Kubrick: a odisséia do talento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de maio de 1976
A revisão de "2001": Uma Odisséia no Espaço" (cine Vitória, 4 sessões), oito anos após a sua realização, permitirá ao espectador que já conhece esta obra, reavaliar as proposições de Stanley Kubrik, que tanto impacto causaram quando da estréia do filme no Brasil, em 1969. Science-fiction sem raios de morte ou monstros de outros planetas, "2001" foi um dos filmes mais importantes da década de 60 - e, no nosso modesto entender, da própria história do cinema.
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Produzido nos estúdios da MGM na Inglaterra, com um imenso orçamento, "2001" compensou o investimento, pois até 1974 já havia rendido US$ 50 milhões, dos quais US$ 27 somente nos Estados Unidos. Relançado no ano passado, em vários países - e chegando agora ao Brasil - por certo ampliará ainda mais o faturamento um filme inteligente, de certa forma incompreensível ao público acostumado a roteiros lineares, mas de profundo significado para nossos dias.
Kubrick, 49 anos, ex-fotógrafo das revistas "Look"e "Life" (onde foi colega do americano-brasileiro David Drew Zing), desde sua estréia no cinema, com um curta-metragem (A Day of the fight", 49), impressionou pela linguagem, nova e, utilizando seus conhecimentos de fotografia, estraordinária força das imagens. Após um segundo curta-metragem ("Flyng Padre", 1951), estrearia no longa metragem com "Fear and desire"(53, nunca exibido no Brasil). A partir de "Killer's Kiss" (A Morte Passou Por Perto, 55), uma demolidora história do mundo do box, passaria a ser respeitado como um dos mais criativos cineastas contemporâneos, em vários gêneros: o policial em "O Grande Golpe" (The Killing 56), a denúncia do militarismo inconsequente ("Glória Feita de Sangue - Paths of glory", 58, relnaçamento em julho no Cinema1), na revisão crítica e social da história ("Spartacus", 1960, do romance de Howard East, relançamento também programado para breve); o comportamento sexual "Lolita", 1962, do romance de Vladimir Nabokow) e o terror atômico ("Dr. Fantástico/Dr. Strangelove or how I Learned to stop worrying and love de bomb", 1963).
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A produção de "2001: A Space Odissey" começou em 1965 e só 3 anos depois o filme foi lançado, valendo aplausos internacionais, prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (a Kubrick e ao seu co-roteirista, o cientista Arthur C. Clarck) e, sobretudo um imenso interesse do público. Com um elenco de nomes pouco conhecidos - Keir Dullea, Gary Lockwood, Daniel Richter etc. - o grande "personagem" deste mágico SF é a tecnologia do admirável (mas assustador) mundo novo, cada vez mais próximo, incluindo o grande vilão, o computador HAL (com a voz do ator Douglas Rain). Poucos filmes merecem tanto serem (re)vistos como esta "Odisséia no Espaço", em boa hora relançado neste anos em que voltarão também "Spartacus" e "Glória Feita de Sangue", ao mesmo tempo que o último filme de Kubrick, "Barru Lindon", ja tem data marcada para estrear em Curitiba, em lançamento nacional. Pena apenas que seu mais vigoroso e político filme, "Laranja Mecânica", continue, irremediavelmente, proibido.
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Falando em cinema de qualidade, uma dica: somente hoje, às 20: 30 horas, na sala de exibição Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro, será exibido o úlgimo filme interpretado por Humphrey Bogart (1899-1957), "Trágica Farsa"(The Harder They Fall, 1956, de Mark Robson), uma denúncia do submundo das lutas de box, exibido uma única semana em Curitiba, há 19 anos, no saudoso cine Palácio. Se a cópia conseguida para essa sessão, estiver em razoável estado é um programa imperdível.
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