O som do piston de Araken, na noite e para românticos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de outubro de 1986
De uma família extremamente musical - o pai, Elizário, conhecido por Cadete, tocava violão, a mãe, dona Alice, tocava bandolim, o tio, Nonô (Romualdo Peixoto) era pianista e homem de rádio, o primo Ciro Monteiro foi cantor e compositor famoso, os irmãos, Caubi - cantor da maior popularidade nos anos 50 e Moacir, pianista de jazz de mãos cheias, Araken Peixoto é um dos grandes pistonistas da noite carioca e paulista.
Como conta o famoso Boni, o poderoso tycoon da Globo, Araken Peixoto costuma defender a tese de que "o dia é para dormir". De dia, diz Araken, as pessoas estão agitadas, correndo, não dá pra viver. Mas a noite é mágica. Logo ao primeiro scotch vem a paz. O papo fica solto, informal. Pintam novos amigos, velhas amizades se fortalecem e o romantismo brota por todos os poros. E esta é a hora de Araken tocar aquilo que ele gosta - e que agrada o público dos ambientes agradáveis nos quais, desde os anos 50, faz temporadas longas, ele que nunca deixou de trabalhar na noite.
Há alguns anos, Armando Aflalo produziu um belo disco com o pianista Moacir Peixoto mostrando seu lado jazzístico. Agora é José Nogueira Neto que realiza um disco encantador com Araken Peixoto ("Um Piston Dentro da Noite"), no qual acompanhado pelo irmão Moacyr Peixoto em algumas faixas ("Nature Boy, "Estate", "It Ain't Necessarily So", "Bewitched", "Flamingo" e "You Must Believe In Spring") e Moacyr Zware nas outras ("As Time Goes By", "Who Needs Forever", "You´re My Thrill", "Flamingo"), mostra toda sua competência no pistão. Sem nunca ter ido aos Estados Unidos, Araken - como o irmão Moacir - optou pela escola americana, "tocando limpo e claro, arredondando o som" como diz Boni.
Preferindo sempre o repertório americano, dos grandes mestres, Araken levou o seu som a bares como Baiuca, Drink´s, Bon Gourmet, Captain´s Bar, Trianon, entre outros endereços boêmios do eixo Rio-São Paulo.
Agora, finalmente, num elepê muito bem produzido - e no qual há também participações de músicos como Manuel de Paiva Gusmão no baixo acústico, a bateria de Wilson Bergamini, José Ordenez no baixo elétrico e Adil Andrade de Oliveira (bateria) temos um disco da maior suavidade - daqueles que se escuta com imenso prazer, repetidas vezes.
Como acentuou Ruy Moraes, do "Jornal da Tarde", este belo disco de Araken funciona como uma antologia de standards norte-americanos - trazendo por exemplo "It Ain´t Necessarily So" que, poucos sabem, pertence à ópera "Porgy and Bess" de Gershwin (agora, sendo montada no Rio de Janeiro) ou "Someone to Watch Over Me", um delicioso pedido de proteção sentimental que foi ouvido, pela primeira vez no show "Ph, Kay", em 1926.
Enfim, um disco para fazer amor. Perfeito...
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