A Fucucu nega-se a exibir um dos melhores filmes de 1988
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de julho de 1988
Francisco Alves dos Santos, carinhosamente chamado de "frei" Chico ou o "bom Chico", é há mais de uma década um defensor do bom cinema. Ex-seminarista, começou como modesto colaborador de assuntos de cinema do extinto semanário "A Voz do Paraná", teve apoio de muitos amigos que sempre o admiraram e se tornou conhecido nacionalmente, ao ponto de que quando Valêncio Xavier, idealizador e fundador da Cinemateca do Museu Guido Viaro deixou aquelas funções, Chico o substituiu naturalmente. E apesar das trapalhadas da Fucucu nestes últimos anos, Chico vinha realizando um bom trabalho, movimentando a Cinemateca, programando as três salas (embora cada vez mais comerciais) pertencentes à Fundação e, principalmente, desenvolvendo um salutar programa de levar o bom cinema aos bairros.
Exausto, com tantas responsabilidades, Chico, democraticamente, buscou ajuda e confiou num "amigo", de quem não se conhecia maiores créditos em termos de conhecimento cinematográfico. E, confiante neste "assessor", o bom Chico foi deixando a programação de algumas salas, para tristeza da Fucucu. Resultado: atritos foram provocados com distribuidoras, lançamentos prejudicados (por exemplo, houve até uma ridícula "censura" à estética das fotografias no painel de promoção de "Romance", quando de sua estréia no Ritz, o que provocou a fúria do diretor Sérgio Bianchi e, o mais grave, por razões que ninguém consegue entender, o infeliz assessor (sic) de Chico, infelizmente com sua omissão (o que o torna também responsável) vem trocando os pés pelas mãos. No ano passado, quando o excelente "Por Volta da Meia-noite", de Bertrand Tavernier, após uma semana no Bristol, foi retirado de cartaz, poderia passar para o Cine Ritz - atingindo um público que começava a se interessar por aquele excelente filme (que ficou entre os 10 melhores do ano). Resposta do "assessor" de Chico: "O filme não nos interessa". Mais recentemente, nas programações das mostras de filmes inéditos da França e Alemanha, ao invés dos mesmos serem programados em algumas das salas confortáveis da Fucucu (Ritz e Luz), que vivem só na base de reprises exaustivas, o que foi feito? Se jogou estes filmes inéditos, interessantíssimos, na Cinemateca - uma sala incômoda, com banheiros sujos e mal conservados, e que há muito necessita de uma reforma. Denunciamos o fato em nossas colunas e os próprios serviços estrangeiros que patrocinaram a vinda dos filmes ficaram irritados (embora, diplomaticamente, não tenha externado oficialmente suas posições) com a desconsideração da Fucucu, em discriminar filmes importantes, que poderiam ser projetados em salas confortáveis, em 3 ou mais sessões (dando assim opções diferentes ao público), serem confinadas (e prejudicadas) em apenas duas sessões - superlotadas e incômodas.
Agora, mais um fato gravíssimo: há alguns dias, o gerente de operações da Columbia Pictures, Wilson Rodrigues, veio de São Paulo, especialmente para oferecer à Fucucu a chance de exibir filmes de grande valor artístico, que não tem permanecido nas salas da Fama Filmes o tempo merecido. Um exemplo: "Nunca te vi...sempre te amei", seguramente entre os dez melhores filmes deste ano - e que no Rio e São Paulo permanece há meses em cartaz, com um interesse crescente (ainda mais agora, com o lançamento do livro autobiográfico de Helene Hanff, que baseou o roteiro do filme de David Jones, inaugurando a Casa-Maria Editorial, simultaneamente a sua bela trilha sonora pela SBK Songs).
Qual foi a reação do "assessor" (sic) de programação da Fucucu? Asperamente, recusou a exibição deste (e de outros) filmes que poderiam levar grande público às salas (cada vez mais esvaziadas) da Fucucu. É de se perguntar, até onde um "assessor" despreparado culturalmente tem o direito de prejudicar uma programação cinematográfica justamente em salas oficiais, mantidas com o dinheiro público?
Até agora, tem havido paciência e boa vontade, mas o bom Francisco Alves dos Santos precisa retomar o controle da programação, e fazer com que as salas de exibição mantidas pela Fucucu cumpram realmente sua finalidade: exibir bons filmes. Ou será que só depois que mudar a administração municipal é que se corrigirá também mais esta clamorosa falha na administração cultural da cidade?
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