O bom exemplo do rádio na valorização do jornalismo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de julho de 1988
Mais uma prova de como o rádio bem administrado em termos jornalísticos pode senão vencer, ao menos empatar, na batalha das comunicações: os US$ 7 mil que a Rádio Clube Paranaense investiu para a cobertura do caso Bruna, enviando o repórter Olavo de Souza a Israel, reflete-se no conceito que a mais antiga emissora do Paraná - e a terceira do Brasil - se mantém com energia e vigor. Ao contrário de milhares de outras, entre AMs e FMs, que contribuem para uma programação imbecilizante e pasteurizada, servindo apenas à ganância de seus concessionários - ou, quando, no máximo, a interesses políticos.
A entrevista-perfil com o repórter Olavo de Souza, que ocupou oito das vinte e oito páginas do "Almanaque", na edição de domingo de O Estado do Paraná, vale como um documento jornalístico não só sobre o trabalho profissional de Olavo - que não conhecemos pessoalmente, mas que merece nosso respeito e admiração - colocando luzes em pontos até hoje pouco claros de uma fato que mais do que o emocional, exige a reflexão sobre problemas que vão além do seqüestro de uma criança e da batalha judicial para seus pais conseguirem trazê-la de volta a Curitiba.
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A feliz idéia que o editor do "Almanaque", jornalista Dante Mendonça, teve em entrevistar o único profissional da imprensa brasileira que, durante 43 dias, acompanhou a via-crucis de Rosilda Vasconcelos, e de seu marido, o eletricista Luís Américo, em Israel, possibilitou que os leitores de O Estado tivessem uma visão de bastidores dos fatos, sabendo mais sobre o casal que havia adotado a menina Bruna, Jacob e Simba Tourdjammne e, principalmente, a falta de apoio que o Brasil - através de sua Embaixada, deu aos acontecimentos. Sem meias palavras, Olavo de Souza colocou o pingo nos "is", criticando inclusive a falta de apoiamento estratégico junto aos aeroportos de Londres e mesmo São Paulo, quando do retorno da família Vasconcelos - o que, afinal, não seria difícil. Em compensação, o carnaval que foi armado para tirar dividendos políticos da "vitória brasileira" - como foi transformado o final feliz desta novela - em sua chegada a Curitiba, mereceu do radialista a classificação exata: "uma palhaçada!"
Entrevistado pelos jornalistas Dante, Claudio Della Benetta, Gilcemara Cornelsen e Mai Mendonça - que editou o material e sintetizou o espirito da matéria, num perfeito texto de apresentação (o que aliás a caracteriza, como nossa melhor profissional na exaustiva arte de transcrever entrevistas gravadas para a linguagem jornalística), Olavo de Souza, 37 anos, catarinense de Corupá, passagens por várias emissoras de diferentes estados e que hoje é repórter policial da PRB-2, falou de forma clara, objetiva - e sobretudo - sincera. Resultado: generosamente ofereceu um depoimento importante, assim como, em Israel, mesmo praticamente sem falar inglês e sem vivências de coberturas internacionais, foi durante semanas, o elemento de ligação com experimentados jornalistas de várias partes do mundo.
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Há algumas semanas, na condição de novo presidente da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Estado do Paraná, que congrega 272 estações de rádio e 17 geradores de televisão, o veterano João Lydio Seilles Bettega, 53 anos, 38 de radiofonia, em longa entrevista também à Mai Nascimento Mendonça, fez preciosas colocações sobre as potencialidades do rádio. Com a experiência de quem dedicou toda uma vida a fazer rádio no Paraná - e hoje dirige três emissoras (Caiobá FM, Ouro Verde FM e Difusora AM 590), que tem público específicos por uma série de razões que não cabem num curto registro de jornal.
Quando uma emissora como a PRB-2 investe numa cobertura como a do caso Bruna, enviando a Israel um profissional (até então desconhecido) e se integra nos acontecimentos (assim como a televisão inglesa foi quem deu as condições materiais para Rosilda Vasconcelos recuperar a posse de sua filha), abrem-se novos leques para interpretações e debates sobre a função dos veículos de comunicação. Abrindo suas páginas ao mostrar um pouco sobre o repórter Olavo, suas opiniões e seu trabalho no exterior. O Estado também deu sua contribuição. E se espera que, no final do ano, quando há tantas (e discutíveis) relações de "melhores" e "destaques" o trabalho da Rádio Clube e, particularmente, de seu profissional, tenham o devido reconhecimento.
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