Quando (e porque) o público vê um filme
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de janeiro de 1989
A análise dos espectadores dos cinemas de Curitiba durante o ano que passou oferece parâmetros para muitas interpretações. Não é preciso ser especialista para se comprovar, perante os números, uma retração cada vez maior de espectadores, já que somente Os Trapalhões, com suas três comédias mais recentes, conseguiram atrair um público expressivo - 154.635 pessoas até o dia 31, cifra que agora sobe para mais de 170 considerando-se os borderaux de "O Casamento dos Trapalhões". Nos Cines São João/ Plaza/Lido (casas em que está em exibição desde o dia 15 de dezembro) até a ultima terça-feira, dia 10.
Ao longo de duas décadas em que levantamos os números de curitibanos que vão ao cinema sente-se na preferência popular reflexos do comportamento. Por exemplo, durante pelo menos três anos, no final da década passada as pornoproduções trazendo cenas de sexo explícito - até então nunca vistas na tela ampla - estouraram nas bilheterias, fazendo com que milhares de espectadores (não só homens, mas também casais) procurassem assistir "Garganta Profunda" ou "Calígula", esta uma versão chic do pornô, produzida por Bob Guccioni (o editor da "Penthouse"), ao lado das produções de Boca do Lixo,
Hoje, as rendas dos pornôs - limitados ao chamado "circuito do orgasmo" (Cines Morgenau/Ruy Barbosa/Scala) tem rendas fraquíssimas, apesar dos títulos cada vez mais apelativos - o que levou o ex-vereador Luiz Gil Leão, num de seus últimos urros moralistas na Câmara de Curitiba, a tentar proibir que os jornais divulgassem até os nomes dos filmes em exibição - ele que, anteriormente, urrando em favor da tradição e família, havia conseguido aprovar leis que proibiram a afixação de cartazes promocionais destes filmes defronte aos cinemas exibidores. Nem precisava tanto! O gênero pornô caiu tanto que há muito que os distribuidores do gênero não tem qualquer preocupação de veicular qualquer material publicitário - cuja confecção exigiria despesas. A decadência do chamado cinema de sacanagem foi a melhor comprovação de uma verdade: Só a proibição e a censura é que faziam o gênero ter interesse. Hoje, são as locadoras que faturam com o aluguel de vídeos pornográficos, procurados especialmente por mulheres. Curiosamente, são deslumbradas socialites que nas locadoras vão buscar programas mais apimentados. Dias atrás, um amigo nosso, dono de uma locadora no Batel, comentava:
- "A relação das clientes de vídeos pornô parece até que saiu das colunas do Cláudio e Dino Almeida. Tem uma jovem dama loira, presença constante em fotos coloridas, que leva em média 6 pornôs por semana. E quer sempre novidades ...".
LEGENDA FOTO - Trapalhões: com três filmes, o maior público de 88.
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