Joel Silveira, profissão repórter
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de março de 1986
Dentro da história do jornalismo brasileiro, Rubem Braga e Joel Silveira são nomes dos mais conhecidos e admirados. Dromedários da imprensa dos anos de ouro, companheiros da cobertura da presença da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, Rubem e Joel, como bons repórteres, jamais deixaram o "front" da notícia. Profissionais antes de tudo, descartaram de fazer do jornalismo trampolim para carreiras políticas e empresariais (como se tornou comum nas gerações que se seguiram). O Capixaba Rubem, 73 anos, e o sergipano Joel Silveira, 68, continuam no campo da batalha da informação.
Com mais de meio século de atividades na imprensa, Rubem e Joel, naturalmente, têm muito o que contar. O "Sabá da Crônica" - como Rubem é chamado por seus amigos, depois de ter relançado pela Record os seus clássicos livros de crônicas ("Ai de ti. Copacabana", "O Conde e o Passarinho", "Um pé de Milho" etc.), rememora agora seus tempos de guerra, através do delicioso "Crônicas da Guerra da Itália" (324 páginas, Cz$ 69,90), reedição revista do volume lançado originalmente em 1945 ("Com a FEB na Itália") e relançado em 1964 ("Crônicas de Guerra"). Nesta terceira edição, Rubem acrescentou vários títulos escritos depois da guerra, entre eles a reportagem feita para a revista "Realidade" ("Voltando à Itália 25 anos depois"), uma entrevista ao "Jornal da Tarde", de São Paulo, no 30º aniversário da Campanha na Itália e o artigo feito para a Revista do Exército Brasileiro, por ocasião do centenário do nascimento do marechal Mascarenhas de Morais.
Nas diversas crônicas-reportagens, Rubem relembra oficiais, sargentos e mesmo praças da FEB, citando nominalmente muitos paranaenses - como os então tenentes Adelio e Ítalo Conti, Felipe Aristides Simão, entre outros que estiveram na Itália. Mais do que os fatos descritos, é o estilo saboroso, a cordialidade com que Braga sempre colocou em seus textos que fazem desta uma reedição marcante.
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Há três anos, Joel Silveira já havia reunido seu diário de guerra em "A Luta dos Pracinhas", num trabalho em colaboração com Thassilo Mitke. Agora, Joel publicou uma antologia com reportagens do tempo de paz - em forma de memória, em "Tempo de Contar" (Record, 418 páginas, Cz$ 82,90), parte de uma trilogia em que deseja relatar tudo que viu e viveu.
Referindo-se a Joel, 67 anos, 47 de jornalismo militante, ex-correspondente de guerra, contista, tradutor, memorialista, romancista - e antes de tudo invejável testemunha de acontecimentos que, no Brasil e no Exterior, marcaram este século -, o também jornalista e hoje governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira, disse: "Joel é a coisa mais antiga do Brasil". Já o poeta Manuel Bandeira o definiu como "o mais destacado repórter de sua geração".
Lendo-se agora, "Tempo de Contar", com o estilo, a graça e a vivacidade que o caracteriza, temos realmente uma panorâmica máquina de tempo conduzida pelo repórter narrando seu encontro com Getúlio Vargas, a conversa com Jango depois do suicídio do presidente, as confissões de Gilberto Freire, as conversas com cangaceiros de Lampião, entrevistas com Di Cavalcanti, Portinari, Monteiro Lobato, Manuel Bandeira, Dom Hélder Câmara e Graciliano Ramos. Descrições de viagens internacionais e clássicos da reportagem como "1934: eram assim os grã-finos em São Paulo" e a "A 1002ª noite da Avenida Paulista", que, publicadas na revista "Diretrizes", há 43 anos, provocaram polêmica e protestos cujos ruídos se ouviram por décadas.
Um pequeno (grande) livro para ajudar a entender um assunto diariamente discutido nos jornais e televisão, com prós e contras, mas pouco conhecido na verdade: a Teologia da Libertação. Em sua didática série "Como Fazer", a Vozes/IBASE lança um livro sobre a Teologia da Libertação, justamente de autoria de Leonardo e Clodovis Boff, freis, irmãos e teólogos que em 141 páginas deste volume de bolso se propõem a explicar o que seja (e como fazer) a Teologia da Libertação: quais as questões de fundo que ela aborda (opressão, violência, marginalização), como a fé cristã significa fator de libertação social e integral, com que método se une a fé e política, evangelho com a luta pela justiça social e quais são as principais teses e conteúdos desta teologia e que práticas concretas ela implementa. Por fim situa-se este modo de pensar a fé, no cenário mundial da Igreja e da sociedade. Na conclusão apresenta-se o sonho de uma nova humanidade de libertos que os cristãos comprometidos querem ajudar a construir.
Pela mesma Vozes, editora que devido à sua abertura dos setores mais conservadores do clero, saem pela coleção "Teologia e Libertação" três volumes importantes: na série "Experiência de Deus e Justiça", "A memória do povo cristão", de Eduardo Hoornaert. Já na série III - "A Libertação na História" - temos "Escatologia Cristã", de João B. Libânio e Maria Clara Bingemer, e "Antropologia Cristã", de José Comblin. Ainda dentro de uma linha de religiosidade, a Vozes publica "Frei Franciscano e o Movimento Franciscano", em que David Flood apresenta Francisco de Assis e seu movimento, dando um acento especial à ordem que, por vezes, fica um tanto na sombra, na tentativa de realçar os traços da vida e da personalidade do Fundador.
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O lançamento do mais recente romance de Françoise Sagan ("O demônio da guarda", 1985) fez crescer o interesse dos leitores mais jovens pelo livro que, há 33 anos, revelava a então adolescente escritora para o mundo: "Bom dia tristeza". Aparecendo na França em 1953, e dois anos depois nos EUA. "Bonjour, tristesse" seria filmado em 1957 por Otto Preminger, com David Niven e Deborah Kerr - lançando Jean Seberg. A prosa contida, seca e austera de Sagan em "Bom dia, tristeza" surpreendeu os leitores. Fortemente influenciada pelas primeiras obras de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Sagan criou personagens cujas vidas são marcadas pela solidão, por um sentido agudo da personagem do tempo e especialmente pelo tédio. Em tradução de Sieni Maria Campos, a reedição de "Bom dia,tristeza" por certo aproximará esta obra de muitos leitores. Mas uma questão se pode fazer: será que as idéias que os jovens do pós-guerra entenderam como revolucionárias ainda podem entusiasmar a uma geração bem mais liberta e despreconceituosa que a dos anos 50?
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E dos mestres da educação na Inglaterra, Herbert Read busca resposta a questões das mais importantes a pais e educadores em "A redenção do robô - meu encontro com a educação através da arte" (Summus Editorial, 160 páginas, Cz$ 53,20). Read, autor de vários livros sobre educação artística, preocupa-se em estabelecer as relações entre a educação e a arte, de que modo o pensamento estético, a reflexão sobre a obra de arte, em seus variados aspectos, e em suas constantes mutações ao longo dos séculos pode repercutir na educação tal como é vivida e praticada em pleno Século XX. Read entende que "o processo de renovação, numa civilização, é realizado pelos artistas, e é por isso que a vitalidade de uma civilização depende sempre do funcionamento livre do processo estético. É por esse motivo que uma civilização sem arte perece e uma civilização tecnológica perecerá, a menos que possa arranjar uma saída, ou melhor, uma entrada, para o espírito formador da imaginação". Todas as idéias colocadas por Read são procedentes, inteiras, bem fundamentadas, remetendo sempre a uma bibliografia clássica e permanente. Com competência e clareza, expõe seus pontos de vista e convence o leitor.
LEGENDA FOTO 1 - Joel Silveira, contando a vida.
LEGENDA FOTO 2 - Leonardo Boff
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