A guerra santa pelas crianças
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de abril de 1985
Para irritação ( e inveja ) dos que se dedicam a fazer teatro infantil em Curitiba, mais uma vez a Companhia Sai Santa está na cidade. Desde o dia 8, terça feira - até o próximo dia 14 - este grupo profissional no Teatro do Sesi, ocupa aquele espaço em tempo integral : com " O Segredo das 7 Chaves ", musical infantil de Marco Apolinário Santana, faz sessões a partir das 8 horas da manhã para poder atender a mais de 12 mil alunos dos colégios Positivo , Santa Maria, Medianeira, Dom Bosco e Martinus - aos quais previamente foram vendidos os ingressos. Nos dias 13 e 14, para o público em geral - e sessões à noite - outra peça esta destinada aos adolescentes e adultos - " Pedro Malasartes ", que Maria Helena Kuhner escreveu com base no anedotário do folclórico personagem.
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Fundada há 12 anos, a Sai Santa é uma empresa que anualmente faz temporadas em 36 cidades do Centro Oeste, Sudeste e Sul. Possuindo invejável infraestrutura - sede própria em Campinas, vários veículos incluíndo um ônibus trailer com ar condicionado e gerador, equipamentos completos de iluminação , sonorização, efeitos especiais e até um video cassete Panasonic, para amostragem de seus espetáculos na fase inicial , age organizadamente. Assim, um de seus sócios, Mauro Roberto Machado, cuida das vendas dos ingressos junto aos colégios, num dinâmico processo de marketing. Tem apoio de uma divulgação - cartazes, catálogo, folhetos, etc, e, sobretudo, há um elenco profisional, com salários fixos e todas as regalias trabalhistas. Em 12 anos, já foram montados 34 espetáculos - dos quais, pelo menos 10 percorrerram o Paraná, com temporadas em Londrina, Maringa, Apucarana, Cascavel e Curitiba.
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Se em Curitiba, as diversas companhias ( sic ) que se dedicam ao teatro infantil de forma tão amadoristica e desorganizada que muitas vezes nem sequer comunicam os espetáculos que estão apresentando, o trabalho da Sai Santa é uma concorrência brutal. Afinal, independente dos méritos dos espetáculos encenados - e eles buscam um bom nível profissional - o grupo paulista não brinca em serviço. Anualmente, traz novas peças e já tem um mercado certo que garante mais 15 mil espectadores em cada temporada de duas semanas - o que é considerável.
Há alguns anos, já houve protestos por parte dos que se dedicam ao teatro infantil em Curitiba contra o " colonialismo " que a Sai Santa impõe. Houve até tentativa de bloquear suas apresentações e impedir que os colégios prestigiem as temporadas . Entretanto é de se perguntar : não seria melhor que os nossos homens de teatro se organizassem e ao invés de peças infantis fazer um sério trabalho de marketing e garantissem assim seu público ?
Ficar acusando os " paulista " ( como o pessoal de Sai Santa
é tachado ) nada resolve e mostra apenas nosso subdesenvolvimento empresarial também na área teatral. Enquanto isto, a Sai Santa cintinuará, anualmente, a preencher aquele espaço que, por incompletência e desorganização, e tão falada " prata da casa " não ocupa.
LEGENDA DA FOTO - Sai Santa : Teatro infantil com bom marketing.
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