Quem diria, Zé Maria acabou até cantando!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de agosto de 1986
Quem for aplaudir José Maria Santos no auditório Salvador de Ferrante neste fim de semana (e ele merece ser aplaudido!) prepare-se para mais uma surpresa: ele canta.
Assim como o então jovem (31 anos) Marlon Brando atacava de cantor das músicas de Frank Loesser em "Eles e Elas" ("Guys and Dolls", 55), para conquistar as boas graças da religiosa Sarah Brown (Jean Simmons, no auge de sua beleza), o bom Zé também decidiu passar óleo de peroba nas rosadas faces e, na base da cara (de pau) e coragem entoar quatro canções em seu novo espetáculo.
- Pode ser que eu não seja tão bom ator quanto Marlon Brando, mas cantar melhor do que ele, eu canto!
E como poucos lembram-se de "Guys and Dolls" (na verdade, passou apenas 5 dias no antigo e saudoso Cine Ópera e quase ninguém o assistiu), é difícil a comparação.
Em compensação, Zé Maria, todos nós sabemos, é um ator de imensos recursos histriônicos que se dá bem principalmente quando está sozinho no palco. Tanto é que por mais de dez anos garantiu o Moet et Chandon e o caviar seu de cada manhã (que ele não dispensa) fazendo o público dos Estados do Sul rir a bandeiras despregadas (ou desfraldadas) com o monólogo "Lá", do gaúcho Sergio Jockyman. No ano passado, com a pretensiosa experiência de montar uma comédia chanchada de Oduvaldo Viana Filho ("Allegro Desbum"), Zé Maria perdeu os tubos.
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"José Maria Santos procura Sarney para se coçar" está como o lapiano ator, 52 anos, gosta: sozinho no palco, fazendo tipos e contando piadas incrementadas. A idéia era que cada quadro tivesse um autor, mas afinal, só dois dos convidados acabaram entregando os textos: o catarinense Aldo Schmitz (que tabém cuida da produção do espetáculo) e o paulista Valêncio Xavier. Mas Zé Maria cria cinco tipos divertidíssimos: a polaca Slava Fodoski, de Araucária, que deseja ser constituinte; o caipira Zé do Piço que deseja ser cantor de rock (quando Zé mostra suas qualidades de cantor pop), o poeta português Manuel Salazar e, naturalmente, o próprio Sarney. Sem falar num quadro de "O Analista de Bagé", de Luís Fernando Veríssimo, na irreverente adaptação de Aldo Schultz - e terá ainda uma montagem completa em breve.
Zé Maria já levou este seu novo espetáculo de humor a várias cidades do Rio Grande do Sul - começando por Pelotas ("para provar que não temo contaminação"). Agora, aproveitando uma brecha na programação do auditório Salvador de Ferrante, aqui faz três únicas apresentações enquanto se prepara para nova excursão pelo Interior.
Se depender de Zé Maria, ele fica com esta peça até o final do governo Sarney.
- Isto é, deste governo, pois, depois de 15 de novembro, não sei não!
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