E a Editora Universitária?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de maio de 1978
O assunto é antigo, já abordamos várias vezes, mas não custa cobrar mais uma vez do reitor Ocyron Cunha: e a editora universitária?
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Há dois anos, quando assumiu a diretoria do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, a professora Cecília Westphalen, preocupou-se em preparar toda a documentação, organograma e estratégia de funcionamento de uma atuante editora universitária. Observou os exemplos de outras editoras universitárias - principalmente da USP, no Recife e Rio Grande do Sul, idealizou um sistema rotativo, para co-edições com o Instituto Nacional do Livro e editoras particulares e, mais além, conseguiu do Ministério da Educação e Cultura, uma primeira dotação de Cr$ 1.200.000,00, para o Fundo Rotativo da futura Editora Universitária.
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Pois bem! Esse dinheiro está depositado na agência do Banco do Brasil, em Curitiba, desde setembro de 1977, consignado especialmente como "Fundo Rotativo da Editora Universitária da Universidade Federal do Paraná". A papelada toda para a concretização do projeto foi entregue, ainda no ano passado, ao ex-reitor Theodocio Atherino que não quis - ou não teve tempo (ah! eterna desculpa) de transformá-la em realidade. Ocyron, homem de passado editorial (há mais de 20 anos é o representante territorial da Companhia Editora Nacional, campeão de vendas de livros didáticos) assumiu a UFP e, preocupado com mil problemas, também ainda não teve tempo de deslanchar o projeto, embora já tenha anunciado que o primeiro livro a sair, pela EU, será um dicionário de sinônimos do professor Rosário Farani Mansur Guerios, 70 anos, há pouco aposentado do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes.
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Não precisa-se nem do auxílio de uma minicalculadora para se verificar o quanto a Universidade já perdeu com a sua bur(ou burro)cracia, na paralisação de uma importância de Cr$ 1.200.000,00 por oito meses. A desvalorização do dinheiro neste período, motivada unicamente pela falta de agilização dos donos do poder universitário, corresponde, no mínimo, a edição de 5 livros comuns ou, do Atlas Etnográfico do Litoral, que o artista e pesquisador Júlio Alvar, da Espanha, realizou há quatro anos passados, na região de Guaraqueçaba, e que, já concluído, repousa numa das gavetas do gabinete da professora Cecília, sem condições de ganhar forma gráfica. Ou a Atlas do Paraná, trabalho da maior seriedade e importância, elaborado por uma equipe de professores e alunos, também a espera de uma edição.
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Há mais de uma centena de teses, principalmente da área de Ciências Humanas, a espera de edições. Serão estudos que, publicados, terão grande repercussão, pelo enfoque novo e independente de temas atuais (e regionais), além de com sua edição contribuírem para o renome da nossa sexagenária Universidade, que vive, em termos de prestigio nacional e mesmo internacional, graças apenas a competência e dedicação isolada de mestres e pesquisadoras de alguns setores. Não é preciso acrescentar mais nada: o magnífico Cunha tem que reservar um tempo de seu atribulado dia para ver se a Editora ganha forma e usa bem os Cr$ 1.200.000,00 já depositados no Banco do Brasil. Antes que a inflação faça com que esta verba se reduza tanto ao ponto de não servir para cobrir sequer a edição de um almanaque junino.
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