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Aramis

Oscar sempre Oscar (II)

Com exceção de "Corações e Mentes" (Hearts and Minds, 1974, de Peter Davis e Bert Schoeder) e "Harlam Country"(1977, de Barbara Keppel) praticamente todos os documentários de longa-metragem que tem sido premiados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood desde que esta categoria foi instituída permanecem inéditos no Brasil. Assim como ficam inéditos os curta-metragem, desenhos animados e grande parte dos filmes estrangeiros premiados - sem falar num sem número de importante obras de cineastas consagrados, cujas fitas - indicadas muitas vezes premiados - nem por isto motivam as produtoras/distribuidoras a lança-los entre nós. Por exemplo, "A Woman Under the Influente", de John Cassavetes., que em 1974, valeu a Gena Rowlands, a indicação a melhor atriz )Oscar dado a Ellen Burstyn por "Alice Não Mora Mais Aqui", de Martin Scorcese), até hoje não chegou ao Brasil - e a exemplo do primeiro longa-metragem deste extraordinário ator-roteirista-diretor, "Shadows" (60), como suas duas últimas obras. "The Killing of a Chinese Bookie " (1976)e "Opening Night" (1977), também permanecerão inéditas. "Lenny", de Bob Fossr(o premiado diretor de "Cabaret", do musical da Broadway - "Peppin" e do especial de tv "Liza com Z"), mesmo indicado a melhor filme e valendo a Dustix Hoffman uma "nomination" a melhor ator também em 1974 (ano em que Art Cortney, por "Harry e seu amigo Tango", de Paul Paul Mazurzky, foi o vencedor) igualmente permanece inédito. Dezenas de outros exemplos poderiam ser lembrados, mas bastam este, para comprovar que nem mesmo toda a promoção internacional do Oscar é suficiente para romper a barreira que as multinacionais interesses das corporações cinematográficas impõe - e praticamente limitam a visão de uma mínima parcela do que se produz (de melhor) nos Estados Unidos. Afinal, se um filme -seja de ficção ou documentário, é indicado ao Oscar, possui méritos que justificariam o seu lançamento comercial - principalmente no Brasil, até há poucos um dos países que mais importava filmes do mundo. Se "Amargo Regresso", com seus 3 Oscars - ator (John Voight), atriz (Jane Fonda) e roteiro, já está em exibição no Astor "O Franco Atirador", premiado com 5 Oscars (era indicado a 9) - filme, direção (Michael Cimino, 37 anos, que em 74 fez seu primeiro filme, "Thunderbolt and Lightfoot", que passou desapercebido inclusive no Brasil) ator coadjuvante (Christopher Walken), edição e som, deve estrear nos próximos dias - ao menos do eixo Rio-São Paulo , já que a United Artist não vai desperdiçar a super promoção que este polemico filme obteve no Festival de Berlim, delegações socialistas retiraram-se da mostra em protesto contra o parcialismo com que Cimino enfocou a guerra do Vietnã) "O Céu Pode Esperar"(cine Condor, 2a semana), mesmo com uma única premiação dereção de arte - quando havia obtido 9 indicações, nem por isto terá menor público: refilmagem do romance que em 41 inspirou ao "Que Espere o Céu"), tem todos os elementos de agrado do grande público. Em compensação, a não premiação de "Interiores", de Woody Allen - estréia para ao próximo dia 24 no Cinema 1 - por certo prejudicará a carteira comercial desta primeira experiência do diretor de "Annie Hall" atuando apenas como roteirista-diretor, num filme sério, profundo. Igualmente também lamentável para quem já o conhece o fato de "Uma Mulher Descansada"( cine Astor, em seqüência a "Amargo Regresso"), de Paul Mazursky - que concorria a melhor filme e valeu a bela Jill Clayburgh a indicação a melhor Atriz. Não ter sido premiado "Na Unmarried Woman", abordando o drama de uma divorciada, insere-se naquele categoria de filmes que tratam a mulher com sensibilidade - e que em 1977, teve exemplos marcantes como "Julia" (de Fred Zinnemann), "Três Mulheres"(de Robert Altman), "Momento de Decisão"(de Herbert Ross) e, principalmente, "A Procura De Mr. (de Richard Burton). Mas este ano, os membros da Academia de Artese Ciências Cinematográficas de Hollywood preferiram votar no cinema político: "Amargo Regresso" é uma visão intimista, dos reflexos familiares da Guerra do Vietnã, enquanto "O Franco Atirador", mesmo polemico em sua colocação, também aborda o conflito do qual os EUA se saíram tão mal - e ceifou tantas vidas. Aliás uma superprodução de Francis Ford Coppola, sobre o mesmo tema, num investimento de quase US4 40 milhões, com Marlon Brando - "Apocalipse Now", até agora, entretanto não foi sequer lançada - embora já tivesse sido anunciadas sua participação em festivais europeus. "O Expresso da Meia-Noite" (Midnight Express), rodado em Malta, dirigido por Alan Parker, baseado no drama de um norte-americano, Billy Hayes, condenado a prisão perpétua na Turquia por trafego de drogas, também é um filme de conotações políticas e acabou com dois Oscars: melhor roteiro adaptado (Oliver Stone) e trilha sonora original, do estreante Giorgio Moroder, que poderá ser apreciada antes mesmo que o filme chegue as nossas telas, já que a Polygram lança a SOUND- TRACK na próxima semana, juntamente com o álbum duplo trazendo a adaptação musical que Quincy Jones fez para "The Wez", adaptação a Broadway de "O Mágico de Oz", filmado por Sidney Lumet - e que no Brasil se chamará "O Mágico Inesquecível". Momentos de emoção não poderiam faltar na 51a edição do Oscar - segunda-feira a noite, transmitida por tv para 51 países: mesmo perdendo para Jon Voight o Oscar de melhor ator (concorria por "Os Meninos do Brasil", de Franklin Schaffner, baseado no romance de Ira Levin, cuja ação transcorre no Paraguai-São Paulo-Rio, mas rodado em Portugal), Lord Laurence Oliver, 71 anos, recebeu das mãos de Gary Grand, 73 anos, um Oscar especial-pelo conjunto de sua magnifica obra. Já a sempre enternecedora e encantadora Audrey Hepburn, 50 anos ( -mas aparência juvenil como sempre) entregou a King Vidor 81 anos, 63 de cinema, um Oscar especial - lembrando-se de que, há 24 anos, trabalhou sobre suas ordens em "Guerra e Paz"- por sinal, o filme que inaugurou o cine Lido, em 17 de setembro de 1959). O Oscar Jean Hersholt (1886-1956), em homenagem ao humanitário ator, este ano foi entregue ao presidente da Columbia Pictures, Lei Jaffe - quando seria mais natural que ele recebesse o troféu Irving Thalberg (1899-1936), criado em 1937 para distinguir aos produtores de destaque. O Museu de Arte Moderna de Nova York, por ter uma das melhores cinematecas do mundo e desenvolver constantes atividades pela preservação e difusão da história do cinema mundial, também mereceu um Oscar especial. Jon Voight emocionou-se ao subir ao Palco, o discurso de Sir Laurence Oliver foi dos mais dignos já pronunciados numa festa como o Oscar e Jane Fonda preferiu falar não só oralmente, mas também comunicar-se com 14 milhões de surdos-mudos - repetindo-se aliás, a comunicação que no ano passado, a cantora Debbie Boone usou, com um coral de crianças, para fazer com que a canção que apresentou na festa de 1978, pudesse também ser compreendido pelos deficientes auditivos - e, em 1978, Louise Fletcher (melhor atriz por "Um Estranho no Ninho") também fez chegar suas palavras de agradecimento aos seus pais, igualmente surdo-mudos. Como em 1978 ("Madame Rosa"), a França novamente levou o Oscar de filme em língua estrangeira - desta vez com "Preparez Votres Mouchoirs", e se na categoria dos documentos de longa-metragens são poucas as chances de "Scared Straight" de Arnold Shapiro, aqui chegar em breve, ao menos "Raim", co-produção Franca-brasileira, sobre os índios brasileiros do Xingu, já premiado no Festival de Gramado, Virá em breve para as nossas telas - motivando talvez até a visita de Marlon Brando ao Brasil - que aceitou narrar, em inglês, este elogiados filme, para sua exibição nos EUA e outros países. "Raini" não ganhou o Oscar, mas a promoção valeu. Johnny Carson, conhecido animador da televisão americana foi discreto mestre-de-cerimônias, mas Bob Hope, que durante quase 30 anos nunca abriu mão desta tarefa, não deixou de aparecer, embora rapidamente - e felizmente sem as piadas de circuito fechado - para "introduzir" John Wayne, que recuperado de uma segunda operação do câncer, dia 12 de janeiro último, anunciou o filme premiado com o Oscar: "O Franco-Atirador". Ironicamente, uma fita sobre a guerra do Vietnã, que ele, como velho reacionário, sempre apoiou e à qual chegou a dedicar um desonesto filme, "Os Boina-Verdes", em 1968. Enfim, no SHOW BUSSINESS, como na natureza, nada se perde, tudo se adapta. Principalmente nos dias de hoje em que o MARKETING é mais importante do que a criatividade artística só que os americanos sabem, sempre, dourar muito bem a pílula. E o Oscar é um boneco ôco e apenas dourado. Mas como é disputado!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
12/04/1979

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