Madame, votre nom est Alliance
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de outubro de 1986
Rigorosa com seus alunos, irreverente e satírica, madame Hélène Garfunkel foi até a sua morte, a 12 de agosto de 1982, aos 82 anos (nasceu em Paris, a 22 de maio de 1900) a própria imagem da Aliança Francesa no Paraná. Embora não tenha sido a fundadora da instituição - cuja história inexiste na própria instituição e que agora deverá ser pesquisada - foi com a vinda de madame Hélène para Curitiba, a partir de 1949, que a entidade ganhou os contornos de uma atuante representação da cultura francesa.
Milhares de alunos passaram pelas classes de madame Hélène - inicialmente na Rua Monsenhor Celso, depois no 7º andar do Edifício Santa Júlia, mais tarde para o Edifício Maringá e, depois de 1968, no Edifício Rio Grande do Sul, na Rua Comendador Araújo - de onde a Aliança transferiu-se, finalmente para a sede agora sendo inaugurada.
Mais de 200 jovens ganharam, graças a madame Hélène e o aprendizado do francês, a chance de estudarem em Paris, abrindo assim as suas fronteiras culturais. E, entre tantos que puderam realizar o sonho de estudar na França, estão pelo menos 50 pessoas que hoje ocupam posições de destaque na vida administrativa e política não só do Paraná, mas também do Brasil - incluindo o ex-prefeito Jaime Lerner (agora candidato a vice-governador) e o ex-ministro Carlos Rischbieter, que não só foi aluno de madame Hélène, como casou com sua filha, Maria Francisca - a Franchette.
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As homenagens que madame Hélène e seu marido, o artista Paul Garfunkel (1899-1981), receberam, em diferentes ocasiões - título de cidadania honorária de Curitiba, em março de 1962, para madame Hélène, Cidadão Honorário do Paraná, para Paul Garfunkel, em 28 de abril de 1977 - foram apenas parte do muito que a cidade deve a este casal que, chegando ao Brasil, em 1929, aqui desenvolveu um trabalho admirável de aproximação com a França. Assim, ao se falar em Aliança a imagem impossível de ser esquecida é a da madame Hélène, corrigindo a pronúncia de seus elèves, rigorosa nos ditados e procurando transmitir um pouco da cultura de seu país - tarefa hoje a cargo de um corpo de 17 professores que se distribuem em turmas da manhã à noite, orientando 1.600 alunos.
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Com uma nova sede, num projeto simples e feliz dos arquitetos Cláudio e Vera Bergônia de Orte, painel criado pela artista plástica Margareth Born, a Aliança Francesa deve deslanchar, agora, uma nova programação que ultrapasse apenas o campo pedagógico.
Para tanto, a presidenta da instituição mantenedora, Eunice Pombo, e os executivos franceses - Delos e Ravel - estão elaborando bons projetos. Só na área cinematográfica, há muito a fazer, inclusive podendo trazer dezenas de filmes inéditos, através da Unifrance, que vindo para o Brasil, têm suas exibições restritas ao Rio de Janeiro e, quando muito, São Paulo. Ainda há 3 semanas, o Cine Clube Botafogo, RJ, promoveu um festival de filmes inéditos franceses - produções recentes (1983/86), que, a não ser com a agilização da Aliança - inclusive fazendo exibições nas salas da Fundação Cultural (que dispõe de equipamento em 5mm), jamais serão conhecidos entre nós.
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