A nova música de Pink Floyd e o dia politico de Lennon/Yoko
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de fevereiro de 1973
"O rock dos Beatles é o que os ingleses fizeram do rock de Elvis Presley. O rock de São Francisco é o que os americanos fizeram do rock dos Beatles. E
o rock do Pink Floyd é o que os ingleses fizeram do rock de San Francisco" Roberto Muggiati(1)
1972 foi o ano em que os brasileiros conheceram a música de Pink Floyd. Muitos adjetivos podem ser lembrados para definir a criatividade musical deste quarteto: musica espacial, musica do futuro, cósmica, vanguarda, cibernética etc. Mas as simples palavras jamais traduziriam todo o universo deste conjunto. Atualmente em Paris, apresentando-se em espetáculos que tem merecido a mais ampla cobertura da imprensa mundial, os rapazes do Pink Floyd levam ao extremo todas as potencialidades na relação ambiente som. "Atom Heart Mother" e "Meddley" foram os álbuns com os quais, finalmente, a Odeon colocou ao alcance do público brasileiro a musica do Pink Floyd, hoje já com sete álbuns gravados e constantemente requisitados para elaborarem trilhas sonoras de filmes - "More", "La Valée"(Barbet Schoeder) e "Zabriskie Point" (Antoioni) - todos inéditos no Brasil. E como os filmes permanecem inéditos no Brasil e a vinda do conjunto do nosso país (2) é bastante improvável, a Odeon, felizmente, lançou em seu primeiro suplemento de 1973 a soud-track do filme "La Valée"(3), com o título de "Obscured by Clouds" (Emi/Odeon-463) - um pouco diferente da explosão sentida em "Meddley" e "Atom Heart Mother", mas sempre aquilo que se pode definir de um "soco no ouvido". A jornalista Nina Chaves (4), relatando o espetáculo do Pink Floyd em Paris, escreveu: "Quatro rapazes, com suas "tee shirt" desbotadas, cabeleiras sem pentear, movimentando botões, de olho nas suas guitarras e instrumentações de som. Saídos de fumaças azuis, laranjas, rosas, douradas. Envolvidos pôr elas, e pôr reflexos de imensa bola de fogo. Em recitais de apenas 40 minutos, onde mostram seu som em apenas cinco musicas. E catalizam a platéia. Estão sempre longe, como numa "viagem" sônica, acompanhada de corpo de baile e ballé moderno (50) dançarinos do (Ballé Roland Petit), numa experiência nova na carreira.
Carregam nove toneladas de amplificadores, uma "sala de ecos". E seu som é uma tempestade, furiosa música jamais tocada do mesmo jeito, o que, no caso dos "shows" ao vivo os obriga a reaprender o que eles mesmos compuseram.
- David Gilmour, Roger Waters e Nick Mason, mais Brick Wright (órgão). Estudaram arquitetura em escola da Regent Street e formaram seu grupo em 1965, para compor e estudar sons, isolados, improvisando sua musica em composições de Syd Barret.
Logo depois criado em Londres o movimento "light show em que som e luz faziam parte de um mesmo espetáculo e se entrosavam, os Pink foram incumbidos de fazer o som. Foram descobertos ai pela gravadora. Seu primeiro disco, "Arnold Layne" apresentando como música contemporânea". Depois "See Emily Play", acolhido pela crítica inglesa. Mas o público nem sempre os entendeu. David Gilmour entrou no grupo em 1968 e começaram a produzir concertos como o chamado "sound equipament". Que os levou a criar o sistema de som quadrifônico. Iluminação cênica diferente de tudo o mais até ali feito, chamaram Arthur Max, de Nova York, craque da coisa. Com muitos jogos de luz em cena, muitas toneladas de tintas nas fumaças e muita potência na aparelhagem, eles hoje vendem a musica dos pássaros, os sons do delírio, musica delirante que a juventude descobriu e agora apresenta aos mais velhos. Ao lado das trilhas sonoras que compuseram, acabam de participar de um documentário: Pink Floyd em Pompéia", quando fizeram um "apocalipse eletrónico" no meio das ruínas de Pompéia. Em março, farão um novo álbum - "The Dark Side Of The Moon". Produzindo sons totalmente novos mas dentro de uma extraordinária musicalidade, jamais agredindo o ouvinte com sons altos, o Pink Floyd ascendeu como o mais importante grupo de musica contemporânea jovem, na atualidade. O reconhecimento da crítica local, incluindo seus dois álbuns editados em 72 no Brasil entre os 10 melhores do ano, foi fato mais do que justificável. O clima futurista de suas gravações é explicado pôr Gilmour: - "Somos quatro pessoas que trabalha juntas sobre uma musica. Não vejo comparações entre antes e hoje. Todos interessados pela science fiction. Os peços que nós compomos tem o feeling da Science Fiction".
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LENNON E YOKO, PARA NINGUEM BOTAR DEFEITO.
Entre o John-Aoko de "Two Virgins" (5), de maio 1963, ao Lennon-Ono deste "So "The Virgins" (5), de maio de ( Apple/Odeon, PSCP 716, janeiro/73), gravado em março de 1972, em comemoração ao nosso terceiro aniversário", existe uma enorme distância.
O casal contestador que chocava mesmo a Swinging London de seis anos atras aparecendo nus (completamente) na capa e contracapa de "Two Virgins" e apresentavam um álbum da mais absoluta curtição de sons ininteligíveis (e insuportáveis a partir da segunda faixa), agora explode com um álbum dos mais respeitáveis - dois lps com musicas de contestações sim, mas politicamente justificáveis, dentro de uma linha harmoniosa de criação artística. Recorrendo mais uma vez ao bom amigo Roberto Muggiatti, um dos mais bem informados "disc review" da Guanabara, é de se lembrar que embora "Some Day In The New York City" tenha muita coisa de panfletário - Angela Davis, Attica State, Irlanda, Women's Lib Nixon & Mao - os temas lembrados nas canções, não deixam de mostrar uma nova face da controvertida personalidade de Lennon Yoko. Apresentando o álbum duplo em forma de página de jornal, John & Yoko, acompanhados pêlos dois conjuntos que formaram nestes últimos 2 anos - Plastic Ono Band e Elephant's Memory "plus Invisible Strings", desfilam uma seleção de composições do melhor nível, como a em homenagem a Angela Davis ("Angela they put you're one of the milions of political prisioners in the Wold"). O Women's tem uma canção que provavelmente fará a Sra. Betty Fridman incluir o casal entre os sócios honorários do movimento: "Woman is the Nigger of the World". A Irlanda em sua guerra civil trágica e sangrenta está presente em duas musicas com belas letras: "The Luck of the Irish" (composta em novembro de 1971) e "Sunday Bloody Sunday" (de fevereiro/72). A solidão da grande metrópole está em "New York City", composição exclusiva de Lennon. Já Ono é a autora de "Born In a Prision". Para alguns críticos, incluindo da revista "Rolling Stone" (6). "Some Time" foi um decepcionante álbum. Pode ser, se comparado ao elogiado álbum sem nome que fizeram posteriormente que permanece inédito no Brasil ou no seu último disco. "Approximately Infinite Universe", recém lançado nos EUA. Mas em termos do Lennon e Yoko conhecido, editado entre nós, nos parece ser este "Some Time" um álbum consciente e honesto até onde as relações arte-política-sucesso podem conviver.
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O LIRISMO DE JAMES TAYLOR
Dificilmente as notícias sobre a vida pessoal de um artista podem influir na fria analise do disc-review. Mas no caso do noivado (ou casamento) de James Taylor e Carly Simon teve um sentido especial. Ambos premiados com Disco de Ouro em 1972, pela boa vendagem de seus álbuns, o encontro físico destes dois compositores-instrumentistas-intérpretes é uma complementação de estilo. Em plena fase do chamado "sompesado", em que conjuntos e solistas procuram violentar cada vez mais os ouvidos de seu (jovem) público, a presença de Taylor e Carly no universo de musica jovem foi algo muito importante no último ano. Sensíveis, procurando alcançar o público de suas músicas, estes dois artistas - até agora trabalhando isoladamente trouxeram uma contribuição das mais importantes. E felizmente James Taylor - assim como Carly Simon - não pretende afastar-se deste caminho, a julgar pelo mais recente álbum, de Taylor, "One Man Dog" (Continental/ Warner Brothers 5.024, janeiro/73), um dos mais vendidos nos EUA e também fazendo boa carreira no Brasil. Com sua guitarra pouco eletrificada e suave voz, Taylor apresenta novas musicas - "One Man Parade", "Nobody But You" "Chili Dog", "For For You", New Tune", "Don't Let Me Be Lonely "Tonight" "Hyin", "Mescalito", "Dance " e "Jig" faz duas faixas instrumentais e ainda aproveita temas de domínio público ("One Morning In May") e de outros compositores: "Back on the Street again"(Kortchaman), "Woh, Don't You Know" e "Someone" (John McLsughlin). Um disco de bom nível e que só acrescenta novos pontos a sua até agora respeitável fonografia.
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AVULSAS
Lançado entre 1971/72 como o grande nome para substituir aos ídolos cansados do universo pop, Mac Bollam e seu grupo T. Rex ainda não conseguiu impressionar aos mais exigentes e mesmo junto ao público jovem seu prestígio ainda não é dos maiores. Após o primeiro álbum do T. Rex ("Bogin Boogie", Phonogram, agosto/72) e de um álbum pela Odeon ("The Slider"), a Phonogram volta a investir em Bolan e seu conjunto "T. Rex" (Club Records Production Phonogram, 2326004, janeiro/73) traz uma nova colocação de musicas de Bola, dentro de seu estilo hard: "The Children of Rarn", "Jewel", "The Visit", "The Time Of Love Is Now" etc. Enfim um álbum para o público específico. Neste disco, Bolan (guitarra, órgão, vocais) é acompanhado por Micky Fin. (bateria baixo), Howard Kaylan e Mark Wolman . * Jim Croce é um "new face" que a Phonogram está lançando no Brasil: o lp original Vertigo, "You Don't Mess Around With Jim" nos traz este novo vocalista, cantor, compositor e guitarrista apresentando 12 músicas próprias. Acompanhando um grupo afinado, entre os quais o contrabaixista Joe Macho. * Numa embalagem econômica, para quem não pode comprar os lps individuais, a Phonogram reuniu os principais contratados da Island Records no álbum "Island Songs" e assim temos faixas com os grupos Spooky Tooth, Uriah Heep, Free, McGuinness Flint, além dos vocalistas Luther Grosvenor, Alan Bown, Jimmy Cliff (acompanhado pelo grupo Jamaica), Sandy Denny, Mike Harrison, Jim Capldi, Nick Drake e o sensível baladista Cat Stevens. * Mais um conjunto inglês que a Phonogram lança no Brasil, através da sofisticada etiqueta "The Famous Charismas Label": o Lindisfarme com o álbum "Dingly Dell". O grupo gravou exclusivamente composições de um certo A . Hull, provavelmente líder do grupo. * E ainda da Phonogram, mais um conjunto: Stone The Crows, formado pôr Colin Allen, Maggie Bell, Ronnie Leahy Jimmy McCullech, Steve Thompson e Leslie Harvey no álbum "Continuous Performance.
LEGENDA FOTO 1 - JOHN LENNON
LEGENDA FOTO 2 - PINK FLOYD
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