Música Pop - Uma fonografia atual (V)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1974
STEVENS (CAT)
Em grande evidência atualmente, devido a sua temporada carioca, Cat Stevens confirmou em "Foreigner" (Phonogram, 410029, setembro/73), aquilo que sobre ele escrevemos há 3 anos quando apareceram seus primeiros discos no Brasil o mais lírico e sério dos compositores-vocalistas de uma geração "post Beatles", na mesma linha de suavidade de James Taylor e, a princípio, Elton John. Inglês de uma pequena aldeia, singliter, Cat Stevens é descendente de gregos e sua família sempre foi muito musical. Em dezembro de 1966 teve o primeiro sucesso, "Mathew & Son" ao qual se seguiu "I'm Gonna Get me a Gun" em março/67. Ausente do cenário artístico por dois anos, em 1969 voltou e o primeiro sucesso de uma nova fase de sua carreira foi "Lady d'Arbanville", que dedicou a uma jovem atriz. Na cidade se apresentava acompanhado por Peter Gabriel na flauta e o guitarrista Alun Davies. Toda sua discografia já foi editada no Brasil: "Mona Bone Jakon" (1970), "Tea for Tillerman" (1971), "The Teaser and the Firecat" (1972), "Catch Bull at Four" (1972) e agora este "Foreigner" - para nós o seu trabalho mais bem realizado. O lado A é ocupado pela "Foreigner Suite", com momentos magníficos, em que não só a genialidade da criação musical se destaca mas também o trabalho individual dos 9 músicos que convocou para esta gravação, feita no Dynamic Studios em Kingston, Jamaica: Bernard Purdie, Phil Upchurch, Paul Martinez, Jean Roussel, Gerry Conway, Patti Austin, Barbara Massey, Tasha Thomas e Herbie Flowers. No lado B, só quatro novas músicas de Stevens: "The Hurt", "How Many Times", "Later" e "100 I Dream". Uma obra genial - que em nossa opinião mereceu a inclusão na lista dos 10 melhores discos internacionais editados no Brasil em 73.
STEWART (ROD)
Roderick David Stewart, nascido em Londres a 10 de janeiro de 1945, passou a sua adolescência jogando futebol e com 16 anos tornou-se beatnick - quando "Ont The Road" de Jack Kerouack (1925-1970) era a bíblia dos adolescentes contestadores. Nesta época começou a se interessar pelas folk-songs. Expulso da Espanha, retornou a Inglaterra e passou a integrar o Jimmy Powell's Five Dimensions, formação de Rhythm & Blues. Na época recusou um bom contrato como jogador de futebol para poder dedicar-se a vários grupos recém-formados: Hoochic Coochie Men (com John Paul Jones, futuro Led Zeppelin) e o Steampacke de Long John Baldry, os quais deixaria em 1967 para ser vocalista do Jeff Beck Group. Mas após o segundo álbum do grupo, novamente o deixou e começou uma carreira de solista, amparado por bons músicos de Beck Ron Wood (baixo) e Mickey Waller (bateria). A partir de 1870, sua ascensão foi vertiginosa e em dois anos conseguiu se tornar um dos grandes nomes da música pop. Paralelamente a sua carreira de solista, participou do grupo Faces e em 1972 tomou parte na segunda versão de "Tommy", a ópera-rock de Pater Townshend, encenando em Londres. A Phonogram, que inicialmente aqui editou seus lps, "Gasoline Alley", "Every Picture Tells a Story" e "Never a Dull Moment", no ano passado colocou nas lojas seu mais recente lp - "Sing It Again Rod" (6338248), onde ao lado de seus músicos tradicionais - Rod Wood e Mick Waller - teve a colaboração do The Faces. O repertório é bem diversificado, permitindo uma ampla visão de seu trabalho nos últimos 3 anos: "Reason To Believe" de Ty Hardin; "Country Comfort" de Elton John, "Street Fighting Man" de Jagger/Richard, "Twisting The Night Away" de Sam Coocke, "Pinball Wizard" (de "Tommy") de Pete Townsebend e de suas próprias composições, selecionou "You Wear It Well", "Mandolin Wind", "Maggie May", "Lost Paraguayo" e o velho sucesso "Gasoline Alley"
STONES (THE ROLLING)
Se nesta série de registros sobre alguns lançamentos pop feitos no Brasil nos últimos meses justifica-se a informação jornalística sobre quem é quem, no caso da notícia do último lp do The Rolling Stones tal tarefa é plenamente dispensável. Pois a exemplo dos Beatles, este quarteto inglês é hoje conhecido mesmo dos mais ferrenhos inimigos da música pop, que não podem se dar ao luxo de negar ao menos sua importância sociológica - agora que com a separação dos besouros de Liverpool eles ascenderam ao primeiro plano. "Goats Head Soup" (Rolling Stones/Continental, COC 59001, novembro-73) é mais um disco do RS para ser curtido com a máxima atenção. Exclusivamente com músicas de Mike Jagger e Keith Richard, as músicas desta "sopa de caça de bode" permitem solos ao piano, muitos quase jazzísticos - comprovando assim a versatilidade do quarteto inglês. As músicas chama-se "Silver Train", "Hid Your Love", "Winter", "Can You Hear The Music", "Star Star", "Dancing Eith Mr. D", "100 Years Ago" (com um bom solo de clarineta) "Coming Down Again", "Heartbreakers" e "Angie".
URIAH HEEP
Grupo inglês formado em princípios de 1970 por Ken Hensley (guitarra, vocal, ex-Toe Fat), David Byron (vocal), Mark Clarke (baixo) (Hoje integrando o Tempest); Mick Box (guitarra) e Ollie Olsson (bateria), o Uriath Heep produz um Hard-Rock mais sofisticado, com uma preocupação fantástica, quase sobrenatural - temática que perseguem inclusive nos títulos de suas composições. Em 1972, após uma excursão aos EUA, Gary Thain (baixo, ex-Keef Hartley Band) substituiu ao medíocre Paul Newton e Keith Baker - que havia substituído em 1971 a Olsson, na bateria, deixou seu lugar para Lee Kerslake (ex-Toe Fat). O sonho do grupo realizou-se no primeiro semestre do ano passado: uma excursão de sucesso nos EUA. No mês de julho, o líder Hensley fez o seu primeiro disco como solista. A Phonogram lança agora no Brasil o penúltimo lp do conjunto. "Demons and Wizards", gravado em abril de 1972. Nos estúdios Landowne, em Londres. Neste álbum, a formação do Uriah Heep foi a seguinte: Gary Thain no baixo, Lee Kerslake na bateria, Mick Box na guitarra, Ken Hensley no keyboard, guitarra e percussão e David Byron nos vocais.
TOWER OF POWER
Uma das maiores formações do mundo pop - no total 11 figuras - o Tower of Power é também filiado ao hard rock, podendo se dar ao luxo de gravar músicas de seus próprios integrantes, principalmente do sax barítono Stephen Kupke. No lp da Warner Brothers Records, com o qual a Continental o apresenta no Brasil, temos as seguintes músicas - todas pesadas e com solos estridentes: "What Is Hip?"; "Clever Girl", "This Time It's Real", "Will I Ever Find A Love?", "Get Yo'Feet Back on The Ground", "Só Very hard To Go", "Soul Vaccination", "Both Sorry Over Nothin", "Clean Slate" e "Just Another Day".
WAKEMAN, RICK
A propósito de Rick Wakeman pensávamos em dedicar uma página especial: pois este músico inglês não só foi a revelação da música pop no ano passado como realizou o melhor disco de 1973, que encabeçou tranqüilamente a nossa relação: "The Six Wives of Henry VIII", (A&M Records, Odeon, 2104, agosto-73). Trata-se de uma gravação em que Wakeman criou seis temas inspirados nas seis esposas de Henrique VIII (Greenwich 1941-Westeminster 1547) rei da Inglaterra e da Irlanda (1509-1547), filho e sucessor de Henrique VII (1457-1509), "embora o estilo nem sempre tenha a ver com sua história individual, esta foi a minha concepção de seus caracteres em relação aos instrumentos". Executando mais de uma dezena de diferentes instrumentos de teclados e eletrônicos - Mini Moog sintetizador, Mellotron 400D para efeitos vocais e de vibrações; Mellotron 400/ para efeitos de metais e flautas, piano Steinway, órgão Hammond C-3, o RMI piano elétrico, mais um Thomas Goff Harpeschord - com sons produzidos através de estéreos - Wakeman fez, sem nenhuma dúvida um dos discos mais avançados de todos os tempos. E não se limitou a utilização de seu complexo instrumental, recorrendo a 4 contrabandistas, 3 guitarristas, um banjo elétrico e cinco vocais femininos. Durante 10 meses, em estúdios montados em Londres, trabalhou na produção deste disco que ainda não obteve a merecida atenção - pois embora a Odeon o tenha lançado com muita divulgação, poucas rádios no Brasil lhe deram a necessária cobertura, principalmente considerando a longa duração de cada uma das faixas - e a necessidade de serem ouvidas em seqüência, quase como uma forma de sinfonia ou suíte. Mas até agora não houve uma pessoa a quem tenha mostrado esta gravação, que não afirme com segurança: "onde eu a encontro para comprar!". pois realmente se trata de um álbum de características notáveis, com a máxima criatividade em cada faixa, procurando Wakeman transformar em músicas o clima em que viveu e a personalidade de cada uma das seis mulheres que amaram como o controvertido monarca inglês, criador da Igreja Anglicana: Catarina de Aragão (1485-1536), Ana Bolena (1532-136, decapitada); Jane Seymour (1509-1536), Anna de Cleves (1515-1557), Catherine Howard (1531, executada em 1542) e Catherine Parr (1512-1548).
Mas quem é Rick Wakeman! Quem é este jovem de tanto talento que conseguiu fazer um disco de tamanha criatividade, de tanta dimensão musical? Mesmo as mais atualizadas enciclopédias da música pop não trazem nenhum verbete com o seu nome e só no número do agosto do "Alto Falante", editado pela Odeon, saíram algumas informações a seu respeito. Que merecem transcrição: De princípio ele é considerado após este seu disco como "o melhor organista de rock do mundo" e começou a aprender piano aos seis anos de idade e dez anos depois, sob violentos protestos resolveu tornar-se pianista clássico, matriculando-se na Royal Academy of Music, que frequentou durante um ano e meio. Estudou piano e clarineta, e outros instrumentos de teclado. Desistiu da idéia de ser pianista clássico ao verificar "como são mal pagos e como é difícil alcançar o sucesso neste setor". Ensinou música durante algum tempo, mas depois de enfrentar vários alunos desinteressados desistiu. Passou a dar pequenos concertos com Cat Stevens, T. Rex e David Bowie. Trabalhou em vários conjuntos e, quando tocava em um bar, foi descoberto por Dave Cousins, líder do Strawbs, e contratado pela A&M. E participou de várias gravações feitas pelo Strawbs na A&M mas quinze meses depois desligou-se pois "chega sempre uma hora em que a gente descobre que não é pessoa certa em relação aos outros". Continuou a apresentar-se como solista e foi convidado a participar de uma execução do Yes. Aceitou, gostaram dele e acabou tornando-se integrante do grupo, quando gravou o álbum "Fragile" (Atlantic). Tocando com o Yes, chegou a aparecer no palco cercado por mais de cinco instrumentos de teclado diferentes. Pouco depois de um ano de sua entrada, o Yes já fizeram um tremendo progresso, embora na opinião de Rick , isso custasse ter que engolir um bocado de si sem protestar, e antes do conjunto deixar a Inglaterra para uma excursão aos EUA, Wakeman admitiu que mudara muito, tanto como músico como pessoa durante o último ano.
"Meu estilo de tocar mudou e espero que tenha sido para melhor. Antes de entrar para o Yes tudo que eu fazia era na base do solo. No Strawbs eu tocava o único instrumento solista mas no Yes isso não acontecia. Toda nossa música tinha arranjos elaborados e tive de aprender a me integrar com um conjunto".
Para o crítico Bill Legosa, da "Fusions", Wakeman é "indubitavelmente o melhor organista de rock que já surgiu até hoje" (Keith Emerson, outro tremendo artista, chegou a alugar um camarote para ouvi-lo no Lyceum, em Londres). "Mesmo em seus momentos mais explosivos, seu estilo permanece nítido e sua interpretação é direta, objetiva" opina Logon. "É impressionante, especialmente se lembramos os excessos que marcam os trabalhos de Emerson e Nick Hoplins. O principal dom de Wakeman é que seu virtuosismo tanto pode mesclar-se sutilmente ao contexto do grupo como produzir, com a maior facilidade, um solo melodioso e sedutor" diz ainda o crítico da "Fusions".
Já Michael Wale, do "Times", classificou-o como a grande descoberta instrumentalista de 73: "Wakeman é altamente competente tanto no órgão, como no piano ou harpsicórdio". Muitas outras opiniões poderiam ser invocadas, mas é desnecessário. Só mesmo a audição de "The Six Wives of Henry VIII" pode dar a exata dimensão da música que Wakeman produz. E fazer com que se aguarde ansiosamente o seu novo trabalho.
WEST, BRUCE AND LAING
Formado há apenas dois anos pela reunião de dois ex-integrantes do Mountain, Lislile West (guitarra e vocal) e Corky Laing (bateria) com o cantor e baixista Jeck Bruce, o WBL produz um Hard-Rock de excelente inspiração e executado por três músicos realmente competentes. Whatever Turns You On (RSQ-PHonogram, 2394107), com capa e contracapa ilustrada com quadrinhos underground - ao estilo de Robert Crupp - é uma demonstração da anárquica criatividade deste trio, executando exclusivamente músicas próprias: "Backfire", "Token", "Sifting Sand", "Slow Blues", "Dirty Shoes", "Laka a Plate" - títulos irônicos que traduzem trabalho relativamente assustador aos ouvidos conservadores, mas de grande importância. E que fazem este lp merecer atenção.
WIZZARD
Roy Wood, o fundador do Move, que o deixou para formar a excelente Electric Light Orchestra, com Jeff Lyne, foi também o fundador do Wizard, em 1972, com a colaboração do baixista Rock Prince (ex-Move), Bill Hunt (tuba), Mike Bernie (sax tenor), Nick Pentelow (sax, flauta, clarinete e piano), Charlie Grima (bateria), Keith Smart (bateria) e Hug McDowell (guitarra e piano). Wood, que se dá ao luxo de executar desde o violino até o banjo, passando pela citara - é considerado na Inglaterra como um músico genial.
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