"Marina", a musical mensagem da beleza
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de agosto de 1989
A televisão está auxiliando a revalorização de excelentes músicas que uma nova geração desconhecia. Depois do pioneirismo da cadeia C&A em usar, com inteligência, um clássico da canção francesa "Je ne Quite Pass"(Jacques Brel) e "California Dreams" (John Philips / Michele Gillian) - esta numa gravação com Rosa Maria, que, felizmente, veio lhe dar uma oportunidade promocional que em quase duas décadas de estrada não havia conseguido, é o Boticário quem faz uma associação das mais felizes entre música e imagens numa mensagem publicitária.
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Ao contrário da C&A - que escolheu músicas internacionais - o Boticário, por feliz inspiração de seu coordenador de comunicação, Eloi Zanetti, se voltou para a música brasileira. E foi buscar uma das mais românticas canções de Dorival Caymmi: "Marina", samba-canção que ele compôs em 1946 e que embora tenha tido sua primeira gravação, em março de 1947, na voz de Francisco Alves (1898-1952), ficaria muito mais identificada no registro feito poucos meses depois, por Dick Farney (1921-1987), antes dele viajar para os Estados Unidos.
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Justamente este fonograma, feito na Continental (no outro lado do 78 rpm estava "Um Cantinho e Você", de José Maria Abreu / Jair Amorim) foi o escolhido para trilha-tema do comercial que está tendo sua veiculação - teste nas televisões de Curitiba. O filme, com produção primorosa e duração de um minuto, mostra uma belíssima modelo que, enquanto se maquia, dialoga através de gestos e expressões faciais com a música "Marina" (cuja letra traz o apelo para que a mulher não se pinte, já que "é bonita com o que Deus lhe deu"). A demonstração de desdém da modelo aos apelos para que ela não se pinte é justamente a grande sacada do comercial.
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Quem vê (e gosta) do comercial quer saber quem é a belíssima modelo. Eloy informa: é Ana Paula, 16 anos, que, fotografada por Bob Wolfeson será capa da próxima edição da revista Photo francesa.
O comercial anuncia a linha de maquiagem - a Wood Colection, desenvolvida após um ano de pesquisas.
O filme, criado e coordenado pela agência W/Brasil, de Washington Olivetto - que detém parte da hoje (imensa) conta publicitária do Boticário, foi realizado executivamente na Espiral, produtora paulista que pertence a um cineasta com ligações afetivas no Paraná: Jorge Jonas. Húngaro de nascimento, Jonas foi um dos primeiros engenheiros químicos em seu país a se especializar em técnicas de revelações a cores na fotografia e quando veio para o Brasil, após a II Guerra Mundial - numa aventura que daria um filme - acabou ficando muitos meses no Paraná. Era a época do Centenário e Emancipação Política e, a convite do então governador Bento Munhoz da Rocha Neto, aqui faria milhares de fotografias. Radicado em São Paulo a partir dos anos 60, realizaria a versão cinematográfica de "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, rodado no Recife, quando conheceu Rosinha, sua esposa e hoje uma das mais competentes produtoras de comerciais do Brasil.
"A Compadecida" representou o Brasil no II Festival Internacional de Cinema e fez carreira internacional. Jonas, entretanto, se voltaria aos audiovisuais, projetos educativos e, finalmente, ao cinema publicitário, consolidando a Espiral como a maior empresa de São Paulo (e do país), responsável pela realização de milhares de filmes premiados. Com isto, vários roteiros que pretendia filmar estão à espera de um espaço futuro.
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A propósito: depois de "Marina", o Boticário vai usar outro motivo musical em novo comercial, em fase de finalização. Desta vez, o astro é nada menos que Júlio Iglesias, o que fez a produção do filme de 60 segundos alcançar a cifra de US$ 150 mil.
LEGENDA FOTO - Ao som da romântica "Marina", na voz de Dick Farney, a bela modelo Ana Paula passa, em imagens, a mensagem do Boticário: um comercial de 60' que revaloriza um clássico de Caymmi e está entre as melhores criações publicitárias para televisão neste ano.
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