O "Vagão" que trouxe o rizotto para Curitiba
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de março de 1992
No rastreamento dos endereços gastronômicos e etílicos de Curitiba. Valério Hoerner, após ter escrito "O Folclórico Bar Palácio" (1984) - que há 62 anos se constitui num símbolo de resistência da noite curitibana - dedicou mais de 40% de seu livro "Ruas e Estórias de Curitiba" (1990) a um estabelecimento que, até prova em contrário, foi o introdutor de alguns pratos típicos da cozinha italiana em Curitiba para consumo do público: O Vagão do Armistício.
Com suas origens ao redor de 1937, a modesta casa do casal Isaac e Júlia Lazarotto - pais de Poty (o artista plástico mais importante do Paraná) e o cartorário Joãozinho, foi, durante os anos 30 e 40, o grande ponto de encontro de políticos, artistas e jornalistas. O risotto que dona Júlia preparava era o prato-de-resistência de centenas de jantares e almoços reunindo os poderosos da época, a começar pelo então interventor Manoel Ribas que, entusiasmado com os desenhos do menino Poty, lhe daria uma bolsa de estudos para aprimorar-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Só nos anos 50, após a Avenida Manoel Ribas, ligando Curitiba a Santa Felicidade, ter recebido asfalto em sua primeira parte, começaria a desenvolver-se o bairro gastronômico de Santa Felicidade - a partir do Cascatinha, primeiro das dezenas de restaurantes que ali se instalaram - e que hoje, diversificados (e internacionalizados) fazem a prosperidade daquele imenso bairro.
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Apesar da forte presença eslava na formação étnica de Curitiba, durante anos o único restaurante que servia os autênticos pratos da cozinha polonesa era o da Sociedade União Juventus, graças a competência da lendária dona Anastácia. Só na década de 90, o empresário Janus Stoklowski trocaria o mercado de capitais pela implantação de uma casa sofisticada, especializada na comida polonesa: o Varsóvia, no Batel. E também só no final dos anos 60 - e década de 70 - os curitibanos passariam a descobrir as delícias da cozinha oriental - a chinesa, com o Lido (no Edifício Kwasinski, Praça Osório) e, a partir de 1965, com o Peking, que Lin Yung abriria em 1965 - e mantém até hoje, indiferente a concorrência que se multiplicou. A comida japonesa, introduzida pelo Tempô, durante anos confundida com uma churrascaria no início da Avenida Marechal Deodoro, também só viria a se expandir nos últimos anos. Entretanto, ainda estamos longe de uma cozinha diversificada do Oriente, a tal ponto que um restaurante inaugurado em outubro do ano passado, na Avenida Silva Jardim, anunciado como "especializado" em cozinha tailandesa, tem decepcionado os que se aventuraram a experimentar seus pratos - um misto de cozinha japonesa e chinesa, em porções mínimas e preços altíssimos. Também não é para menos: apesar de se dizer tailandês, a casa pertence a dois curitibanos e o cozinheiro é um gaúcho cuja proximidade à comida oriental se restringe a um período em que trabalhou num restaurante chinês numa praia catarinense.
LEGENDA FOTO: Dona Julia Lazarotto, mãe do artista Poty, ao lado do casal Sandro Polônio - Maria Della Costa, que nos anos 50 eram fregueses fiéis do "vagão do Armistício" em suas temporadas curitibanas.
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