Guaraqueçaba para os parisienses
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de agosto de 1977
Há alguns meses, o auditório do Centro do Comércio Espanhol em Paris, foi pequeno para receber centenas de espectadores interessados na palestra do etnógrafo Júlio Alvar, 47 anos, que focalizou durante quase três horas uma comunidade da qual nunca os parisienses ouviram falar - e mesmo poucos paranaenses conhecem: Guaraqueçaba. Alvar, economista, desenhista e etnógrafo, responsável por trabalhos de altíssimo nível, no campo da etnografia, apresentou assim, na França, os primeiros resultados de uma pesquisa que desenvolveu durante quase um ano, no Litoral paranaense. E que, entre nós, continua inédito - assim devendo permanecer ainda por muito tempo.
Em 1972, quando o professor Temistocles Linhares dirigia o Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, teve informações sobre o trabalho de Alvar como etnógrafo com larga experiência em pesquisas de campo. Houve convite para orientar um seminário na UFP, cujos resultados foram tão estimulantes que decidiu conseguir recursos para que o etnógrafo espanhol continuasse no Paraná, desenvolvendo um amplo trabalho de pesquisa em Guaraqueçaba - praticamente a única região do Estado ainda preservada em sua ecologia e mesmo nos valores autóctones de sua população. A pesquisa de Alvar foi desenvolvida em métodos científicos e deveria estender-se também à outras áreas - história, lingüistica, antropologia, etc.
Problemas burocráticos, principalmente relacionados a assinatura de contratos e liberação de recursos, prejudicaram bastante o trabalho de Alvar, que chegou inclusive a passar privações financeiras em Curitiba, pela insensibilidade de alguns burocratas da sexagenária Universidade. Finalmente, acabou retornando a Paris, onde completou seu trabalho - milhares de páginas (datilografadas(, desenhos, mapas, etc. num total de 27 quilos.
Quinta-feira, Júlio passou por Curitiba, tratando com a professora Cecilia Maria Westphalen, diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, das possibilidades de sua pesquisa vir, finalmente, ser editada pela Universidade Federal do Paraná. Ontem, Alvar foi visitar as obras de Itaipu e na próxima semana estará em Porto Alegre, a convite do reitor da UFRGS. Passa ainda por São Paulo, onde o levantamento de Guaraqueçaba será apresentado como modelo de pesquisa num congresso de folclore e, a caminho de Paris, parará ainda em Lima - onde também o esperam novos trabalhos.
Talvez dentro de 10 ou 15 anos os 5 volumes com o levantamento etnográfico de Guaraqueçaba sejam editados pela UFP. Afinal, as edições de instituições caminham a passo de tartaruga, embora ela disponha de um dos mais modernos parques gráficos do Estado.
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