Música e informação para 500 mil pessoas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de julho de 1986
Gebran Sabbag está exibindo seu mais dentifrício sorriso. Além de ter voltado a atuar na noite, encantando o seu público com improvisações e harmonias ao piano, o bom turco acaba de ver implantado um velho sonho: o sistema de música e notícias nos terminais de transporte coletivo da cidade.
Técnico em eletrônica de mão cheia, conhecendo a área como poucos, Gebran há muito acalentava um projeto de musicar os terminais de ônibus expresso. Na administração Jaime Lerner, o projeto foi dimensionado em outra proporção: na impossibilidade de se conseguir uma FM exclusiva para o sistema de transporte, foi feito um contrato com a Rádio Clube Paranaense, que passou a transmitir em Frequência Modulada, apenas para esta faixa. Infelizmente os resultados não foram positivos: os aparelhos receptores nos ônibus apresentavam defeitos, os passageiros não gostavam da seleção musical e, pouco a pouco, a proporção que o projeto tornava-se oneroso (o contrato fora estabelecido em ORTNs e, na época, a inflação era enorme), sentia-se que mesmo sendo uma boa idéia, na prática, não funcionou.
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Desativado projeto rádio no ônibus expresso, ninguém mais falou na idéia. Entretanto, Gebran Sabbag, 56 anos, com a teimosia de bom árabe, guardou uma sugestão: substituir o sistema de FM por transmissão direta, via cabos, apenas para os terminais do sistema de transporte por onde, diariamente, passam mais de 500 mil pessoas.
Quando a jornalista Mariza Vilella, 29 anos, assumiu a direção da divisão de divulgação da Secretaria de Comunicação do Município, se interessou em conhecer o projeto de Gebran. Entusiasmou-se quando Sabbag lhe demonstrou que usando apenas o material que a prefeitura já dispunha - gravadores, mesas de som, tape-deck etc. - seria possível implantá-lo em termos econômicos, a custos reduzidíssimos.
E no dia 1° de julho, quando o chamado "Projeto Terminal", entrou em operação, mesmo que em caráter experimental, Gebran estava exausto mas feliz: realizava-se aquilo pelo qual há muito vinha se esforçando, nem sempre ouvido com a atenção devida.
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O projeto é relativamente simples: de uma central num velho casarão na Rua Mateus Leme, 990, é transmitida a programação de música popular (exclusivamente brasileira) intercalada de amplos noticiários de interesse da comunidade e de utilidade pública. A recepção é feita através de sistemas de som nos terminais de Capão Raso, Campina do Siqueira, Pinheirinho, Boqueirão, Vila Hauer e Santa Cândida - ou seja, cobrindo praticamente toda a cidade e por onde circulam milhares de pessoas - especialmente de manhã e ao entardecer.
Reedita-se, com maior apuro tecnológico, os antigos serviços de alto-falantes - tão nostálgicos na memória de quem cresceu em cidades do Interior (ou mesmo nos bairros da velha Curitiba), nas quais além de músicas, estes pioneiros da comunicação faziam já transmissões de utilidade pública - especialmente nos fins de semanas, em festas religiosas e datas cívicas. Justamente, dentro deste espírito é que a jornalista Marisa Vilella vem orientando sua equipe para encontrar uma linguagem coloquial, amiga e simpática, em todas as notícias apresentadas, dando especialmente ênfase as notícias comunitárias, integrando as populações dos bairros. "A festa de Igreja, a reunião da igreja adventista, o funcionamento do posto de saúde e tantas outras informações locais, restritas ao interesse de cada bairro, encontram neste sistema o veículo ideal" explica Marisa, profissional que durante três anos (1982/84) fez curso de especialização em comunicação na University of Mississipi.
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_ "Quando assumi a divisão de divulgação encontrei um casarão onde havia espaço, equipamento e pessoal ocioso. Com esta matéria prima foi desenvolvido o projeto Terminal".
Assim Marisa explica outro importante sentido do projeto agora em fase experimental - mas que pelo resultado obtido na primeira semana deverá ser aprovado. Com muitos profissionais no quadro da Secretaria de Comunicação Social, não houve necessidade de fazer contratações para montar o novo serviço. Por exemplo, um bom locutor como Milton José, 48 anos, que já esteve em vários prefixos da cidade, vinha fazendo um burocrático trabalho de recortes de jornais. O outro locutor, Paulo Silva, tinha sido deslocado para fiscal de feiras. Durval Monteiro e Rosildo Portela estavam também em funções que nada tinham com seus conhecimentos de rádio. Agora, felizes por desenvolverem trabalhos na área que entendem, estes quatro locutores não se limitam apenas a leitura dos textos preparados pela redatora Beatriz Araújo, mas também criam suas próprias linguagens.
Rosildo Portela, nome conhecido no jornalismo esportivo, já está montando uma programação especial para divulgar todas as atividades desportivas no campo amador, que ocorrem nos bairros da cidade.
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Ao lado da informação, o Projeto Terminal traz também amplo espaço - afinal são 16 horas diárias (6 às 22 horas) de transmissão - para divulgar a música dos paranaenses. Como não dispõe de um acervo fonográfico - e, por enquanto, sem recursos pra adquirir discos ou comprar música gravada - o novo serviço está dando prioridade a divulgação dos discos e gravações em fitas que compositores e intérpretes paranaenses estão levando a rua Mateus Leme, 990. Rosy Greca - que na próxima semana estréia espetáculo no auditório Salvador de Ferrante, para lançar seu primeiro elepê - foi a primeira a procurar este canal de divulgação. Assim, as músicas do álbum "Vitrais" estão sendo intensamente divulgadas - a exemplo de todos os outros artistas que oferecerem discos ao serviço."Sem qualquer restrição de ordem estética, gênero, número ou grau vamos, divulgar os nossos valores" explica Marisa Vilella, que, pessoalmente, idealizou uma programação musical capaz de satisfazer ao imenso público atingido pelo sistema.
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O projeto é positivo em vários aspectos. E, dando certo, já há uma pretensão maior: conseguir autorização do DENTEL para a implantação de circuito fechado de televisão, com imagens geradas no estúdio central e recepção em telões espalhados por todos os terminais.
Em tudo isso, só há um perigo - para a qual a oposição tem que se manter atenta: evitar que o sistema se transforme em veículo de propaganda política a favor do PMDB. Se isto acontecer, todos os aspectos positivos, cairão por terra.
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