Login do usuário

Aramis

Homenagem frustrada

Pelos menos para uma geração de jornalistas paranaenses o nome de Carlos Raimundo Coelho (Salvador, 21/10/1925 - Curitiba, 14/2/77), jamais será esquecido: entre 1961/62, como chefe de redação da sucursal de "Última Hora", que naqueles inflamados anos movimentava a imprensa paranaense, foi mais do que apenas um profissional no comando de uma equipe de jovens e entusiastas repórteres e colunistas, dentro do estilo ágil, liberto e contestador do jornal que Samuel Wainer, 66 anos, havia fundado em 1951. Posteriormente, Coelho voltou a São Paulo e passou a integrar a equipe de várias publicações da Abril, onde inclusive foi o editor do único volume lançado no Brasil do "Guinnes Book of Records". Há 3 anos, retornou a Curitiba, a convite de um de seus antigos comandados, Cícero do Amaral Cattani, então diretor-geral do "Diário do Paraná", e ali tentou, durante vários meses, recriar o espírito, a garra que fez da sucursal paranaense de "UH", no início dos anos 60, uma verdadeira escola de jornalismo. Infelizmente, a morte - esta aventura horrível e suja, que leva os melhores, os muito bons e muito ternos, acabou, inesperadamente, levando também o bom Coelho, dele ficando a saudade, os ensinamentos amigos, a imagem inesquecível do companheiro leal e honesto - mais do que um chefe, um mestre. Neste último fim de semana, sua viúva, dona Fernandina esteve em Curitiba, revendo amigos e parentes que aqui deixou - pois logo após a morte de seu marido, ela voltou a sua cidade natal, Salvador, radicando-se depois, junto com os filhos - Glória Maria, estudante de engenharia; Roberto, estudando Comunicação Social, Carlos Raimundo e Fernando Maurício, em São Paulo. Aos amigos e colegas de seu saudoso marido, dona Fernandina não escondeu uma grande mágoa: o fato do ex-prefeito Saul Raiz ter inaugurado, toque de caixa, no dia 9 de março último, a Praça Carlos Coelho, sem sequer avisar nenhum familiar - mesmo os primos do homenageado que aqui residem. Só a pressa em colher dividendos promocionais e uma aparente simpatia junto aos antigos colegas de Carlos Coelho pode justificar o fato de Saul Raiz - hoje um dos executivos mais bem pagos do Brasil como braço-direito do grupo Klabim, no Rio de Janeiro - ter cometido esta grosseria - que também deve ser creditada a sua assessoria, que não se lembrou de que a viúva e os filhos, desde que avisados, viriam a Curitiba para assistir a homenagem. Emocionada, com lágrimas nos olhos, dona Fernandina diz que da forma com que o fato aconteceu - uma inaguração a toque de caixa, nos últimos dias de mandato, quase que para impedir que o sucessor pudesse fazê-lo, tornou-se tão desagradável que preferia que nada fosse feito. Ela está disposta a escrever uma carta aberta aos jornais, lamentando a desatenção oficial "não apenas para com minha pessoa, mas a meus filhos e a memória de Carlos". Uma reclamação mais do que justa - embora, por modéstia, o próprio Coelho - e quem o conheceu, por certo testemunhara isto, jamais pensasse em ter seu nome em logradouro público. Estimulada por amigos, especialmente Ignácio de Loyola, hoje romancista, contista e jornalista consagrado nacionalmente, autor de "Zero" (já editado na Itália, proibido no Brasil) - e que também foi discípulo de Coelho - reuniu contos inéditos de seu marido, com seu estilo pessoal, jornalísticos, que deverão sair em breve num belo volume. Ocasião em que a Fundação Cultural poderá tentar recuperar, ao menos em parte, a gafe cometida pela antiga administração municipal, convidando dona Fernandina e seus filhos para vir a Curitiba, oficialmente, participar do lançamento do livro. É o mínimo que se poderá fazer!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
03/05/1979

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br