Política, pacote e samba segundo Villas e Cabral
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de dezembro de 1981
Mineira e prudentemente, nenhum político do PDS se animou a assistir a "Parceria" de segunda-feira, quando o jornalista Villas-Boas Corrêa e Sérgio Cabral conduziram um dos melhores encontros da série que a Fundação Cultural vem promovendo há mais de dois anos, trazendo a Curitiba personalidade de diferentes áreas.
Editor de política do "Jornal do Brasil", uma quilometragem de mais de 30 anos no movediço campo político, Villas-Boas fez colocações lúcidas, corajosas e polêmicas, abordando temas como a explosão das bombas do "Rio-Centro" e a recente manifestação de estudantes em Brasília contra Henry Kissinger - para eles, sintomas de reações desesperadas de grupos que são contra a Abertura Democrática. No entender de Villas-Boas e numa revelação que surpreendeu a muitos - inclusive o seu próprio parceiro, Sérgio Cabral, jornalista bem informado, a manifestação contra Kissinger poderia ter tido um deselanche trágico, provocando mesmo um total endurecimento do regime, se, "por uma simples coincidência", o chefe da Casa Civil, ministro Leitão de Abreu, não estivesse na Universidade de Brasília na ocasião e, pessoalmente, não tivesse acionando o esquema que permitiu a Kissinger deixar, são e salvo, o recinto.
Com exceção do secretário-executivo do PT, advogado Edesio Pasos e do deputado emedebista Waldir Pugliesi, não se notava no público presente ao Paiol, na segunda-feira, nomes mais conhecidos da política - embora o PP ali estivesse representado por um de seus mais inflamados membros, o ex-industrial Glauco de Souza Lobo, hoje dirigindo a federação de umbanda e presidente da Escola de Samba Embaixadores da Alegria, só que mais preocupado em discutir samba-de-enredo com [Sérgio] Cabral do que política com Villas-Boas, mas a quem contudo, fez algumas colocações.
Se para a oposição, as palavras de Villas-Boas se ajustavam como uma luva, para membros do PDS seria bastante incômodo ouvir que o respeitado analista disse a respeito do "Pacote de Novembro", em sua opinião uma competente - embora [desonesta] - [fórmula] que o governo encontrou para solucionar todos os seus problemas políticos até 1984. "Politicamente, o governo solucionou os problemas, agora vamos ver se resolve também os problemas sociais e econômicos", disse Villas-Boas que se mostrou bastante realista com relação do "Pacote" e as dificuldades que o mesmo trouxe [à] oposição, praticamente asfixiada para as próximas eleições. Depois de fazer bem humoradas considerações quando a jornalista Toniac (Antônia Eliana Chagas), também administradora do Paiol, levantou a questão da saúde dos donos do poder, Villas-Boas terminou a sua participação lembrando a resposta que um cacique político do Pará, ex-governador, deputado e senador, lhe deu há mais de 20 anos, quando Villas, um repórter iniciante, lhe perguntou sobre "as perspectivas políticas do Pará".
- No Pará, respondeu o cacique, não há esta questão de perspectivas: lá, eles perdem e eu ganho. Sempre!
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Sérgio Cabral, que deixou há pouco a direção artística de um dos selos da WEA - a Atlantic, por onde produziu alguns dos melhores discos do ano (incluindo o de Paulinho da Viola), e que agora prepara-se para reassumir, ao lado de Ziraldo, a editora do "Pasquim", falou também sobre política, música e escolas-de-samba. Para um profissional que há mais de duas décadas se dedica [à] valorização das manifestações mais espontâneas da cultura popular, identificando-as com a realidade política e social do País, uma análise da crise do disco não pode ficar apenas na apreciação superficial. Assim, que foi ao Paiol pode entender melhor o que ocorre por baixo desta crise que levou as multinacionais a se fundirem - a Polygram engolindo a Ariola, a WEA fundindo-se [à] Odeon, sem contar próximas absorções, inclusive da RCA, que com todo o seu poderio também enfrente sérios problemas. O disco independente, já com mais de 150 exemplos, é, no entender de Sérgio, uma solução "lírica e romântica", embora possibilite ao artista colocar na cêra sua música "com a maior liberdade". Com bom humor, analisando a lista dos supérfluos, Sérgio também fez uma feliz colocação:
Tenho a impressão que o pacote dos supérfluos é algo pessoal, contra minha pessoa: atinge o disco; atinge o papel da imprensa e até a bola de futebol, eu que agora voltei a escrever sobre esportes, em "O Globo". Mas mesmo assim continuo Vascaino, que jamais será supérfluo ...
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Após a "Parceria", Sérgio prometeu a Carlos Mazza - durante jantar no alegre "Tata II", hoje o ambiente mais descontraído do fim de noite curitibano, que voltará a Curitiba no Carnaval, para integrar o [júri] das escolas de samba. Já Glauco Souza Lobo, não pode conseguir ainda sua confirmação para que venha presidir a comissão julgadora de escolha do samba-de-enredo da Embaixadores da Alegria, programado para o dia 28 de dezembro.
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