Poty e Valério em busca da Curitiba dos outros tempos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de janeiro de 1990
Com uma diferença de duas décadas, "Curitiba de Nós" acaba de ganhar um primo-irmão: "Ruas e Histórias de Curitiba", nova e nostálgica viagem na máquina do tempo desta cidade sem portas, acaba de ser impresso na Copiadore e apesar de ter na sua ficha catalográfica o ano de 1989, se constitui no primeiro lançamento editorial de 1990. Somente no dia 8 de fevereiro, na acolhedora livraria Ipê Amarelo, Valério Hoerner Júnior está autografando seu novo livro, como os anteriores resultado de anos de paciente, dedicada e amorosa pesquisa na cidade em que nasceu há 43 anos.
O parentesco de "Ruas e Histórias de Curitiba" com "Curitiba de Nós" é bem íntimo: além da mesma temática, as ilustrações são do próprio Poty (Napoleão Potiguara Lazarotto, 65 anos), que criou os desenhos da Curitiba do passado para os textos que Valêncio Xavier publicou em março de 1969 no saudoso "Diário do Paraná". Em 1975, com patrocínio da Prefeitura de Curitiba, aquele belíssimo trabalho ganhou forma de livro, patrocinado pela Prefeitura e numa primorosa edição graficamente confiada a Hermes Soethe, da Digital. No ano passado, em iniciativa da Nutrimental, "Curitiba de Nós" foi reeditada, com novos textos e ilustrações, edição encadernada, tratamento editorial cuidadoso da publisher Cassiana Licia Lacerda Carolo - e que se constitui num dos livros de arte de destaque do ano, conforme destacamos na retrospectiva publicada no "Almanaque" do último domingo.
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Valério Hoerner Júnior é daqueles raros curitibanos que se preocupa com a falta de fosfato em nossa memória. Assim, há mais de 30 anos, procura escutar as palavras dos mais velhos, mergulhar em bibliotecas na busca de amarelecidos jornais e revistas que ajudem a compor a paisagem humana, arquitetônica e comportamental da Curitiba do passado, sobretudo reconstituí-la em seus textos.
Foca da "Gazeta do Povo", no final dos anos 50, advogado pela Universidade Federal do Paraná da turma de 1966, ex-assessor da Fundepar e Cia. Fiat Lux (na qual trabalhou por 22 anos), uma passagem pelo Rio de Janeiro, não o afastaram de uma paixão que vem desde os tempos de colegial: a vontade de sabem sempre mais sobre a Curitiba do passado. Entretanto, seus dois primeiros livros seriam biográficos, sobre o médico e espírita Leocádio Ferreira ("A Vida do Dr. Leocádio", 1980; "O Morto Vivo", 1981). Em 1983, em "A Mosca Azul" reuniu contos e textos avulsos. Finalmente, com o "Folclore Palácio" iniciaria sua arqueologia desta Curitiba tão carente de atenção em sua memória. Rastreando a história do mais tradicional e antigo restaurante da madrugada curitibana, Valério fez um livro em que lembra algumas das muitas personalidades que ali fizeram história nos anos dourados de jornalismo, política e vida artística. Editado em 1984, ainda restam exemplares à venda no próprio restaurante.
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Em 1985, Valério publicou dois livros: "Curitiba 1900", um mergulho maior na cidade da mudança do século, procurando enfocar aspectos diversos da cidade. "Uma Luz no Sertão", edição reduzidíssima, contou a história de uma escola do interior de Guarapuava e de seu fundador, o alemão Karl Tobias.
Em suas pesquisas e andanças em torno de Curitiba do passado, Hoerner recolheu material para muitos volumes. Um dos projetos era fazer um livro sobre as ruas de Curitiba - num tratamento mais detalhado e poético, com um certo parentesco com a admirável saga de pesquisa que a inesquecível professora Maria Nicholas (1899-1988) fez ao longo de mais de 30 anos nos três volumes de "Almas das Ruas". Outro projeto seria um livro sobre o Vagão do Armistício, restaurante nascido no final dos anos 30 e que por mais de duas décadas se transformou num ambiente freqüentado por artistas, jornalistas, políticos e autoridades - a partir do próprio interventor Manoel Ribas. Pertencente ao casal Isaac-Julia Lazarotto, pais de Poty e Joãozinho, o Vagão do Armistício, fez parte do cenário humano-gastronômico-afetuoso de nossa cidade. Em "Ruas e Histórias de Curitiba", Valério reuniu parte de sua pesquisa sobre as antigas ruas e mais um encarte especial sobre o Vagão do Armistício, num projeto que é antes de tudo embrião para resultar em novos volumes.
LEGENDA FOTO - Com capa e ilustração de Poty, "Ruas e Histórias de Curitiba" de Valério Hoerner Jr. conta o que foi o Vagão do Armistício.
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