O mestre Coelho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de fevereiro de 1977
A semana começou triste para muitos jornalistas. A primeira notícia, ainda na madrugada de ontem, foi brutal e inesperada: o jornalista Carlos Coelho, 52 anos, havia morrido, de enfarte. Ontem, ao lado de seus colegas do "Diário do Paraná", para cuja chefia-de-redação havia retornado há alguns meses, reencontrou-se outra geração de profissionais da imprensa paranaense que, entre 1962/63, na sucursal da "Última Hora", aprendeu muito com as lições do baiano alto, óculos de aros brancos, e que a todos transmitiu muito do que ele sabia da difícil profissão.
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Chegamos à triste época de vermos, a cada semana, a cada mês, morrerem nossos ídolos, nossos conhecidos e, mais ainda, nossos amigos. Há, entretanto, certas pessoas que nos parecem muito longe da morte. Pela sensibilidade, pelo entusiasmo, pela alegria que sabem sempre transmitir. Carlos Coelho era uma dessas pessoas. No curto período que passou em Curitiba, há 15 anos passados, chefiando uma redação de jornalistas criativos mas afoitos, na pequena loja do edifício Asa, onde funcionava a polêmica sucursal da "UH", ensinou muito. Corrigiu falhas, moldou profissionais, despertou vocações. O chefe exigente, o companheiro amigo - descontraído e brincalhão nas saudáveis esticadas onde - oh! Doce pássaro da juventude enfrentava-se as piores batidas e caipiras e, na manhã seguinte, não havia o menor sinal de ressaca. E o fechamento dos malotes da "UH", impressa em São Paulo, era cedo, obrigando a redação a madrugar. Sacrifício sempre grande aos jornalistas acostumados a um trabalho mais livre e criativo - independente de relógios pontos e burocracia oficial.
Um dia Carlos Coelho voltou a São Paulo, ele que era um baiano que sempre preferiu a tranqüilidade das pequenas cidades à poluição do progresso. Logo depois a "Última Hora" acabava no Paraná. E durante mais de 12 anos. Coelho trabalhou na Editora Abril, galgando postos e editando importantes publicações, inclusive o único volume que saiu no Brasil do "Livro Guinnes de Recordes". No ano passado, a convite de um ex-discípulo, Cícero do Amaral Cattani que chegou a direção geral do "Diário do Paraná", o mestre Coelho retornou. Mais magro, mas a mesma atenção, o mesmo sorriso bom e de amigos. Voltou para treinar uma nova geração de profissionais - ao contrário daquela dos anos 60, saída dos cursos de comunicação. E esse pessoal, apesar do pouco tempo de convivência com Coelho, por certo também aprendeu muito. Possivelmente mais do que nos 4 anos do curso de comunicação social.
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Hoje a coluna "Bom Dia" do "Diário do Paraná" sai com o espaço em branco. Uma ausência do texto leve e agradável de Coelho, que na madrugada de domingo, calmante e repentinamente, partiu. Sua viúva, dona Ferdinanda, cumpre agora aos seus últimos desejos: após ser cremado na manhã de hoje, em São Paulo, suas cinzas serão soltas sobre uma praça de Curitiba. Cidade onde ele, apesar dos poucos anos que aqui residiu, muito amou - e na qual deixou uma grande contribuição.
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