Nery, PDT, Juruna e seu livro da CPI
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de novembro de 1984
O deputado Sebastião Nery (PDT - Rio de Janeiro) não parou de recolher deliciosas estórias para o seu "Folclore Político". Embora afastado do jornalismo diário, o irreverente parlamentar já tem material para o quinto volume a ser lançado pela Record no início do ano. No livro, decerto, estarão reunidas muitas estórias deste quente período pré-eleitoral, com detalhes nos bastidores do Congresso, que Nery conhece melhor do que ninguém.
Na semana passada, Sebastião acompanhou o governador Leonel Brizola a Salvador, na primeira de uma série de oito visitas semanais que o governador do Rio de Janeiro fará à Bahia, para implantar o PDT naquele Estado. Embora tenha discordado da atuação política de Brizola, Sebastião não rompeu com o político gaúcho.
- "O compromisso que Brizola assumiu conosco foi de implantar o PDT em todo o Brasil. E ele estava esquecendo disso, preocupado com a administração do Rio".
A partir de janeiro, Brizola visitará, regularmente, o Paraná, para ajudar também a implantação de diretórios do PDT em todos os municípios. Léo de Almeida Neves tem a coordenação político do partido, mas a presença de Jaime Lerner, já filiado, é forte - e seu nome é o que reúne as maiores possibilidades para disputar o governo em 1986.
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Do atual período político, Nery conserva seu bom humor. E brinca, contando que disse aos deputados malufistas que "seu preço" para mudar o voto em favor de Maluf é o seguinte:
- "Um milhão de dólares, um apartamento na Avenida Foch, em Paris, e uma peruca, de forma que eu não seja reconhecido nem na França".
Amigo e conselheiro político de Mário Juruna, Sebastião Nery foi quem convenceu o índio-deputado a devolver os Cr$ 30 milhões que havia recebido de Calim Eid (o todo poderoso coordenador político de Paulo Maluf) em troca de seu apoio à sua candidatura. Ao saber disso, Nery usou um argumento irredutível:
- "Olhe, Juruna, se v. apoiar o Maluf, em troca do dinheiro, não terá futuro: pelo Rio, v. nunca mais se elegerá. E, voltando à tua tribo, em Mato Grosso, serão os próprios índios que o "caçarão". Só lhe restará o exílio boliviano...".
Juruna refletiu e, após uma última conversa com Brizola, que o prensou também, não só devolveu o dinheiro recebido, como denunciou, publicamente, a manobra na qual foi envolvido, em sua ingenuidade.
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Dentro de alguns dias, Sebastião Nery vem a Curitiba para autografar seu novo livro: "Crime e Castigo da Dívida Externa", lançamento da Salamandra, editora fundada por Geraldo Jordão Pereira e agora pertencente ao jornalista e empresário Ary de Carvalho ("Última Hora" / "O Dia", Rio de Janeiro), que em 1963 dirigiu a Sucursal da UH em Curitiba. Em "Crime e Castigo da Dívida Externa", cuja autoria Nery dividiu com o presidente da CPI, deputado Alencar Furtado, estão os textos relacionados ao trabalho daquela Comissão Parlamentar de Inquérito e também a íntegra do famoso "Relatório Saraiva".
LEGENDA FOTO - Nery: folclore político
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