A lambada que percorre o mundo no vídeo de Guido
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de dezembro de 1990
Assim como a lambada só chegou ao Brasil depois do marketing anglo-americano que entre 1988/89 a transformou em modismo no eixo Paris-Nova Iorque, também visualmente o aproveitamento desta dança erótica chegou em produções de terceira categoria realizadas a toque de caixa e que após lançamentos em circuitos comerciais já se encontram à disposição em vídeo por várias distribuidoras. O apelo comercial desta exploração da lambada é tanto que improvisaram-se até algumas produções nacionais, estreladas por cantrizes como Elba Ramalho e Tânia Alves, que tentam disputar a faixa com as produções chegadas dos Estados Unidos.
Entre tanto joio, sem o menor significado cultural em termos de registro de um novo ritmo, e, especialmente, modismo, há felizmente um trabalho sério e digno: "Lambada em Porto Seguro", de Guido Araújo, que após concorrer entre os curtas 35mm no recém encerrado VI RioCine Festival, está entre os 13 curtas brasileiros que disputam a partir do dia 4 as premiações do Festival do Cinema Livre de Havana.
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Quem conheceu Guido Araújo não se surpreende ao saber que ele investiu suadas economias de seu salário de professor de cinema da Universidade Federal da Bahia para realizar seu documentário de minutos, que busca dar uma interpretação histórica-sociológica da lambada, com suas origens em Porto Seguro.
Com mais possibilidades de ter mercado no Exterior do que no Brasil - especialmente porque com a total desestruturação do cinema brasileiro foi eliminada a reserva de mercados para curtas nos circuitos comerciais - o filme de Araújo é simples, objetivo e direto em sua linguagem - mostrando que, a exemplo do maxixe, a dança excomungada nos salões do Rio de Janeiro no início do século pelos seus apelos lascivos em termos coreográficos, a lambada também sofreu discriminações - e só com esta mudança de comportamento de fim de milênio pode ser aceita em sua totalidade. Só que Guido vai às raízes, não ficando no superficial - ou seja, na exploração do ritmo como modismo europeu totalmente descaracterizado.
Com uma belíssima fotografia de Antônio Luís Mendes, montagem de Manfredo Caldas e narração de Leila Richers, "Lambada em Porto Seguro" teve a participação especial do cantor Gerônimo, um dos intérpretes mais populares da Bahia. Graças ao apoio do Portobello Praia Hotel, uma edição (limitada) em vídeo, já está circulando com versões em português e inglês.
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