Os brindes fora de série (e com arte) deste Natal
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de dezembro de 1981
Só na primeira semana de dezembro, uma das mais premiadas agências de propaganda do Paraná decidiu o brinde que distribuiria aos seus amigos, clientes e fornecedores neste Natal. Depois de examinar muitas idéias, acabou optando por gravuras de um nome nacional (Poty Lazarotto), mais significativas (e duradouras) do que um litro de bebida - o que, nos dias de hoje, tornou-se proibitivo em larga escala. A opção das empresas em presentearem com brindes personalizados tem crescido, mas ainda é restrita em termos locais. Só as grandes empresas e entidades é que estão adotando a fórmula que o ex-publicitário Marcos Pereira (1931-1981) criou na metade dos anos 60 - discos-brinde, e que hoje têm um produtor especializado, Mário de Aratanha, ex-jornalista e agora diretor da Kuarup Edições, responsável por discos-brinde, de tão boa qualidade que já têm um catálogo próprio. Afinal, não seria justo que preciosidades que tem originalmente gravado para clientes permaneçam distantes dos interessados que não são aquinhoados com os brindes. Este ano, a Kuarup voltou a produzir um álbum para o grupo Caeme ("Brasil, Piano e Cordas", reunindo Roberto Szidon, Bessler e Mallard), que em 1980 distribuiu um álbum duplo com Turibio Santos (violão) e Arthur Moreira Lima (piano), enquanto que com patrocínio do Banco do Estado do Rio de Janeiro, saiu um álbum póstumo de Artin Lima Barbosa (1940-1980), fagotista e que foi co-realizador dos primeiros álbuns de Aratanha. Aliás, a Kuarup nasceu graças ao empenho que Karlos Kischbieter, quando presidente da Caixa Econômica Federal do Paraná, deu a edição de álbuns com a melhor música brasileira como brindes de Natal. Homem sensível à música - ex-violonista em sua juventude, Rischbieter não conseguiu, entretanto convencer os seus colegas de diretoria da Volvo a investirem alguns milhões para que a multinacional sueca pudesse distribuir agora um brinde ligado [à] nossa cultura.
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Seu disco-brinde, com boa qualidade e apresentação não fica por menos de Cr$ 2 milhões, é natural que sejam poucas as empresas que se dêem a este luxo. No Paraná, ao que consta, até hoje só a próspera Múltipla Propaganda e Pesquisa, há 3 anos, patrocinou a edição de "Onze Cantos", até agora o melhor disco de compositores paranaenses, reunindo música de Paulinho Vitola e Marinho Galeta. Idéias para projetos semelhantes não faltam, mas a receptividade é pouca. Afinal, se houvesse uma pequena ajuda, as meninas do grupo As Nymphas poderia ter lançado neste Natal o seu primeiro elepê, que permanece inédito, por falta de dinheiro para confeccionar a capa. Quem quiser ouvir as músicas de Mara, interpretadas pelo sexteto feminino tem que ir ao Sir Laboratório de Som e Imagem, que, aliás, há 2 anos, distribuiu um compacto com um jingle de Lápis, a guisa de mensagem de fim-de-ano. Este ano foi o principal concorrente de Perci Tamplim, o Audisom, do ator-locutor Reinaldo Camargo, quem gravou um compacto simples, com a Orquestra Spacial, para saudar os seus clientes e amigos.
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A época dos calendários já passou e mesmo os Brindes Pombo não têm mais tanta procura como antigamente. Agendas executivas, lançadas pela Abril, encontram, ainda, boa freguesia antecipada. Mas a sofisticação maior dos brindes especiais é dada por alguns grupos nacionais, em livros de arte - disputados a tapa por colecionadores. A revista "Veja" fez um levantamento dos melhores livros-brinde que estão sendo distribuídos agora, para dar água na boca dos pobres mortais que não têm a sorte de recebê-los. A Dow Chemical, conforme aqui registramos, foi a primeira a patrocinar um caro livro de arte, com 50 peças do Museu de Arte Sacra de Salvador. Já a Construtora Oldebrecht patrocinou o livro "Aspectos da Arte Religiosa do Brasil", com texto do crítico Clarival do Prado Valladares. Outro crítico, Jacob Klitowitz, foi convocado pela MWM Diesel para fazer o texto de um livro sobre a obra do gravador baiano Emanoel Araújo.
O Banco Sudameris editou um volume intitulado "Mestres, Artífices e Artesãos", enquanto a Rhodia editou um álbum sobre São Luiz do Maranhão e a Logos patrocinou um estudo sobre a pintura de Alfredo Volpi, com texto de outro crítico - Olivio Tavares de Araújo, focalizando os quadros que formam ogivas ("Volpi: a Construção da Catedral"). A Fiat - ao contrário da Volvo - investiu em brindes de arte, financiando um ensaio sobre a "Mineiridade", de Sílvio Vasconcelos, e convidou Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo para um levantamento das "Contribuições dos Italianos na Arquitetura Brasileira", intensamente documentado.
João Fortes Engenharia - empresa das mais lucrativas, não teve dificuldades em investir num livro intitulado "O Real Corpo de Engenheiros", coordenado pela pesquisadora Cacilda Teixeira da Costa e com texto do professor Benedito Lima de Toledo sobre alguns engenheiros que trabalharam no País do século XVIII. O autor do projeto gráfico deste volume foi o artista plástico Wesley Duke Lee e a João Fortes Engenharia tem tradição em brindes de arte, pois no ano passado financiou "Arte Rio Deco". Duke Lee foi também o responsável por outro dos mais elogiados livros do ano, "Costa Baiana", financiado pelo Banco da Bahia Investimentos, onde em folhas soltas, numa caixa-álbum, estão 34 reproduções das telas de José Pancetti, acompanhado em caderno anexo, de anotações sobre estas pinturas e uma biografia rápida de outro artista. Carybé foi este ano um dos artistas mais editados. Além de patrocínio oficial para sua "Iconografia dos Deuses do Candomblé", fez para a Basf desenhos sobre costumes diários de uma pequena cidade baiana, Cipó, num livro programado por Jorge Cunha Lima. E a Aracruz Celulose financiou um outro volume, que as lembranças da viagem que Carybé e Rubem Braga fizeram nos anos 50. A Glasurit do Brasil editou talvez a mais importante contribuição para a sociologia da cultura popular: "A Arte do Caminhão", com fotos de Stefanil Crill e Roberto Wolferson, focalizando pinturas e decorações das carroçarias, num folclore dos mais ricos e esquecidos. Para janeiro, a Olivetti promete distribuir um livro de fotografias como título de "Impressões do Brasil" e a Mercedes Benz reservou para o seu luxuoso calendário ilustrações sobre uma notável coleção de arte plumária de [meia] centena de tribos brasileiras.
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Além de ter produzido um original brinde de fim de ano, o compacto com a Mini Orquestra Spacial interpretando canções de Natal da Catedral de Avinhão do Século XVI e temas de Carl Orff, Villa Lobos e canções folclóricas, a Audisom deu a chance de um novo grupo musical da cidade mostrar o seu trabalho. Criado pela flautista e maestrina Niede D'Aquino, a Mini Orquestra Spacial é integrada por 20 crianças de grande talento. Já para a Facenorte Construções Civis, pertencente ao engenheiro Luis Fernando Camargo, a Audisom produziu 3 mil cópias de um compacto duplo, onde o ator Maurício Távora declama os sonetos de Separação, do Amor Total, da Fidelidade e do Maior Amor, do eterno Vinicius de Moraes.
O Violonista Sebastião Tapajós criou as belas músicas que emolduram estes registros. A Facenorte acertou na mosca com este brinde, já que além de relembrar Vinicius, também marca a construção de seu edifício Vinicius de Moraes, no bairro da Boa Vista.
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Em matéria de brindes gravados, a Globo havia lançado no ano passado um álbum duplo em homenagem a Vinicius, num precioso trabalho. Este ano, sentindo as tendências do público pela música rural - e o sucesso do programa de Rolando Boldrin, realizou um álbum duplo intitulado "Som Brasil", acompanhado de um encarte álbum que se constitui em verdadeiro ensaio sobre a música não urbana, tema a respeito do qual temos insistido em nossos espaços. Nos dois elepês, foram selecionados clássicos da chamada música sertaneja, em interpretações de mestres como Alvarenga e Ranchinho, Luiz Gonzaga, Tonico e Tinoco, Manezinho Araújo, Cascatinha e Inhana, Venancio e Corumbá, Torres e Florêncio, Xerém e Bentinho, João Pacífico e tantos outros. É bastante significativo que a Globo, com todo o seu poderio de comunicação, se volte a valorizar o canto do povo, autêntico e simples - mas até agora marginalizado pelas falsas elites.
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