Novo horário artístico e a nostálgica Fernanda
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de maio de 1980
A apresentação da orquestra sinfônica de câmara I Solisti Del Barocco, sábado, no Guairão, não só foi um espetáculo musical do mais alto nível, mas representou também a feliz idéia que as diretorias da Fundação Teatro Guaíra e da Pró Música tiveram em testar um horário alternativo. Ouvir um grupo de seis violinistas, dois violoncelistas, dois executantes de violas, mais um contrabaixo e o cravista Riccardo Castagnone, com peças de Antônio Vivaldi (1676-1741), Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736),
Giuseppe Giulano (século XVIII) e Gioac - chino Rossini (1792-1868), na tarde de um sábado, é um programa comum em metrópoles como Londres, Nova Iorque ou Paris - mas inusitado em Curitiba. Um bom público compareceu e, o que é principal, foi aberto mais este espaço, tanto é que o engenheiro Eduardo Garcez Duarte, presidente da Pró-Música, já confirmava que o concerto da Academy Of Saint Martins in the Fields, de Londres, dentro de um mês, também será na tarde de um sábado. A realização do concerto vespertino de I Solisti Del Barocco não foi apenas para testar o horário. Foi a inteligente fórmula que Marcelo marchioro, diretor de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra, encontrou para conciliar a única oportunidade de não se perder nem o concerto, nem a temporada de << É >>, de Millor Fernandes. Após 45 dias de casas lotadas em Porto Alegre, esta peça que Fernanda Montenegro e Fernando Torres encenam, ininterruptamente desde março de 1977, teria as últimas apresentações em Brasília, onde estréiam na próxima sexta-feira. So mediante muita insistência da FTG, Fernando e Fernanda aceitaram parar em Curitiba, aqui mostrando a inteligente comédia de Millor Fernandes, um dos melhores espetáculos teatrais montados no Brasil nos anos 70 - e que teve bom público em suas 4 encenações. Obviamente, se repetiria aqui o que ocorreu no Rio, São Paulo (durante um ano) e em Porto Alegre: a cada noite aumentaria o público, já que não há quem não se entusiasme como humor que faz pensar desta peça sobre o casamento e seus problemas.
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Sábado, o governador Ney Braga e dona Nice, amigos há anos do casal Torres, foram os primeiros a cumprimentá-los, após a apresentação da peça. Mais tarde, junto com dois ex-superintendentes do Teatro Guaíra - e velhos amigos - o advogado Octávio Ferreira do Amaral Neto e ator Maurício Távora, Fernanda Montenegro fez questão de ir jantar no esfumaçado Bar Palácio. Levada quase por uma razão nostálgica: em 1955, quando, em início de carreira, junto com a Companhia Tonia Carreiro-Adolfo Celi-Paulo Autran, esteve em Curitiba, apresentando amplo repertório salvador de Ferrante (entre outras peças, << A Moratoria >> e << Mirandolina >>), Fernanda e os colegas do elenco iam jantar no Palácio então localizado no velho prédio da mesma Rua Barão do Rio Branco, onde hoje existe o Cine Vitória. Apesar do cansaço e das poucas horas que passou em Curitiba, Fernanda e Fernando mostraram-se dos mais atenciosos com todos que os procuraram, tanto é que no domingo, antes do vesperal, tiveram um debate com estudantes, no Teatro. Fernanda acaba de terminar sua parte na adaptação que seu amigo Leon Hirzmann fez para o cinema de << Eles Não Usam Black Tie >>, de Gianfrancesso Guarnieri. Aliás, foi Hirzmann que dirigiu Fernanda em seu primeiro filme, << A Falecida >>, 65, onde contracenava com Paulo Gracindo - que viria dividir com ela outro importante filme - << Tudo Bem >>, de Arnaldo Jabor, que há 2 anos lhe valeu mais um moliére em sua carreira.
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