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Aramis

A palavra de Ermírio de Moraes

Em 1956, quando houve o primeiro jantar da Boca Maldita no Grande Hotel Moderno, o presidente era Juscelino Kubistchek de Oliveira, eleito um ano antes - iniciando aquele que foi o governo das grandes metas. Nestes 33 anos de existência da Boca, a política sempre foi um componente dos pratos servidos ao jantar - nos primeiros anos no Grande Hotel, depois passando para a Sociedade União Juventus, com a arte culinária de tia Anastácia (só com a sua morte, o jantar transferiu-se para o Thalia, após um intermezzo de um ano em que esteve no Atlético). Seria de se esperar que realizado quatro dias antes das eleições presidenciais, após um jejum de 29 anos, o jantar de quarta-feira se transformasse num caldeirão de apaixonados discursos políticos. Isto não aconteceu. O próprio orador oficial da noite, Cândido manoel Martins de Oliveira, observou que, inteligentemente, ninguém levantou a questão se Lula ou Collor será o novo presidente, pois a Boca está acima de questões partidárias - "voltada a visões mais amplas do Brasil, seus problemas, sua realidade". E quem, com muita felicidade, transmitiu toda esta dimensão política maior foi o convidado de honra, Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim, um dos dez homens mais ricos da América do Sul e que após a sua única experiência eleitoral - há três anos, em São Paulo resistiu a todos os apelos para voltar ao campo de batalha político, o que o teria feito, sem dúvida, um dos dois candidatos que disputam agora a reta final. Com uma grande tranqüilidade, desenvolvendo um raciocínio claro, objetivo e descontraído, Ermírio de Moraes começou com um gancho bem humorado: referindo-se ao fato de que estava justamente num jantar, comparou o Brasil com as necessidades que tem o homem para sua alimentação - carboidratos, gorduras e proteínas. A partir deste mote, o presidente do grupo Votorantim falou sobre energia, desenvolvimento, saúde, educação, qualidade de vida, livre iniciativa, dívida externa, fortalecimento da iniciativa privada, valorização empresarial e competência administrativa, terminando com palavras de otimismo e fé no futuro, destacando que vença quem vencer, aqui continuará, "trabalhando e acreditando no Brasil". Interrompido várias vezes por entusiásticos aplausos - e, ao final, com as 500 pessoas ali presentes, em pé, demonstrando o apoiamento as suas posições, Ermírio de Moraes não desceu, em nenhum momento, a discussão política e apesar, naturalmente, do tom conservador de seu discurso - de improviso, sem recorrer sequer as anotações prévias - muitas idéias expostas mostraram o lado liberal e mesmo oposicionista que o fez uma das presenças mais fortes do mundo empresarial brasileiro. Pedindo licença aos muitos desembargadores e juízes presentes ao jantar - entre os quais Luís Gastão Carvalho, presidente do Tribunal de Alçada, Ermírio não teve meias palavras ao criticar a Justiça e defender a necessidade de uma reforma profunda neste Poder, "pois, infelizmente, no Brasil, a Justiça não funciona a contento e o resultado é o mar de corrupção que se viu nos últimos anos". - Não há de se ter medo da Justiça, mas sim, queremos ver a Justiça, reformulada, funcionar. Lembrando números e cifras em muitos momentos, para subsidiar suas idéias, falando da importância do país honrar seus compromissos - e defendendo assim o pagamento da dívida externa, "sem o que o país perderá totalmente sua credibilidade internacional", Ermírio deu ênfase aos setores que, como empresário, tão bem conhece: petróleo, petroquímica, siderurgia e energia. Ao final, lembrando que dentro de três dias, os brasileiros terão que fazer a mais importante escolha da história política, o empresário frisou sua esperança de que ganhe quem ganhar, exista a certeza de que a cada cinco anos possamos escolher um novo presidente e que este - eleito agora, ou no próximo governo, tenha duas qualidades básicas: a humildade e a responsabilidade. LEGENDA FOTO - Ermírio de Moraes: o grande discurso da noite.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/12/1989

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