O cineasta Guido Araújo, professor de cinema da Universidade Federal da Bahia e organizador das hoje consolidadas Jornadas de Curta-metragens, veio diretamente da Venezuela - onde foi júri no festival de cinema em Merida - para Curitiba, no último fim de semana. A convite de seu amigo Francisco Alves dos Santos, conservador da Cinemateca do Museu Guido Viaro, Guido trouxe os filmes premiados na última (a 13ª) Jornada, realizada agora em Cachoeiro. E, no domingo, mostrou, três de seus filmes: os documentários "Exilados na sua própria terra" (1982, realizado para uma organização religiosa inglesa), "Raso da Catarina, Reserva Ecológica" e "Ilhas de Esperança", estes produções de 1984. xxx Infelizmente, apenas um reduzido número de espectadores soube aproveitar a oportunidade de conhecer o que de novo (e bom) existe no campo do documentário e filme de ficção, de curta e média duração. Por exemplo, o emocionante filme sobre "Patativa do Assaré", cantador cearense revelado nacionalmente graças a dois elepês produzidos por Fagner e que tem uma obra imensa - focalizado num honesto filme do cineasta cearense Jefferson de Albuquerque. xxx O mundo dos punks da periferia, em seu lado social, é mostrado no documentário dos paulistas Sarah Yakni e Alberto Grieco. xxx Paulo Leminski e Alice Ruiz chegaram atrasados na exibição do curta em que são intérpretes: "Assaltaram a Gramática", 84, de Ana Maria Magalhães. Um documentário de linguagem tão demolida como a poesia dos quatros autores (todos editados da Brasiliense) focalizados: Leminski, Waly Salomão, Chacal e Francisco Alvin. Um filme que deveria ter sido lançado em complemento ao "Rei da Vela" e que merece ser programado, ao menos uma semana, no cine Groff (onde hoje e amanhã, o público tem oportunidade de conhecer um dos dez melhores filmes do ano: "Ensaio de Orquestra", de Fellini). xxx Falando em Leminski, ele estava eufórico com a página que seu novo livro, o romance "Agora é que são Elas", mereceu da "Folha de São Paulo". Antes mesmo de sair, este livro escrito por encomenda do editor Caio Graco Prado, já ganha um grande destaque. xxx Como o casal Leminski-Alice Ruiz se considera uma espécie de "Pepeu Gomes/Baby Consuelo" das letra tupiniquins, ela também está em evidência: a mesma Brasiliense lançou seu livro de poemas, "Pelos Pelos". xxx Na cidade, feliz pela lembrança de merecer uma retrospectiva na Cinemateca do Museu Guido Viaro, no próximo fim de semana, o cineasta Sérgio Bianchi, que vem colecionando prêmios nos festivais nacionais com seus filmes "Mato Eles!" e "Divina Previdência". Para fazer seu segundo longa-metragem - "Romance" - está a espera de um milagroso financiamento por parte da Embrafilmes. xxx Trabalhar meio século para o Leão da Receita Federal é motivo para uma justa comemoração: por isto mesmo "O Debate", semanário que José Maria Orreda edita em Irati, dedicou matéria de primeira página a homenagem recebida por Antônio Bini, controlador da Receita Federal em Irati, e que por 50 anos de serviços ao Ministério da Fazenda ganhou uma medalha de ouro. xxx Falando em Irati, um poeta daquela cidade, Ford Castro Chamma, foi um dos premiados na Bienal Nestlé de Literatura Brasileira neste ano. Já José Maria Orreda, agora está publicando o segundo volume de sua obra "Aleluia". xxx A desorganização da Alitalia não faz apenas vítimas brasileiras, como ocorreu recentemente com o estimado marchand-de-tablaux Nelio e, há alguns anos, com o professor constantino Comninos. Até mesmo nomes famosos como o cineasta Franco Zeffirelli são prejudicados. xxx Os jornais noticiaram: Zeffirelli era aguardado na manhã de 4 de outubro no Galeão, para participar de pré estréia do lançamento do seu filme-ópera "La Traviatta" (e também do álbum-duplo, com a trilha sonora editada pela WEA) e não chegou: só após esperar quase cinco horas no aeroporto de Fiumicino, em Roma, foi informado de que o vôo (da Alitalia, naturalmente) estava atrasado nada menos do que 18 hora. Resultado: foi para casa e, possivelmente, só voará novamente pela Alitalia se não tiver outra opção. xxx A bonita atitude do deputado Roberto Requião ao não revidar a agressão que sofreu do idoso (mas violento) deputado Gabriel Manoel, lhe valeu um título: É o mais novo cristão autêntico, já que ofereceu a outra face ao inimigo. Mesmo os que discordam das posições irônicas de Requião, acham que ele só ganhou nesta briga. E o deputado Gabriel Manoel continua em primeiro lugar no ranking dos gunfighters parlamentares. Até que encontre um Billy "The Kid" sem a mesma generosidade de Roberto. xxx Já a vereadora Rosa Maria Chiamulera assumiu totalmente o novo nome que lhe deram: "Malu(f) Mulher". No último fim de semana, a tranqüila Rosa distribuiu mais de 100 botões com a imagem de seu ídolo presidenciável. E faz questão de esclarecer que apesar das intrigas da oposição, seu nome não está ainda na relação dos ministeriáveis. xxx Eddy Antônio Franciosi, editor da revista "Indústria", continua dando mostras de como se faz com grande categoria uma publicação dirigida e, aparentemente, em setor árido: o número de "outubro da publicação da Federação das Indústrias do Estado do Paraná traz um belíssimo encarte especial de oito páginas intitulado "Este admirável instrumento chamado telefone" que pelo seu sentido didático e de pesquisa mereceria ter um reprint de milhares de cópias para ser distribuído nas escolas. Como a Telepar é a segunda empresa de economia mista mais rica do Estado, poderia comprar o copyright e promover esta edição. Aqui fica a sugestão... xxx Hoje, a partir das 19 horas, na Cinemateca do Museu Guido Viaro, alguns fragmentos de um clássico que Sergei Eiseinstein (1898-1948) realizou há exatamente 60 anos: "A Greve". Faz parte do seminário "Filme & Psicologia", que o crítico alemão Hans-Joachin Schlegel iniciou ontem. Naturalmente, mais uma promoção do Goethe Institut.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 20

Data: 13/11/1984

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