e lançado durante o evento << Brasil de Todos os Cantos >>.
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Lutando para sobreviver da música, Reinaldinho (fazendo apresentações no Paiol, até domingo), vez por outra, faz alguns shows em casas noturnas do Largo da Ordem, nas quais, nem sempre encontra a platéia atenta à altura de seu talento. Profissional consciente, não se importa e diz suas belas composições. Embora normalmente faça letra e música, de quando em quando encontra parceiros afinados com sua sensibilidade. Um deles é Paulo Vitola, publicitário, poeta e compositor dos melhores desta cidade. Juntos, fizeram uma canção intitulada << A fuga da Gralha Azul >>, que se constitui num verdadeiro manifesto (ou hino) ecológico, que bem poderia ser gravado em compacto e distribuído como brinde de fim-de-ano por alguma reflorestadora ou madeireira, se houvesse alguma grande empresa do setor com diretoria suficientemente aberta a tal projeto. Enquanto a música não ganha gravação, vale a pena registrar sua letra.
<< A Gralha Azul não voa mais
sobre a copa do pinhal
é navio que não tem cais
Na amplidão da Capital
Aonde foi a Gralha Azul?
À procura de outro lar...
Foi pro norte, foi pro sul
Foi voando, foi seguindo seu voar
Só viu planta rasteira no chão
até se cansar de voar
Só viu colhedeira, trator, caminhão
Será que perdeu-se no ar...?
Fez do céu sua gaiola
Sua infinita prisão
Um cantador sem vida
Sem voz e sem coração. >>
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A propósito de Gralha Azul: há axatamente 20 anos, o folclorista e compositor Inami Custódio Pinto, então com uma atividade musical mais intensa, produziu um belo álbum na Copacabana, com a cantora goiana Ely Camargo interpretando não só a música << Gralha Azul >>, mas outras belas canções folclóricas. A primeira edição foi em forma de álbum, capa dupla, várias páginas em cores - num alto investimento para a época. O advogado Carlos Francisco Solheide, então gerente administrativo do jornal << Correio do Paraná >> (que pertencia ao seu cunhado, Alberto Franco Ferreira da Costa), como bom paranaense e apaixonado por projetos musicais, associou-se ao projeto e nele investiu o que tinha e o que não tinha. As vendas não foram o esperado, o Governo do Estado não deu a menor ajuda e durante uma década, o bom Solheide ficou pagando dívidas do projeto. O disco, entretanto, ficou como um dos raros registros da música regional e posteriormente foi reeditado, por conta e risco da gravadora, mas sem a capa-álbum do lançamento original. Hotel, exemplares daquela edição, são valiosas raridades.
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a partir de amanhã, Reinaldinho se apresenta no Paiol - dentro do projeto << Boca no Trombone>, no qual participa também o divertido grupo paulista<< Língua de Trapo >>.
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