Publicidade vagabunda
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de outubro de 1983
Das mais elogiáveis a atitude tomada pelo Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (CONAR), criado em 1978 pelos próprios publicitários para coibir abusos na propaganda, em cassar o infeliz comercial do jean Calvin Klein, veículado apenas 9 dias na televisão. No comercial aparecia um rapaz, jeito funk forçadamente debochado dizendo um primor de mensagem: << Minha mãe sempre me ensinou a lavar as orelhas, a ficar com as mãos limpas no jantar, a não pôr o cotovelo na mesa. Só que não adianta! Eu quero mesmo ser um vagabundo. O vagabundo é aquele que não tá aí com nada... mas tá com tudo >>.
A repulsa foi imediata. E o diretor-geral do Dentel, Antônio Fernandes Neiva, externou bem a questão : << A referida publicidade, ao ser veículada, demonstra a facilidade com que uma pessoa consegue tudo, mesmo um vagabundo, sendo um incentivo pernicioso aos jovens de nossa Nação >>.
A campanha -criada pela agência Fischer & Justus, de São Paulo - incluía outras peças na mesma linha: um segundo comercial, desta vez com uma jovem sensual, falando em dragões e um terceiro calcado em cima de Tarzan & Jane. Todas com uma linguagem supostamente jovem - mas totalmente prejudiciais na mensagem. Um experiente publicitário curitibano, comentou:
<< Que uma agência tenha a audácia de apresentar uma campanha tão infeliz, em nome de abertura e do modernismo jovem, até se pode aceitar. Mas que o cliente se disponha a gastar milhões e a aprove, é prova da maior incompetência >>.
xxx
Por baixo, a Calvin Klein deve ter perdido mais de Cr$ 300 milhões na produção e veiculação desta frustrada campanha. E a agência Fischer & Justus terá que rebolar para segurar a conta. se é que a segurou.
Enviar novo comentário