Martinho, o cantor do centenário da abolição
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de fevereiro de 1988
Escolhido para abrir as comemorações do centenário da Abolição, com o projeto Carnavalesca da Funarte - que o tem como grande homenageado - Martinho da Vila deverá percorrer, com um show especialmente montado, todos os Estados. Se o VI Encontro de Pesquisadores da Música Popular Brasileira ocorrer em Curitiba - conforme intenção já demonstrada pelo secretário René Dotti, da Cultura - tendo por tema central "a presença do negro na MPB", Martinho da Vila será, naturalmente, presença de destaque.
Afinal, mais que um cantor, mais que um compositor, Martinho é hoje uma instituição. Com 15 anos compunha o seu primeiro samba ("Piquenique") e, em 1956, entrava para o Exército, no qual permaneceria por 13 anos - só dando baixa, já sargento, quando sua carreira musical estava sólida.
Contratado da RCA desde 1967, ali gravou dezenove elepês, o último dos quais é "Malandro" - como a maioria de seus discos, produção de Rildo Hora e uma capa sempre criativa do paranaense Elifas Andreato. Agora, Martinho acaba de assinar contrato com a CBS, estando previsto o seu novo disco ainda para este semestre.
Paralelamente a estabilização da carreira de Martinho - hoje com públicos internacionais (já fez inúmeras temporadas na Europa e África, na qual é popularíssimo), sua filha mais velha, Martinália, acaba de estrear em disco, mostrando ser sambista de boa cepa (elepê 3M, produção de Ruy Quaresma). Gravando desde composições de Paulinho da Viola ("Para um Amor no Recife"), há muitos sambas inéditos - belíssimos como "Cordas e Correntes", de Martinho, "A Última Estrela", de Júlio Costa e "Nunca Mais", de Ruy Quaresma, Martinália chega ao ótimo caminho num revigoramento tão necessário de nossa (melhor) música de raízes.
LEGENDA FOTO - Martinho da Vila, ao lado do presidente da CBS no Brasil, assina contrato. Depois de 20 anos na RCA, o compositor-sambista passa agora para outra multinacional.
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