Livro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de março de 1974
Astuta como sempre, a Bloch não poderia escolher melhor ocasião para editar "Agosto-1914"que Paulo Bezerra traduziu diretamente do russo e que apareceu nas livrarias quase simultâneamente a expulsão de seu autor, Alexandre Osaevich Soljenitsin (foto), 55 anos, da União Sovietica último ato do longo drama vivido por este escritor, em sua carreira de dissidente número 1 da URSS. Prêmio Nobel de Literatura em 1970, que ele não foi receber em Estocolmo, temendo que as autoridades soviéticas não permitissem o seu retorno a Russia, Soljenitsin há muitos estava às voltas com a política oficial) da URSS, mas a situação chegou ao ponto máximo após a publicação de "Arquipélago Gulag"(no Brasil, divulgado pelo "O Estado de São Paulo"), estarrecedor documentário sobre torturas nos campos de concentração. Há 12 anos, por coincidência, sob as benções do primeiro Nikita Kruschev, Soljenitsin projetou-se internacionalmente com um pequeno romance, "Um Dia na Vida de Ivan Donisovitch", impressionante relato sobre as misérias e os maus tratos de prisioneiros num campo de trabalhos forçados na Sibéria. Mas logo as autoridades soviéticas, verificaram que haviam aberto uma perigosa válvula de segurança do regime e trataram de congelar a explosiva produção literária de Soljenitsin", como acentuou a revista "Veja", há 3 semanas, na reportagem da capa dedicada da capa dedicado ai desterro do escritor. Assim, "O Primeiro Círculo", em que narrava a sua passagem por Mavrino, e depois "Pavilhão de Cancerosos", uma tocante narrativa sobre o seu internamento e cura de um câncer no estômago em 1950, numa clinica de Tashkenf, foram compulsoriamente engavetados pela Gavit, a temível censura. Para diculgar seus romances, recorreu a edição clandestinas, no Exterior - onde obteve extraordinária repercussão. Ainda citando a Veja: << Depois da conquista do Prêmio Nobel, em 1970 sua situação tornou-se particularmente complicada, vivendo de favor na garagem da propriedade de seu amigo intimo, o violinista Mstilav Rostripovich, nos arredores de Moscou, Soljenitsin já não podia contar com os direitos autorais de << Um Dia na Vida de Ivan denisovitch >>, que haviam sido cortados. E encontrava dificuldades quase insuperáveis para receber pequenas parcelas das 400.000 coroas suecas (cerca de 480.000 cruzeiros) , do Prêmio Nobel que não quis ir receber em Estocolmo, temeroso de que, uma vez fora do país, não o deixassem regressar >>. No Ocidente há três semanas, em Zurich, após uma rápida passagem pela aldeia de Langenbroich, na residência do escritório Heinrich Boeli, Premio Nobel de Literatura-73 aguardando que o Governo russo libere sua família - sua segunda mulher. Natalia Svetlova, 32 anos, e seus filhos Yermolai 2 anos Igmat 16 meses e Stepan 5 meses - para se encontrarem com ele Soljenitsin permanecerá no noticiário dos jornais por algum tempo. O que faz subir na lista dos best-seller seus romances anteriormente lançados ao qual se soma agora este impressionante << Agosto 1914 >> comparado por muitos a << Guerra e Paz >> e que é relato da companhia russa na I Guerra Mundial. Com 534 páginas, é um dos lançamentos mais sérios feitos pela Bloch nos últimos meses - que ajuda a compreender melhor a personalidade fascinante deste trágico escritor-heroi de nossos dias.
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