Nossos esquecidos músicos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de janeiro de 1975
A homenagem que a Fundação Cultural de Curitiba presta ao entardecer de hoje ao maestro e compositor Bento Mossurunga (1879-1970), inaugurando na Casa Romario Martins (Praça da Ordem) uma exposição com fotos, partituras e objetos pessoais e lançando o seu boletim número 5, com uma síntese de grande pesquisa sobre a vida e a obra que a professora Roselys Velloso Roderjan vem fazendo há quase 10 anos sobre o autor do Hino do Paraná, é, paradoxalmente, um momento de reflexão para um dos mais graves aspectos da perda de nossa memória histórica. Isto porque embora a FCC tenha se lembrado, agora, passados cinco anos da morte do compositor, de providenciar a edição de uma publicação difundindo o seu trabalho, até então, nunca houve por parte das entidades culturais, em especial das duas sociedades que se propõem a "defender" a chamada música erudita, qualquer preocupação no sentido de ser feita a gravação sequer de um compacto de uma obra representativa de Bento Mossurunga. E, afinal, tratando-se de um compositor, o importante é o conhecimento de sua música! Aliás, são poucas as pessoas em nosso Estado que se preocupam em valorizar os nossos compositores, pois num desprezo que demonstra a estreiteza intelectual de muitos dirigentes de entidades culturais, há mesmo quem negue qualquer valor aos homens e mulheres que, desde o século passado, tentaram, na provinciana Curitiba de 20 mil habitantes, criar e divulgar a boa música. Homens como Augusto Stresser, Brasílio Itiberê, Benedito Nicolau dos Santos e tantos outros compositores, maestros e músicos procuraram dar, dentro das limitações da época em que viveram, uma contribuição à arte e à cultura de sua cidade. Independente de julgamentos mais rigorosos sobre o valor de cada um, merecem o respeito e a admiração dos contemporâneos. E para este conhecimento torna-se necessário mostrar a sua obra, revelar as suas composições raramente executadas, muitas permanecendo praticamente inéditas até hoje. Entre as raras pessoas que se preocuparam em pesquisar a nossa música está a professora Roselys Velloso Roderjan, da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, que sem qualquer incentivo oficial, há mais de uma década vem garimpando o campo de nossa música. O professor Benedito Nicolau dos Santos Filho, herdeiro do nome e do arquivo de seu pai, o maestro, poeta e professor Nicolau dos Santos (1878-1956), autor de uma obra teórica chamada "Sonometria e Música" e que deixou muitas operetas ( "A Vovozinha", "O Marumby" etc.), também trabalha numa grande história da música no Paraná, cuja edição é prometida pela Imprensa da Universidade Federal do Paraná. Mas não bastam as pesquisas e o texto. Há necessidade de gravar essas obras, o que afinal não custa tanto assim. O professor Alceu Schwab, um dos homens que sabem amar e compreender a cultura do povo, sem elitismos e preconceitos, quando dirigiu o Departamento de Cultura da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, sonhou em fazer um LP com a nossa Sinfônica gravando exclusivamente compositores paranaenses. Mas o seu projeto não teve o apoio necessário e assim a nossa memória musical continua cada vez mais esquecida.
LEGENDA FOTO 1 - Roselys
LEGENDA FOTO 2- Bento
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