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Aramis

O som que Vargas inspirou para ajudar os brizolistas

A partir da próxima semana o Movimento Nacional Leonel Brizola intensificará as vendas do primeiro produto cultural destinado a engordar o cofre da campanha do PDT: um disco intitulado "O Grande Presidente", idealizado e produzido por Aluízio Falcão, com o selo da "Idéia Livre" e que descontados o custo industrial, terá toda sua renda destinada a fazer fundos na campanha para levar Brizola ao Palácio do Planalto. Na contracapa do álbum, ilustrado com uma foto a cores, o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, lembra que as músicas que falam de Getúlio - selecionadas por Aluízio e o pesquisador Jairo Severiano - "Mostram que houve um tempo de fraternidade entre o presidente e os brasileiros. Marcando carinhosamente em versos e melodias a imagem do presidente Vargas, os compositores populares refletiram esse estado de espírito nacional. Quem poderia imaginar, nos dias que correm, tal comunhão emocionada entre governantes e governados? Os humildes, que elegeram Vargas o maior líder da história republicana, sempre tiveram uma noção mais correta da história republicana do que certas elites empenhadas em deformar seu papel renovador. Os pobres souberam ver, na figura do grande presidente, o primeiro agente da modernização da sociedade brasileira. Transformações tecnológicas, direitos trabalhistas, avanço industrial, exploração soberana das riquezas minerais, tudo isso foi percebido claramente pelas massas, que eternizaram Vargas em sua memória. O povo não esquece". xxx Há cinco anos, quando dos 30 da morte de Getúlio Vargas, o pesquisador Jairo Severiano publicou uma monografia sobre a presença do estadista gaúcho na música brasileira, inventariando todas as composições que se referiam, direta ou indiretamente, a sua pessoa. Com base nesta pesquisa, o publicitário, jornalista e produtor cultural Aluízio Falcão, pernambucano, ex-assessor de Miguel Arraes e que foi quem proporcionou a Marcos Pereira (1930-1980), criar a grande etiqueta da música brasileira, há muito tempo pensava em fazer um disco getuliano. Nos discos Marcos Pereira não foi possível desenvolver o projeto e passando pelo Estúdio Eldorado, do grupo "O Estado de São Paulo", nem chegou a levantar a idéia: "Os Mesquitas nunca gostaram de Getúlio", comenta. Agora, com apoio de vários amigos de Brizola - e identificados aos pensamentos de Vargas - Falcão realizou um disco-documento excelente. Dois dos melhores cantores brasileiros, pedetistas e integrados na campanha de Brizola - João Nogueira e Beth Carvalho, gravaram as músicas. João Nogueira, 49 anos, é hoje contratado da Idéia Livre e não houve problemas para sua participação. Já com Beth Carvalho, 43 anos, presa a um contrato rigoroso com a Polygram, houve necessidade de demoradas negociações para ter a liberação e poder valorizar este documento sonoro, que vai desde "Diploma" (Henrique Gonçalves), lançado originalmente por Moreira da Silva (outubro/1942), dois meses depois da declaração de guerra do Brasil e Alemanha e Itália - e em cuja letra, Getúlio é citado, até as canções que Edu Lobo / Chico Buarque criaram para a remontagem da peça "Dr. Getúlio, sua Vida, sua Glória". "O Grande Presidente" (Pandeirinho), "Sessenta e Um Anos de República" (Silas de Oliveira / Mano Décio da Viola), "Legado de Getúlio Vargas" (Silas de Oliveira / Walter Rosa), "Ele Disse" (Edgar Ferreira), "Vinte e Quatro de Agosto"(Jaguarão), são alguns dos sambas que enalteceram Vargas. Mas a mais conhecida de todas as homenagens musicais foi a marchinha "Retrato do Velho" (Haroldo Lobo / Marino Pinto), que no Carnaval de 1951, na voz de Francisco Alves, comemorava a vitória de Vargas, com 3.984.040 votos (um milhão e meio sobre o seu oponente, o brigadeiro Eduardo Gomes) nas eleições de 1950. Completando o caráter documental desta produção, há também "Trabalhadores do Brasil" (Luiz Wanderley), em dueto de João e Beth, e o "Hino da Legalidade" (Demostenes Gonsales / Lara de Lemos / Paulo César), somente com orquestra e coral. O jornalista Moacyr Andrade, no texto interno, fala das relações afetivas que Getúlio Vargas sempre soube manter com a classe artística e, especialmente, a atenção que dava a música popular (foi um dos maiores amigos das irmãs Linda e Dircinha Batista). Documentalmente uma peça que produzida dentro de um momento político importante, "O Grande Presidente" destina-se a ser um colector's item no futuro. O que, por si, já justificará sua aquisição - mesmo por aqueles que não irão votar em Brizola.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/06/1989

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