Nicole, da nudez de Ariela aos tempos espiritualistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de maio de 1989
Entre Ariela, a ninfeta personagem de Cassandra Rios, que há 10 anos a lançou no cinema nacional, a já amadurecida Ivani, de "Meno Male" (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, até domingo), muita coisa aconteceu na vida de Nicole Puzzi. Paranaense de Floraí - e portanto merecendo a escolha para integrar a série "Bicho do Paraná", com a qual o Bamerindus homenageia o pessoal da terra que deu certo, Nicole Puzzi é hoje uma atriz conhecida nacionalmente. Quando John Herbert, produtor-ator-roteirista-diretor de "Ariela", a trouxe à Curitiba, para a pré-estréia no Cine Plaza, de "Ariela", Nicole era uma garotinha tímida, um tanto assustada pela súbita glória de ter sido escolhida para fazer a personagem criada pela romancista Cassandra Rios - nos anos 50/60, escandalizando o público, hoje até careta.
Nicole, loirinha, tipo mignon - vivendo uma personagem excitante no filme de John Herbert (que utilizou basicamente o sistema de filtros, "para tentar conseguir as cores e efeitos do mestre David Hamilton, o diretor de "Billits", nos dizia na época), passou por mãos de diretores de caça-níqueis da Boca do Lixo mas, felizmente, teve também a sorte de encontrar cineastas competentes, como Walter Hugo Khouri ("Eu", a maior bilheteria em 1988), Bruno Barreto ("Gabriela"), Francisco Ramalho Jr. ("Filhos e Amantes") e Carlos Reichenbach ("Anjos do Arrabalde"), que lhe deram oportunidade de fazer trabalhos de maior dignidade.
Ela própria não sabe exatamente quantos filmes já fez - estariam próximo de 30, a grande parte de pornoproduções, sobre as quais, naturalmente, não gosta nem de lembrar, "Mas só assisti a três", dizia há dois anos (27 de abril de 1987, "O Estado de São Paulo") numa longa entrevista a Maurício Slycer, no qual também revelava o seu lado de espírita, que reencontrou nos ensinamentos de Alan Kardec, "a paz e a tranqüilidade".
- "Não foi bem uma conversão. Eu senti necessidade de um auto-conhecimento diferente: eu tinha certeza que deveria existir alguma coisa além desta Terra. Um dia eu estava desesperada e vi "O Evangelho Segundo o Espiritismo" numa livraria na Rua Maria Paula. Não sabia nem o que era Espiritismo. Ai comprei o livro e todos os outros 16 títulos ligados à matéria. Li em uma semana, não saía de casa. Eu comecei a ler e pensei: parece que eu já sei isso. Daí, meus problemas de cabeça, de medo da morte ou de medo que alguém da minha casa morresse, desapareceram. O espiritismo trouxe para mim a resposta".
A integração ao Espiritismo jamais impediu sua carreira de atriz, mesmo na fase em que fazia pornoproduções tipo "O Prisioneiro do Sexo".
- "O Kardecismo não tem dogma e a coisa mais importante é a caridade - não precisa ser caridade financeira. O importante é você fazer a sua parte no mundo, o máximo que você puder - porque ninguém é perfeito. A perfeição só é de Deus. A gente, tenta".
Até 1979, Nicole ainda encontrava tempo para trabalhar como enfermeira no Hospital Santa Clara, em São Paulo. Era uma forma de se dedicar a um trabalho de auxílio aos outros. Veio então o convite para fazer "Ariela" (antes ela já participava de programas na televisão Tupi, "Ligue e Pague") e as coisas mudaram.
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Quando, ainda menina, de uma família modesta, Nicole - quem diria - pensava em ser feira. Na mesma entrevista a Maurício Slycer, confessou:
- "Eu tinha 12 anos. Ia ser freira, estava para ir para o Colégio, mas eu já tinha essa altura que eu tenho hoje. Quer dizer, eu tinha 1m68 na época, hoje estou com 1m74. Aí minha irmã desfilava e me levou para desfilar também. A gente precisava conseguir um pouco mais de grana, ajudar a família".
Nicole estava mesmo disposta a ser feira. Mas hoje sua opinião sobre a Igreja Católica é diferente:
- "Eu queria ser freira, talvez influenciada pela minha mãe, eu sempre fui uma pessoa muito preocupada com os outros. Eu queria me dedicar só a isso: às pessoas. É por isso que eu queria ser freira. Mas até então eu não sabia da maldade do Catolicismo. Eu acho que o Catolicismo realmente mais prejudicou essa terra do que ajudou. Ele é o culpado pela destruição da imagem de Cristo, ele destruiu a verdade cristã".
Há dois anos, ao falar sobre estes assuntos bastante pessoais, Nicole foi sincera:
- "Eu comecei a ver este lado do Catolicismo quando comecei a ler, a me informar mais. Nessa época, eu era modelo. Então comecei a comprar livros, livros católicos e comecei a ver que aquilo ali não estava batendo direito com o que eu pensava. Na própria escola você vê. É só aprender a respeito da Inquisição. Como é que eu vou conseguir ser católica sabendo da Inquisição? Uma coisa que é podre é podre!"
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Nicole Puzzi está no elenco de "Meno Male", comédia escrita, interpretada e produzida por Juca de Oliveira, com direção de Bibi Ferreira. Na temporada curitibana, Karim Rodrigues substituiu Maria Estela que vinha atuando desde a estréia desta comédia de muito sucesso (começou a carreira em 25 de março de 1987), com Fúlvio Stefanini, Luiz Gustavo, Marcela Rafea e Tibúrcio. O cenário é de Ciro Del Nero - que nos últimos dois anos tem diminuído sua atividades nesta área, já que é o principal executivo do Vídeo Trade Show.
LEGENDA FOTO - Nicole Puzzi e Karim Rodrigues em "Meno Male", a comédia de Juca de Oliveira, em cartaz no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto.
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