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Aramis

O "Shock" de Jair com voltagens de suspense

Quem está na cidade, cuidando da estréia de "Shock " ( cine Lido I, a partir de hoje ) é o cineasta Jair Correia, 28 anos, 25 filmes em 10 anos de carreira. Elogiado pela critica paulista que anteriormente já havia recebido com simpatia dois outros longa metragens que dirigira ( "Duas Estranhas Mulheres", 1981 e " Retrato Falado de uma Mulher sem Pudor", 1982 ), este novo filme de Jair chegou a ser inscrito para o XII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado ( 9 a 14 de abril/84 ), Dentro de abertura daquela mostra em aceitar filmes independentes, produzidos em São Paulo, " Shock" encontrou defensores para sua participação, mas na votação final foi prejudicado pela inclusão de " Extremos do Prazer", de Carlos Reichenbach - nome exponencial da " Boca do Lixo " e " Tensão no Rio", de Gustavo Dahl,o pior filme levado, ao festival este ano e possivelmente o maior desastre cinematográfico financiado pela Embrafilmes em toda sua história. xxx Produção modesta CR$ 80 milhões ( só para comparar : " Memórias do Cárcere" custou Cr$ 1.500.000.000,00 e " Quilombo" ficou em Cr$ 4 bilhões ), "Shock" é o terceiro longa metragem de Jair Correira, em 22 fitas anteriores foi fotógrafo, montador, assistente de direção etc. " Tudo isto me deu uma grande experiência, especialmente para o bom acabamento das fitas" explica. Com sua ação totalmente desenvolvida num único cenário, fazendo uma espécie de autópsia dos sonhos e frustações de geração reprimida por 20 anos de ditadura, "Shock" não chega a ser um filme policial, como aparentemente alguns criticos o classificaram " São Personagens - diz Jair encurralados dentro de um quarto, eu queria que o filme mostrasse exatmente como se comportam os seres humanos sob alta tensão, em situações de aprisionamento". xxx O bom acabamento técnico é um dos aspectos que Jair faz questão de destacar: a fotografia de Tony Rabatoni, a direção de arte de Sergio Dias Reis ( " que me ajudou a dar um tom geral azulado a todo o filme, coisa que nunca foi feita pelo cinema nacional"), uma cuidadosa trilha musical ( coordenada por Palhinha Cruz do Vale, com uma canção do próprio Jair ), são realcados pelo diretor, que embora esteja já cuidando de dois novos projetos uma comédia ao estilo de Jacques Tati ( " Camping" ), de censura livre, ou uma superprodução internacional, para televião 'está se preocupando em acompanhar a estréia de " Shock " nas principais praças. No elenco, há nomes conhecidos: Aldine Muller, atriz massacrada em inúmeras pornochanchadas tem um papel digno ( o filme tem apenas uma cena de nu e nada que lembre as pronoproduções da Boca do Lixo ), é a personagem "Isa". O paranaense Elias Andreato ( irmão do artista Elifas ) é o ator principal e Mayara Magri a jovem revelação do ótimo " A Próxima Vitima" de João Baptista de Andrade ( que continua em exibição no cine Groff ) também Atuam ainda Claudia Alencar, Kiko Guerra, Taumaturgo Ferreira Caio Prado e outros atores menos conhecidos do eixo teatral e cinematógrafico de São Paulo. xxx Entre muitas criticas simpaticas a " Shock" está a de João Cândido Galvão ( " Veja", 14/3/84 ), que mesmo fazendo restrições aos diálogos, escreveu: "Fascinado pelo mistério e bom observador dos filmes americanos de suspense, Correia aprendeu como contar bem uma história brutal e violenta. A ação se passa em 12 horas, nas quais o diretor consegue mostrar o efeito destruidor do modo sobre as personalidades. A fotografia de Tony Rabatoni mergulha os atores numa sufocante atmosfera azul de aquário e os personagens agem bem. Uma falha está nos diálogos, artificiais a ponte de, às vezes, beirarem o ridiculo. Mas tudo é salvo pela câmara lenta e tensa o pelo pulso do diretor com os atores. As caminhadas do assasino levam a tensão até o fim, num desfecho engenhoso e surpreendentemente. Mais surpreeendentemente é que, no Brasil, alguém faça com competência um filme de terror e suspense". xxx Como "Shock" estréia no lido I, só nos preocupa uma coisa: será que "Jango", desde março lotando cinemas em várias capitais, não resistirá ao menos uma semana em Curitiba?. Será mais uma confirmação de que o nosso público, realmente, não sabe apreciar os bons filmes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
18/05/1984

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