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Aramis

O hotel & o tempo

Depois de ter sido por 62 anos um dos mais tradicionais hotéis do Sul do Brasil, o grande prédio da família Caillet, na Rua XV de Novembro, voltará a ser ocupado por um estabelecimento do ramo: o hoteleiro português João Martins Correia, associado a um forte grupo empresarial, está ultimando as negociações para ocupar o prédio, que se encontra fechado há quase um ano, como hotel para turistas. xxx Inaugurado em 1913 pelo hoteleiro Francisco Johnscher (1885-1962), o Grande Hotel Moderno era um marco de Curitiba e seu fechamento, em setembro do ano passado, foi motivo de tristeza não só para os seus hóspedes tradicionais mas, principalmente, para os velhos curitibanos que se habituaram, ao longo de várias décadas, a fazer o [aperitivo] em seu bar no estilo inglês ou jantar em seus salões imensos. Com uma decoração de fim do século passado, um conjunto de violinos, o Grande Hotel era endereço elegante da cidade, mas, assim como ocorreu no hotel-personagem do best-seller de Arthur Halley, também este acabou sofrendo com o passar dos anos, a concorrência de estabelecimentos mais dinâmicos e, num final melancólico, cerrou suas partes - assim como outro estabelecimento da mesma família, o Johnscher, na Rua Barão do Rio Branco, inaugurado em 1911, que fechou em princípios de 1975. xxx O lusitano Julio Martins Correia, proprietário do Hotel Amazônia, inaugurado há 6 anos na Rua Ébano Pereira vai aproveitar o prédio para um hotel turístico, utilizando apenas de uma pequena entrada e com 70 apartamentos a partir do primeiro andar. O amplo térreo - excelente ponto comercial - já foi alugado, mediante, evidentemente, o pagamento de altíssima luva, ao grupo paulista das lojas Arapuã. Assim, onde durante décadas, havia salões com poltronas de veludo, paredes recobertas com obras de arte e no qual garçons impecavelmente trajados serviam finos coquetéis e bem preparados jantares, dentro de algumas semanas haverá jovens balconistas correndo para atender clientes atraídos pelas "sensacionais ofertas" que caracterizam o marketing comercial da cadeia Arapuã. xxx Espera-se que os luminosos da fachada da loja não sejam de mau gosto. Afinal, ao menos esteticamente, o velho edifício construído por Maurício Caillet há 63 anos não merece este triste destino.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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29/07/1976

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