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Iara, a olheira na Constituinte

A advogada e atriz Iara Sarmento esteve em Curitiba para, em assembléia geral do Sindicato dos Artistas e Técnicos e Espetáculos no Paraná, prestar contas do que observou em Brasília, nos dois meses em que ali se encontra como observadora daquela entidade junto à Constituinte. Trabalhando uma média de 10 a 14 horas por dia, na tentativa de acompanhar o trabalho das diferentes comissões, Iara é uma das cinco profissionais que no Distrito Federal representam a classe dos artistas e técnicos em artes cênicas, através de suas entidades. xxx Iara, que há anos desenvolve trabalho no SATED/PR tem boa formação jurídica. Advogada - foi uma das primeiras de sua turma, há 25 anos passados, na Federal, chegou a prestar exames no Instituto Rio Branco, pois pretendia seguir a carreira diplomática. Entretanto, voltou-se ao teatro e, nos anos 70, aqui desenvolveu com Oracy Gemba o excelente trabalho do grupo Momento, com montagens marcantes. Posteriormente, teve uma experiência na secretaria da justiça, como assessora do deputado Túlio Vargas - quando este ocupou aquela pasta e, por último foi diretora de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra, quando sofreu a maior agressão de sua vida profissional. Como, corajosamente, levantou questões importantes em relação a política desastrosa do infeliz secretário do governo José Richa, foi despedida em abril de 1985, quando estourou a maior crise cultural no governo anterior. xxx Iara Sarmento encontra-se agora em Brasília, onde em companhia de três colegas - Lígia de Paula Souza (São Paulo), Luiz Paixão (Minas Gerais), e Eduardo Cabus (Associação Nacional dos Produtores de Artes Cênicas), tem se mostrado vigilante em relação a que a futura Constituinte traga artigos importantes em defesa dos profissionais de espetáculos. Entretanto, Iara se mostra um pouco pessimista: - "O interesse pela área da Cultura por parte dos Constituintes não é nada alentador. De qualquer forma, estamos lutando com unhas e dentes para que as nossas propostas sejam aceitas". O "Correio Brasiliense"dedicou páginas de abertura de seu caderno cultural a entrevista do jornalista Alexandre Ribondi com Iara Sarmento, no qual ela discute os problemas dos artistas e repete que a questão não está merecendo a atenção devida dos constituintes. Eis uma parte de suas declarações: - "Podemos ver que a cultura não está sendo encarada com a importância que efetivamente tem. A cultura é a vida do país, são as manifestações populares até o hábito de tomar cafezinho. Cultura refere-se à organização do país. A arte, como expressão da cultura, tem também sua importância fundamental. O desenvolvimento cultural de um povo está ligado ao tratamento que ele dá a arte em suas várias manifestações. O que temos observado, principalmente na Subcomissão de Educação, Cultura e Esporte, é que os constituintes não tem acompanhado com grande interesse a questão das artes. Na grande maioria das vezes, as sessões têm ocorrido com 50% dos membros. O tempo dedicado também é curto. Sabemos que a educação é uma questão importantíssima, mas o assunto ficou sendo debatido das 13h30min até as 21h30min. E a cultura só mereceu, no final da noite, apenas uma hora e quinze minutos, para sermos exatos. Apesar disto, há o empenho de alguns constituintes como Otavio Elisio, Florestan Fernandes, Marcia Kubitschek e Chico Humberto". xxx Em relação a Lei Sarney, Iara também se mostra descrente: - "Tem sido um engodo. A iniciativa privada não investe, mesmo que o trabalho de alguns órgãos oficiais tenha algum sucesso. O empresário dá preferência ao órgão público em detrimento dos grupos independentes que, em princípio era a quem a lei pretendia beneficiar. O Estado diminuiu com bastante significado o seu orçamento para a área cultural, contando com o apoio da inciativa privada, mas isso não está acontecendo". xxx E o que significa ser artista no Brasil? Iara responde: - "É a profissão dos loucos. A gente acredita que quando você tem talento e vocação, você tem vontade de participar, de trazer à sociedade questões para a sua reflexão. É uma profissão que oferece alegrias, tristezas e decepções, justamente por esta luta insana do dia-dia para ter condições de trabalhar, de fazer bons espetáculos. Ser ator e atriz neste país é uma das profissões mais difíceis."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
18/06/1987

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