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Aramis

Os bons filmes que voam na programação

São curiosos os caminhos da programação cinematográfica. Enquanto uma comédia limitada, com um tema ingênuo e que se apropria, no máximo, para lançamento em dezembro, às vésperas de Natal, como "Os fantasmas contra-atacam" - idiota título que "Scrooged", o famoso conto de Charles Dickens, recebeu numa adaptação modernosa, ganhou três semanas de exibição no cine Lido 1 (só quinta-feira ali foi substituído por "U2 - Rattle and Hum"), no Astor, nas últimas três semanas, foram queimados três dos filmes mais interessantes do ano. Primeiramente, a deliciosa comédita "Curto-circuito 2", que tinha elementos para subir de bilheteria e atingir uma faixa ampla de público - especialmente se o lançamento tivesse sido antecipado para início das férias. Depois, o profundo, denso e importante "O amor não tem sexo" (Prick up your ears), de Stephen Frears, cinebiografia do dramaturgo inglês Joe Orton. Finalmente, o excelente "Bird", 88, de Clint Eastwood, outra cinebiografia notável - no caso do saxofonista e compositor de jazz Charlie Parker (1920-1955), sem dúvida um dos 10 melhores filmes do ano, também não resistiu mais do que uma semana. Aleixo Zonari, homem experiente em termos de exibição, tem que seguir os quadros inflexíveis que tabelaram em números a permanência ou não de um filme em cartaz (afinal, como exibidor, seu interesse é manter em cartaz filmes que atraiam público), de forma que no terceiro dia em que o filme está sendo apresentado, sentindo a curva de freqüência já verifica se o mesmo permanece ou não. Entretanto é lamentável que isto aconteça. Alguns dos melhores filmes do ano, tendo apenas uma semana de exibição, acabam sendo perdidos pelo público que, cada vez mais acomodado, está se acostumando a esperar pelos vídeos. Acontece que se "O amor não tem sexo" (lançado em VT simultaneamente), pode ainda ser apreciado na tela pequena, uma obra como "Bird", pela sua densidade dramática, fotografia escura e mesmo concepção visual, perderá muito em vídeo - quando sair nesta bitola. A solução certa seria que os filmes de categoria como "O amor não tem sexo" e "Bird" passassem, na segunda semana, para as salas da Fundação Cultural de Curitiba, que deve, antes de tudo, servir ao público e não buscar apenas lucros. Acontece que pela inabilidade com que a mesma vem sendo programada há tempos (e o prefeito Jaime Lerner, que prometia atenção para o setor, parece ter se desligado deste assunto). Uma coisa é clara: a iniciativa privada, que oferece empregos, paga impostos e movimenta há décadas os cinemas, merece prioridade nos lançamentos. A Prefeitura, ao investir na área de cinema, criando com isto novas despesas, deve procurar, é claro, equilibrar suas despesas e oferecer opções - mas nunca em termos competitivos. Portanto, uma filosofia clara e que, infelizmente, não tem sido observada. Resultado: brigando com as distribuidoras americanas, os cinemas da Fucucu ficam restritos em suas possibilidades de bons programas e com isto o público (que no final paga as despesas da Fucucu, hoje custando mais de Cz$ 5 mil por dia aos contribuintes) acaba sendo prejudicado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/03/1989

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