A percussão criativa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de março de 1989
Pouco a pouco os percussionistas vão obtendo seu espaço. Há 25 anos, os executantes destes instrumentos que produzem o som mais enraizado da cultura musical brasileira eram obrigados a buscar os portões do Galeão para conseguirem uma carreira solo (Hirto Moreira, Naná Vasconcelos, Paulinho Costa, Dom Um Romão etc.), pois, aqui as chances eram mínimas. Criadores da voltagem do mineiro Djalma Corrêa são mais valorizados pelos superstars estrangeiros que por aqui passam do que pelas gravadoras, pois até hoje só fez um lp-solo, num projeto-testes da Polygram ("MPBC"). E talentos da percussão não faltam, como Marcello Salazar, que no ano passado fez seu segundo elepê na Visom, depois de uma estréia independente - igualmente dividida com o violonista Jorge Degas - também voz e baixo. A dupla tem curriculum longo, folha ampla de trabalhos, presença até internacional, mas ainda continua pouquíssimo conhecida no Brasil. Neste seu novo disco ("Muxima") (solicitações à Rua Mário Portela, 285 C-16, Laranjeiras, 22241, RJ), alternam composições próprias - "Felicidade", "Takurina" (só de Degas), "Pulo de Gato", "Agoroci", "Take 1" (em dupla), "Muxima" (com Carlos Fernando), "Rio Negro" (com Paulo Moura) e duas homenagens especiais: versões totalmente novas de "Ponta de Areia" (Milton/Brandt) e "Triste" (Tom Jobim).
Sonoramente rico, mostrando uma dimensão especial dos recursos da percussão/ violão/ vocais, "Muxima", enriquecido com uma bela capa com um contorno de figuras extraído do quadro "A Dança" de Henri Matisse, foi um dos melhores lançamentos instrumentais do ano passado (embora produzido em 1987), que vale a pena ser procurado. Um momento de som perfeito, entre dois criadores da maior voltagem.
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