Nirez, o trabalho sério do humilde pesquisador
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1991
Miguel Angelo de Azevedo é um cearense magro, tímido, pai de uma dúzia de filhos e funcionário, como bom nordestino, do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, em Fortaleza.
Seria apenas mais um, entre tantos burocratas do órgão, se não existisse o Nirez. Respeitado nacionalmente como um dos mais dedicados e idealistas pesquisadores da música popular brasileira, Nirez, com recursos próprios - e muito poucos recursos, pois sempre foi um homem de posses modestas - formou um dos mais completos arquivos da música brasileira, com milhares de discos 78 rpm, revistas, recortes, documentos, etc., além de outras curiosidades - como uma incrível coleção de carteiras de cigarros que mereceria se transformar em livro de arte patrocinado por alguma multinacional do fumo.
Um grande amigo, já falecido, Descartes Selvas Braga, também apaixonado pesquisador, o auxiliou em sua formação cultural e hoje dá nome a sala-sede do Museu Cearense da Comunicação, onde reúne seu precioso acervo - em sua modesta residência, num dos bairros da capital cearense.
Há muitos anos que, reconhecido nacionalmente pela firmeza de suas pesquisas, o bom Nirez tem sido lembrado para merecer um prestigiamento oficial, mas lá, como aqui em Curitiba, quem se dedica a atividade cultural, ao acervo e a pesquisa, sem ficar badalando os eventuais (e quase sempre medíocres) donos do poder cultural-político, nada consegue.
xxx
Ao longo destes últimos 25 anos, Nirez tem contribuído para muito da memória musical brasileira. Participou de três dos cinco encontros nacionais de pesquisadores da MPB e foi um dos quatro responsáveis (*) pelo levantamento da discografia em 78 rpm da música popular brasileira, que resultaria numa edição referencial indispensável, patrocinada pela Xerox do Brasil, para o conhecimento de nossa música.
Funcionário do mais importante jornal cearense - "O Povo" - onde coordena o departamento de arquivo e pesquisas, Nirez enriquece dominicalmente as páginas daquele jornal com textos e fotos das mais interessantes sobre Fortaleza dos séculos XVIII, XIX e XX, em seus diferentes aspectos. Material, portanto, para revelar o muito de interesse que existe, esquecido na historiografia oficial, não lhe falta. Falta, isto sim, maior apoio para poder fazer chegar aos leitores o resultado de suas pesquisas, que não fique apenas na perenidade momentânea das páginas dos jornais.
Nota
(*) A Discografia da Música Popular Brasileira - 78 rpm, foi elaborado pelos pesquisadores Nirez, Jairo Severiano, Alcino Ramos e Gracio Barbalho. A edição é de 1982, em quatro volumes, patrocinados pela Xerox / Funarte, com apenas 200 exemplares.
Sua finalização e editoração deve-se a Associação dos Pesquisadores de 1975, e que, nestes 16 anos, vem realizando vários projetos através de seus associados, pela preservação, memória e valorização da cultura brasileira.
Enviar novo comentário