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Aramis

Memórias da oposição (V)

Há pelo menos 15 anos que o mais respeitado jornalista político, o veterano Samuel Guimarães da Costa, 74 anos, 50 de imprensa, promete publicar um grande livro sobre o Paraná e seus homens, sua política. Ninguém melhor do que o agora imortal Samuca - um dos novos membros da Academia de Letras do Paraná - para reunir em livro(s) o que observou desde o início dos anos 40, quando começou a acompanhar a política paranaense, cobrindo o governo Manoel Ribas - primeiro de muitos dos quais acabou assessor e, principalmente, [ghost-writter], já que une a um texto marcante também um conhecimento profundo de nossa economia, sociologia e cultura - o que o fez o grande mestre da imprensa em nosso Estado. Apesar de nunca ter parado de escrever e, vez por outra, editado seus textos em livros - como fez recentemente, ao reunir uma série de reportagens publicadas originalmente na revista "Panorama", em "As Quatro Faces da Geração de 22" (edição da Secretaria da Comunicação Social do Governo do Estado, edição fac-similar, 34 páginas, distribuição gratuita), Samuel, por certo, ainda tem muito a revelar sobre a nossa história política - especialmente de aspectos que, por ética, até hoje manteve em segredo. A nossa bibliografia política, raquítica, precisa de obras ao menos informativas sobre as mudanças nos quadros do poder, capazes de auxiliarem as novas gerações a melhor entender o que ocorreu nos 'últimos 47 anos. Infelizmente, mesmo indicativos referenciais são raros - e esta carência sente-se quando se propõe qualquer pesquisa de alguma profundidade. Faltam números relativos as eleições, dados biográficos dos políticos e, especialmente, informações que expliquem a dança das siglas partidárias e do comportamento dos homens que desde a redemocratização tem conduzido os destinos do Estado. xxx Assim, quando um homem que se dedica há mais de 30 anos a atividades políticas, coerentemente, dentro de uma mesma linha partidária, como Sylvio Sebastiani decide contar um pouco do que observou - e do que participou - seu trabalho torna-se significativo "Por Dentro do MDB", lançado na semana passada, sem maiores pretensões, vale como um relato objetivo dos 13 anos em que existiu o Movimento Democrático Brasileiro criado em janeiro de 1966, quando o primeiro governo de revolução, após extingüir os partidos existentes, decidiu pela junção das mais diferentes tendências em apenas duas siglas: na ARENA - Aliança Renovadora Nacional, os que, aparentemente, se identificaram aos ideais do "movimento cívico militar"(sic) de 1º de abril de 1964. No MDB, a chamada oposição. A legitimidade ideológica desta separação imposta de cima para baixo foi sempre discutível - e prova disto foram as mudanças nos quadros partidários que se seguiram, até chegar-se a confusão de nossos dias - novamente com dezenas de partidos políticos, mas que, em termos de representatividade, programas e formação pouquiíssimo oferecem. No Paraná, a dança dos homens que, a partir de janeiro de 1966 estiveram no MDB - dos muitos que dele se afastaram, dos poucos que permaneceram até o retorno do pluripartidarismo, em novembro de 1979, com a criação do PDS, PMDB (que, oficialmente, sucederia o MDB), o Partido Popular (que [obrigou] ex-arenistas, depois fundindo-se ao PMDB), o Partido dos Trabalhadores, Partido Trabalhista Brasileiro (com a sigla getulista "roubada" de [Brizolla] pela deputada Ivete Vargas) e, finalmente o PDT, que [Brizola], recém-chegado do exílio, criou ao não conseguir o antigo PTB - explica, de certa forma, o comportamento de mito do que acontece hoje no campo-de-batalha eleitoral. xxx Sebastiani foi generoso em seu livro. Raramente faz críticas a [medebistas] que pularam fora do partido e suas farpas, delicadas aliás, assentam-se mais sobre o ex-governador José Richa, contando vários episódios em que o hoje senador do PSDB não teve decisão pronta para apoiar seus companheiros da oposição nos duros anos de repressão. Sem dividir o livro em capítulos, eliminando assim intertítulos, Sebastiani faz uma narração cronológica, razoavelmente bem documentada - o que mostra que, como secretário e depois presidente do MDB no Paraná, guardou sua documentação. Evidentemente, que não esgota o assunto e deixa, mesmo muitos claros a serem preenchidos - mas, dentro da carência da bibliografia a respeito merece aplausos por este seu trabalho. Em 1971, já havia publicado, "A Situação do MDB no Paraná". Posteriormente, o radialista Pedro Washington de Almeida, viria a publicar duas edições sobre o MDB e o PMDB no Paraná, sem aprofundar-se em informações paralelas e [limitando], especialmente, aos resultados das eleições de vários pleitos. Quem poderia escrever um livro que serviria de flash-back a "por Dentro do MDB", historiando o Partido Trabalhista Brasileiro desde sua fundação é o veterano jornalista Mathias Junior, 76 anos, o mais fiel dos petebistas do estado, que organizou a agremiação getulista de 1946. Em dois longos depoimentos para o projeto "Memória Histórica do Paraná", no ano passado, Mathias Jr. Contou detalhes deliciosos daquela fase - conforme aqui, na ocasião, registramos. Veterano profissional, com passagem em vários jornais - muitos dos quais foi redator-chefe - Mathias Jr., hoje aposentado e dividindo-se entre uma fazenda no Interior e temporadas curitibanas, quando se hospeda no Hotel Cacique, tem sido "intimado" por velhos contemporâneos de lutas políticas a oferecer em forma de livro o seu depoimento histórico LEGENDA FOTO Samuel Guimarães da Costa: falta escrever o livro sobre a política paranaense
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/04/1992

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