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Aramis

Melhor programa da semana desperdiçado pela Fundação

Caro leitor e cinemaníaco, responda sinceramente, o que seria mais lógico para ser programado numa sala supostamente voltada exclusivamente à programação cultural, mantida pelos recursos municipais - ou seja à custa de seus impostos (cada vez mais altos): reprisar pela enésima vez um filme de discutíveis méritos ou exibir uma obra inédita, sem chance de ter outra apresentação em Curitiba? A questão é colocada pela teimosia da Fucucu em sabotar uma programação da maior validade como a Semana do Cinema Francês, espremendo-a em duas incômodas sessões (20 e 22 horas) na desconfortável Cinemateca, enquanto utiliza suas salas - Ritz, Groff e Luz - para reprises. O atencioso monsieur Ravel, da direção da Aliança Francesa, ao conseguir trazer a Curitiba sete filmes franceses inéditos, produzidos entre 1984/85, com legendas em português, tem apenas um interesse: que eles sejam vistos pelo maior número possível de espectadores e dependendo da repercussão, o serviço cultural da Embaixada Francesa estaria disposto a legendar outros filmes, divulgando o novo cinema francês - infelizmente pouquíssimas vezes lançado comercialmente. Assim, bastaria haver boa vontade por parte da Fucucu e os sete importantes filmes trazidos para esta semana, que os mesmos seriam projetados numa sala como o Luz (ou mesmo Ritz), atingindo um público bem maior. A esfarrapada desculpa de que são cópias em 16mm, não se justifica de maneira alguma: tanto o Goethe como agora o MIS possuem aparelhos Brauer, de excelente qualidade, que possibilitam perfeitas projeções nesta bitola (aliás, o Goethe já fez as exibições de "Alexanderplatz" e "Hammmet", em 16mm, no Groff e Luz, em 16mm, com ótimos resultados). Portanto, insistimos: é uma agressão contra o público curitibano a atitude burra em programar os filmes franceses apenas nas sessões noturnas da cinemateca, quando os mesmos poderiam ter projeções normais, em 5 sessões, nas outras salas da Fucucu, atingindo uma faixa muito maior de espectadores. Desde segunda-feira, as sessões tem estado superlotadas e neste fim-de-semana, por certo, muita gente interessada, nem poderá assistir os três últimos filmes programados: "Chuva de Ouro" (Le Pactole), 85, de Jean Pierre Mocky (hoje); "A Trapaça" (Le Riche), 84, de Yennick Bellon (amanhã, sábado) e "Amor Partido" (L'Amour Par Terre), também de 84, de Jacques Rivette, com Geraldine Chaplin, Jane Birkin e Andre Dussolier, no domingo. São remotíssimas as chances destes filmes terem relançamentos em Curitiba e a esperança de que na próxima vez que monsieur Ravel consiga trazer obras tão interessantes, a promoção possa ser feita em outro espaço cultural - talvez o auditório Brasílio Itiberê (que está sendo preparado para abrigar boas promoções cinematográficas a começar pela Semana do Cinema Italiano, a partir do dia 14) ou no SESC da Esquina. Afinal, de nada adianta a Fucucu possuir salas de exibição confortáveis, lucrativas, com funcionários regulares, se prefere reprisar filmes do que exibir obras inéditas. Isto aconteceu há duas semanas na mostra do cinema suíço e ameaça repetir-se com a Mostra Nova Geração de Cineastas Alemães, a partir do dia 21 com nove filmes inéditos alemães, também "programados" para a Cinemateca - quando deveriam ter exibição em outro espaço. Esperamos que ao menos esta promoção ainda seja salva, com a intervenção firme da diretoria do Goethe Institut. Afinal, não é justo prejudicar uma comunidade pela teimosia de quem não quer dar melhores opções ao público interessado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
10/06/1988

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