Jorge é agora Benjor e muito internacional
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de setembro de 1989
Aos 47 anos - completados no dia 22 de março, Jorge Duílio Lima Menezes resolveu mudar de nome: ao invés de Jorge Ben é agora Jorge Benjor. E não tem nada de cabalismo nisto (ao contrário da funqueira Sandra "De" Sá). É uma simples razão prática: como há muito vem fazendo carreira internacional (já vendeu cerca de 10 milhões de discos na Europa e Japão, com cinco LPs em vinil e CDs em vários países) era confundido na Europa e Japão com o guitarrista George Benson. Pior: até grana dos direitos autorais que lhe pertenciam foi depositada na conta do americano por engano das sociedades arrecadadoras (especialmente da música "Mas que Nada", confundida pelos gringos com "Mascarade", de George Benson).
Discreto, sem a máquina autopromocional dos baianos, Jorge Ben tem uma carreira das mais interessantes: filho de um carnavalesco carioca, pandeirista do bloco Cometas do Bispo e mãe etíope (Sílvia Saint Ben Lima), aos 13 anos, Jorge já tocava pandeiro, aos 15 cantava no coro da igreja do Colégio Diocesano (onde fez o ginásio) e aos 18 anos, quando servia o Exército, a mãe lhe deu um violão e um método para principiantes. Tocando e cantando bossa nova, rock e twist, em 1961 estava no Beco das Garrafas e em 1963 o organista Zé Maria incluiu em seu LP, duas de suas composições - "Mas que Nada" e "Por Causa de Você". Bastou isto para ganhar um contrato da Philips e estrear no LP "Samba Esquema Novo". Em 12/07/1964, uma parceria com Toquinho, "Chove Chuva" (inspirada numa seqüência do filme "Este Mundo É Meu", de Sérgio Ricardo) era gravada ao vivo no Teatro Paramount e incluída em seu terceiro LP ("Ben É Samba Bom"), se tornava um sucesso nacional.
Nestes últimos 25 anos, Jorge fez uma carreira sólida - sabendo absorver a sua porção afro, eletrificando o samba ("Sacudin", 1964), estabelecendo pontes com o continente negro ("Brasil-África", que Gilberto Gil considera um elepê definitivo) e reunindo também suas doses de misticismo, como em "Os Alquimistas Estão Chegando" e "Tábua das Esmeraldas".
Dono de um suingue contagiante, um dos poucos compositores a se voltar ao futebol como temática ("Fio Maravilha", que Maria Alcina defendeu no FIC - 1972, foi um dos maiores sucessos), Jorge Ben encontraria também um espaço internacional. Especialmente nesta década, em que tanto na França como nos EUA abriram-se as portas para o som do terceiro mundo (David "Talking Head" Byrne, no LP "Beleza Tropical", incluiu duas músicas de Ben - "Umbarapuma" e "Fio Maravilha"). Portanto, a WEA, astuta como sempre, deve ter planos internacionais para Benjor, de quem lançou há pouco o novo elepê, no qual o compositor-cantor incorporou o baticum da "world music", adicionou reggae, rumba, "juju music" e até dixieland. Afinal, Ben sempre foi um cozinheiro habilidoso de ritmos - motivo para muitas críticas, mas que assumiu sempre.
Benjor agora vem sem a banda do Zé Pretinho mas com músicos internacionais: o guitarrista senegalês King Sunny Adé; dois dos componentes da antiga banda de Gil Evans (Danny Gottlieb e Chris Hunter) e o tecladista Delmar Brown (que já trabalhou com Sting), sem falar no percussionista brasileiro Paulinho da Costa, há anos radicado nos EUA. Outros músicos participam do disco - como João Barrone (Paralamas do Sucesso), enquanto dois componentes do mesmo grupo, Bi Ribeiro e Herbert Vianna participam do reggae "Homem de Negócios". Na produção, ao lado de Liminha, está Nando Reis, dos Titãs - e outro do mesmo grupo, Arnaldo Antunes, fez a letra de "Cabelo" (faixa que só entrou no cassete).
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