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Marilyn, viva nas telas e a sua morte nos livros

Passados 26 anos da morte de Marilyn Monroe (Norman Jean Mortenson, Los Angeles, Califórnia - 01/06/1926 - 05/08/1962), o mito continua cada vez mais forte. A prova está na exploração (até criminosa, em termos publicitários) de sua imagem, como faz uma fábrica de amortecedores que inundou o vídeo durante a cobertura do Carnaval com um comercial no qual aparece uma perfeita sósia da atriz de "O Pecado Mora ao Lado", as dezenas de livros que continuam a ser publicados sobre Marilyn e, especialmente, as reprises na televisão de seus filmes. Embora, em vídeos selados, sejam poucos os filmes com Marilyn à disposição do consumidor brasileiro, é possível aos seus milhões de fãs formar videoteca com suas obras mais expressivas, constantemente reprisadas pela televisão. Por exemplo, "O Pecado Mora ao Lado" (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder - um dos melhores momentos, foi ainda recentemente reprisado pela Globo, que também programou aquela que foi uma de suas últimas performances como comediante, "Quanto mais Quente, Melhor" (Some Like is Hot, 1959), novamente sob as ordens do austríaco-americano Wilder, dividindo os riscos com Tony Curtis e Jack Lemmon. A venda da blusa que usou em "Nunca Fui Santa" (Bus Stop, 1965), de Joshua Logan, da peça de William Inge, por quase Cz$ 30 milhões, num leilão em Londres, deve justificar que também este filme - dos menos conhecidos de Marilyn - seja reprisado. Enfim, a filmografia de Marilyn é ampla e atraente, incluindo mesmo os seus primeiros filmes, nos quais fazia pontas - como "O Segredo das Jóias" (The Asphalt Junge, 50, de John Huston), "A Malvada" (All About Eve", também de 50, de Joseph Mankiewicz) ou "O Inventor da Mocidade" (Monkeys Business, 52, de Henry Hathaway). Sem falar em sua fase de musicais, explícitos ou disfarçados, feitos na Fox no início dos anos 50: "Os Homens Preferem as Loiras", "Como Agarrar um Milionário" e "O Mundo da Fantasia", entre outros. E, mais do que todos os outros filmes, "Os Desajustados" (The Misfitis, 61), novamente dirigida por John Huston - ao lado de Clark Gable (que faleceria logo após as filmagens, em 16 de novembro de 1960) e o precocemente envelhecido Montgomery Cliff, que, aos 46 anos, morreria em 23 de julho de 1966. Assim, mesmo para a geração mais jovem - que não viu os filmes de Marilyn na tela ampla, a empatia é grande - e seu mito cresce. De Norman Mailer a Anthony Summers, dezenas de jornalistas, escritores ou simples apaixonados pelo mito de Marilyn têm mexido e remexido em sua vida (e morte), procurando expor novos enfoques de sua personalidade, seus amores e até hoje não esclarecida morte - ela teria sido assassinada pelo FBI, já que suas ligações com os irmãos John e Robert Kennedy haviam se tornado muito perigosas em termos políticos. Ainda agora, a Imago acaba de lançar uma tradução em português de "A Conspiração Marilyn", de Milo Speriglo, enquanto a BestSeller - uma nova publicadora que está fazendo lançamentos que justificam seu nome - editou "A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe", de Anthony Summers (tradução de Evelyn Kau Massaro, 523 páginas). Jornalista respeitado, formado pela Universidade de Oxford, Anthony Summers é autor de três best-sellers jornalísticos: "The File on the Star" (em colaboração com Tom Mangold), "Conspiracy: Who Killed President Kennedy" e "Goddes: The Secret Lives of Marilyn Monroe", cuja primeira edição apareceu em 1985. Norman Mailer, 65 anos, em 1973, já havia balançado o coreto ao insinuar em seu "Marilyn" a tese do assassinato da estrela de "O Príncipe e a Corista". Desde então, outros livros (e centenas de reportagens) têm aparecido, aprofundando esta visão política do desaparecimento do maior mito feminino do cinema. Com a seriedade de quem já havia investigado a morte do presidente John Kennedy, unindo a capacidade de pesquisa, talento narrativo e apuro estilístico, Summers produziu em "A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe", mais do que uma nova biografia de MM. Ao contrário, apoiando-se em mais de seiscentas entrevistas, revela - como nenhum outro autor havia feito até agora - os traços mais íntimos da "sex symbol" do cinema americano nos anos 50. E mostra que sua morte (declarada oficialmente como suicídio) está ligada a uma sombria trama política em que se defrontaram Robert Kennedy e a poderosa Máfia. Em "A Deusa", Summers expõe todas as facetas de Marilyn, cheia de conflitos: a atriz deslumbrante, a imagem pública da sensualidade espontânea, os casamentos fracassados, a solidão, a mulher que se queixava de não poder ter filhos, a dependência de drogas. Um livro de leitura fascinante, que traz novas informações em torno de Marilyn. Agora vamos aguardar a publicação em português da autobiografia de Arthur Miller, último marido de Marilyn, para saber também o seu depoimento a respeito da atriz de "O Pecado Mora ao Lado". Cinema escrito - Continuam saindo livros interessantes sobre cinema. Afinal, os editores estão percebendo o grande mercado que há, interessado em conhecer tanto obras biográficas sobre os nomes famosos do cinema, como ensaios mais profundos. xxx O cineasta Ipojuca Pontes ("A Volta do Filho Pródigo" e "Pedro Milico", este ainda inédito em Curitiba) reuniu seus violentos artigos sobre o cinema brasileiro em "Cinema Cativo" (EMW Editors, 133 páginas, Cz$ 390,00). Como disse Maurício Stycer, a epígrafe define o espírito da obra: "À Memória de Luís Sérgio Person, Roberto Santos, Lima Barreto e Marcos Faria - livres do cativeiro". Ipojuca, em seus artigos, desenha o quadro da miséria do cinema brasileiro, numa obra contundente e corajosa. xxx Pela Paz & Terra, saiu um importante livro teórico: "A Tela Demoníaca - As Influências de Max Reinhardt e do Expressionismo". xxx Além de ter editado uma bela biografia de Orson Welles (de autoria de Bárbara Leaming), a L&PM publicou também, o roteiro de "Fitzcarraldo", de Werner Herzog. xxx A Brasiliense continua enriquecendo sua biblioteca de cinema com livros como "Antropologia do Cinema", de Massimo Canevacci; "Cineastas e Imagens do Povo", de Jean Claude Bernardet; "Cinema Marginal", de Fernão Ramos; o roteiro de "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz; "Paulo Emílio" (organizado por Carlos Cali e Teresa Machado); "Sertão Mar - Glauber Rocha e a Estética da Fome", de Ismael Xavier e o roteiro de "Shoan - Vozes e Faces do Holocausto", filme de 9 horas de duração, realizado por Claude Lanzmann - e inédito no Brasil (exceto algumas sessões realizadas no Rio de Janeiro). LEGENDA FOTO - Marilyn, Marilyn: o mito continua.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Vídeo/Som
8
18/02/1988

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