Em lua-de-mel com a vida, Coelho internacionaliza a sua programação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de dezembro de 1990
Antes mesmo de passar a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano ao seu colega Luiz Kaykawa, mais um filho de japoneses que Jaime Lerner inclui em seu primeiro escalão, o professor Manoel Coelho, 50 anos a serem comemorados no próximo dia 25, assumia a direção do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Paraná, na qual já esteve entre 1985/89. Quinta-feira, num espontâneo jantar oferecido pelos 250 funcionários da Secretaria - e com a presença de convidados especiais - Coelho mereceu os maiores elogios pelo muito que realizou na pasta que ocupou até esta semana.
- "Estou em lua-de-mel com a vida", diz Manoel Coelho, ainda mais bem-humorado e feliz do que de costume, satisfeitíssimo em poder retornar ao seu escritório de programação visual e arquitetura - reconhecidamente um dos melhores do país - e a sua carreira de professor da Universidade Federal do Paraná. Realizado agora também como executivo na área pública, deixa um saldo altamente positivo na difícil e desgastante Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano que obrigará seu sucessor a ter muita competência para manter o mesmo nível de competência e, especialmente, encontrar soluções ágeis e criativas como Coelho ali soube implantar nos quase dois anos em que, sacrificando atividades de seu movimentado escritório, se dispôs a colaborar com seu amigo Jaime Lerner para solucionar sérios problemas que existiam na área urbana.
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Manoel Coelho teve que insistir muito com Jaime Lerner para que aceitasse sua demissão - solicitada já há mais de 90 dias. O nosso burgomestre - aliás, mais uma vez em deliciosa viagem internacional, desta vez por três semanas em Paris e arredores - sabia que dificilmente encontraria um profissional de gabarito, prestígio e cordialidade como Manoel Coelho, seu amigo e colega há quase 30 anos. Desde quando veio para Curitiba - e lá se vão 32 anos - Coelho sempre se revelou uma pessoa das mais aplicadas.
Assim fez quando aluno do curso de Belas Artes - antes de ingressar na primeira turma de arquitetura da UFPR, formando-se em 1962. Pouco tempo depois era convidado a lecionar na escola, da qual jamais se afastou. Ocupando cargos diretivos no setor, foi responsável, entre 1985/89, por uma verdadeira reestruturação na área, inclusive consolidando os cursos de desenho industrial e comunicação visual, criados já há 15 anos.
Com uma bagagem que o faz tanto como programador visual como arquiteto, ter reconhecimento internacional - e constantes reportagens das mais importantes (e independentes) publicações confirmam isto, estão projetos que indicam obras com mais de um milhão de metros construídos, em vários estados. Desenvolvendo a comunicação urbana de Curitiba há alguns anos, levou esta experiência para outras cidades, além de como designer ser chamado para trabalhos em obras de dimensão do City Bank, Terminal Rodoviário de Curitiba, Shopping Center Água Verde, Hospital de Clínicas, Impressora Paranaense, entre tantos outros. Assim, não lhe foi difícil criar o belo, simples e funcional símbolo para identificar Curitiba como a capital ecológica: uma folha verde sobre a letra A - em forma de um vértice positivo, "de alto astral". Um trabalho que Coelho idealizou, desenvolveu e ofereceu gratuitamente à cidade, como homenagem ao seu amigo Jaime Lerner - antes mesmo de ter sido convidado para o curso de Arquitetura.
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Casado com Denise, ceramista de méritos, três filhos - o primogênito, Gustavo, como ele (quase arquiteto, no próximo ano se forma) ama tanto a profissão como a melhor música brasileira e o bom cinema (em seus sonhos, se tornar cineasta). Agora, com mais tempo. Coelho já começou a devorar "Chega de Saudade - Histórias e Histórias da Bossa Nova", de Ruy Castro, que o faz viajar aos tempos de estudante, quando era um dos primeiros a reconhecer o valor de João Gilberto, Lyra, se entusiasmar com Vinícius de Moraes e sonhar, musical e eroticamente, com o mito Maysa.
Há pouco mais de um mês, um novo reconhecimento profissional: indicado pela ONU foi convidado pela Prefeitura de Quito para fazer toda a programação visual da capital equatoriana. Mais do que os dólares que o contrato renderá, a satisfação de desenvolver num país latino-americano um trabalho que conhece a fundo - e que com sua experiência será feito em pouco tempo. Enquanto isto, em seu escritório no edifício Arthur Hauer, a frente de uma equipe que mais do que funcionários é formada por amigos - como a arquiteta Márcia Keiko Adnazola e designers Rosane Lapkoski e Maria Tereza do Lago, com apoio de seis auxiliares técnicos, pode se dar ao luxo de selecionar projetos que melhor se ajustem ao seu estilo e visão, numa carreira que, aos 50 anos, o faz um dos maiores nomes de nossa arquitetura.
LEGENDA FOTO - Arquiteto Manoel Coelho, deixando a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano para reassumir a direção do curso de arquitetura da UFP e levar sua competência em programação visual a Quito.
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