Todos os filmes que Jaime Tavares e João Aracheski, executivos da Fama Filmes, programaram para o Festival Akira Kurosawa (Cine Bristol, sessões às 22 horas, até domingo), são estrelados por Toshiro Mifune, o ator favorito do mais conhecido cineasta japonês. E quase todos são inéditos - ou tiveram exibições praticamente em "circuito fechado" em Curitiba. Após "Trono Manchado de Sangue" (1957, a ser reprisado domingo), "O Anjo Embriagado" (1948) e "O Guarda-Costas" (1961), hoje será projetado "Ralé" (Donzoko), 1958, adaptado do romance de Máximo Gorki, que, há 2 anos, lançado pelo crítico Carlos Eduardo Lourenço Jorge, diretor da Casa da Cultura de Londrina, foi por ele escolhido como o melhor filme daquele ano - apesar de chegar ao Brasil com 21 anos de atraso. Programado por 2 vezes para as sessões da meia-noite no Astor, sempre foi adiado e hoje terá uma única sessão. Amanhã, "Anatomia do Medo", 1955, que trata do terror nuclear e cujo personaagem principal deseja vir morar no Brasil. Sábado será projetado "Cão Danado", 1950. xxx Domício Pedroso é hoje um dos mais competentes organizadores de mostras artístico-didáticas-informativas. Entre setembro de 1973 até março de 1980, já realizou 35 exposições no hall do Badep que transpõe as promoções que normalmente as onerosas entidades culturais realizam. Cada mostra é cuidadosamente planejada por Domício e Leila Pedroso, pesquisada, valorizada com audiovisuais quando possível, com catálogos que estão enriquecendo a bibliografia paranaense. Programas de visitas orientadas, levando estudantes ou grupos de pessoas interessadas, completam o sentido didático desta área - onde se aplica, realmente com aproveitamento, os recursos, aliás, sem os gastos e excessos. A atual mostra - aberta até o dia 13 de abril, "Guaraqueçaba Mar e Mato", com desenhos de Julio Alvar, espanhol radicado em Paris, fez naquele município do Paraná - e editado em dois belíssimos livros-álbuns, graças ao empenho da professora Cecília Maria Westphalen, diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes - é mais um exemplo do que afirmamos. O folheto, quase um pequeno livro, 26 páginas, textos ótimos, fotos e desenhos bem escolhidos, merece ser guardado como material de referência. E o calendário organizado por Domício - e aprovado pelo engenheiro Euro Brandão, presidente do Badep (e também pintor, que fará sua primeira individual na galeria que Vania Viaro vai dirigir), também está excelente: de 7 de maio a 8 de junho, a mostra histórica "Os Poloneses no Paraná". Depois, a mostra de intercâmbio cultural com o grupo baiano, a didática "A Arte da Cerâmica" e a retrospectiva Hermann Schiefelbein. Enfim, se em todos os lugares, houvesse pessoas como Domício e Leila Pedroso, as coisa andariam muito melhor. xxx Dudu Barreto Leite, filha de uma família de tradições artísticas que já chega a quatro gerações, é uma das personalidades mais criativamente inquietas que conheço. Fez teatro, foi diretora de produção de Jean Manzon, na melhor fase daquela empresa, viveu no Exterior, foi proprietária de restaurante em Antonina, lecionou teatro no curso do Guaíra e nos últimos dois anos enclausurou-se em Itajaí, tentando a carreira de industrial. Prejuízos, irritações e aborrecimentos a levaram a se convencer de quem nasceu para a arte, jamais chegará a ter uma gorda conta bancária. Por isso está disposta a aceitar um novo desafio: lecionar história do teatro no Acre, Estado da qual só conhece pelo mapa. "Mas renascer a cada desafio é que faz a gente viver" diz Dudu, que, avó há muitos anos, parece ter descoberto a fonte da juventude, ou então, ter escondido em algum lugar uma versão feminina do retrato de Dorian Gray.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 8

Data: 27/03/1986