Pagode, a reação verde amarela contra o rock
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de janeiro de 1987
Se o rock continuou a ser o grande campo de investimento das principais gravadoras - especialmente as multinacionais - houve, em contrapartida, a nacionalística reação do pagode. De modestas produções na RGE, o pagode cresceu em vendas e terminou o ano ganhando os espaços nobres dos milionários programas especiais de fim de ano das redes nacionais de televisão, até mesmo no super Global especial de Roberto Carlos.
Grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Pérola Negra, Almir Guineto e vários outros sambistas humildes e anônimos até há pouco, são hoje intérpretes e autores em ascensão artística e financeiramente, ganhando capas de revistas, destaques em jornais nacionais e até programas de televisão. Depois que a RGE provou a rentabilidade do gênero outras gravadoras foram no mesmo filão, provocando do abalisadíssimo Tárik de Souza, há 20 anos o mais respeitado disc-review do "Jornal do Brasil", o seguinte comentário: "Ano farto e consumista, à beira do apocalipse econômico: todos venderam praticamente tudo. Da infantil Xuxa (mais de 2 milhões e 800 mil Lps) ao desbragado brega de Amado Batista (quase um milhão), do sambandido de Bezerra da Silva ("Alô Malandragem, maloca o flagrante", meio milhão) ao rock apoteótico do RPM ("Pirata ao vivo"), mais de um milhão. Sem contar o pontual Roberto Carlos que, ao romper uma dieta de 20 anos de samba, anunciou, cercado de cuícas e tamborins de "Nega", seu ingresso no clube do 3º milhão. E não foi à toa que o rei vestiu em fantasia: em 86 a MPB virou pagode, numa disputa acirrada com os roqueiros pelos primeiros lugares em vendagem. Estreantes como Jovelina Pérola Negra, Marquinhos Satã e veteranos como Fundo de Quintal e Neguinho da Beija-Flor balançaram sucessivamente as redes do campeonato. João Nogueira e Martinho da Vila mostraram que permanecem bons de cintura, remodelando os respectivos figurinos sem dar na pinta. Alcione e Beth Carvalho desguiram para a balada e o sambanjo, sem perder o compasso".
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