Agora a velha Aliança ganha a sua nova sede
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de outubro de 1986
Se hoje é o Goethe Institut quem mais movimenta, em promoções das mais diversas, a vida cultural e o inglês espraiou-se dos pioneiros tempos do Inter-Americano no edifício Moreira Garcez para mais de 50 cursos, de maior ou menor competência, o fato é que a Aliança Francesa continua a ser uma espécie de entidade-elite na vida cultural desta cidade. É bem verdade que dos pioneiros tempos em que a então jovial madame Hélène Garfunkel tinha os primeiros alunos num modesto conjunto da Rua Monsenhor Celso, 199 - esquina com a Marechal Deodoro, a sede de 3 andares, que está sendo oficialmente inaugurada neste mês, na Rua Prudente de Morais, 1101, muita coisa mudou.
O francês deixou de ser aquela língua indispensável na formação cultural de toda jovem de boa família - substituída pela praticabilidade comercial do inglês. Os filmes franceses, que durante anos ocupavam quase que com exclusividade os antigos cines Marabá (hoje Bristol, fechado para reformas há anos) e até mesmo os centrais Avenida e Ópera, no centro, também rarearam. Interesse em aprender o francês existe - e muito - do que é prova os 1.600 alunos matriculados na Aliança. Mas ainda é pouco, considerando-se que no decorrer dos anos 50/60, multiplicaram-se os cursos de inglês e a cultura americana substituiu a tradição francesa, não só no Brasil, mas em outros países - devido a um afastamento daquele país em dar maior atenção a manifestações culturais, dado preocupante do atual governo Mitterrand, em especial do ministro da cultura, Jacques Lang. Se assim não fosse, não teria saído o acordo cultural Brasil-França, até agora ainda tímido e restrito ao eixo Rio-São Paulo. Como sempre....
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A motivação da Alliance Française de Curitiba - oficialmente Sociedade de Cultura Franco-Brasileira - conquistar, afinal, uma ampla e confortável sede própria, construída ao longo de quase três anos, com muitas dificuldades, fez com que a atual presidenta da instituição, professora Eunice Pombo - mestre de várias gerações no Colégio Estadual do Paraná - juntamente com os dois professores franceses que dirigem pedagogicamente a Aliança, Gerard Dilos e Raymond Ravel (este há poucas semanas em Curitiba), organizasse um programa cultural para marcar a presença da França entre nós.
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Palestras, exibições de filmes, peças teatrais, numa programação que, se espera, não se esgote apenas no entusiasmo da inauguração da nova sede mas que tenha continuidade para fazer com que a França volte a ser admirada, em seus aspectos culturais, como nos bons tempos.
A programação começou com uma palestra do professor Jean-Remu Julien, da Sorbonne, que na segunda-feira, dia 6, falou sobre "La Chanson Politique en France". Na terça-feira, exibição de um filme maravilhoso; que, infelizmente, não terá lançamento comercial no Brasil - "Rue Cases Negres", da cineasta Euzhan Paley, da Martinica - que esteve no I FestRio (outubro/84), encantando o público com esta pequena obra-prima. Quinta-feira, outro filme francês inédito (o policial "Interdit aux Moins de 13 Ans", 1983, de Jean Louis Bertucceli) e, desde sexta-feira, um grupo de alunos da Aliança vem apresentando no Teatro 13 de Maio, "La Nuit de L'Absurde", montagem de textos de Ionesco, Ribes, Vian e Tardieu, com direção de Marcelo Marchioro.
Também com alunos da Aliança, dirigidos por Marchioro, na próxima sexta-feira, 17, no Teatro 13 de Maio, estréia "Classe Terminale", de René de Obaldia. No Paiol, quarta-feira, 15, única apresentação de "Colette, Dame Seule", com Dominique Paquet - uma sensível homenagem à romancista Sidonie Colette (1873-1954). Exposições de alunas da Aliança que se dedicam às artes plásticas - Juliane Fuganti, Maria Teresa Abagge e Bernardete Panek, também constam da programação.
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