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Aramis

Raíces e Tarancon, canto das Américas

Mercedes Sosa é a grande mãe da música latino-americana e mesmo com um repertório que pouco modifica, consegue sempre lotar auditórios em suas regulares temporadas. Violeta Parra e Victor Jarra são os símbolos-mártires da música chilena. A abertura para a música latino-americana, deflagrada ainda nos anos 60 - e com sua base ideológica na contestação política da ditadura que asfixiava os países da América do Sul (e que continua no Chile e no Paraguai) criou condições para que se desenvolvessem também grupos de música latina entre nós - dois dos quais emplacam públicos fiéis, capazes de lotar auditórios - Raíces de América e, especialmente, em termos de consumo, o Tarancon. Ambos com novos discos na praça. Raíces da América, técnica e harmonicamente superior ao Tarancon, está na estrada há oito anos e chega ao quinto elepê ("Metal na Pedra", Estúdio Eldorado), como sempre com um repertório que inclui composições próprias - embora com base no folclore latino-americano. Desta vez, Willy Verdaguer é autor - sozinho ou em parcerias - de sete das doze faixas, incluindo até um trecho da ópera "A Lenda da Noite", que Verdaguer desenvolve com David Kullock, seu parceiro habitual. Algumas substituições neste período - como da argentina Mariana Avena pela brasa Nacha Moreto nos solos. Também Tony Osanah, Celso Ribeiro, Enzo Merino, Enrique Bergen e Fredy Gois saíram do grupo - substituídos por Mariano e Tadeu Possarelli (brasileiros); Jorge Menares e Chico Pedro (chilenos). Permanecem Willy e Julio Peralta, argentinos e o chileno Oscar Segóvia. Em 1982, o Raíces brilhava no II MPB Shell e, em seus discos, gravava composições do maior nome do folclore argentino, Atahualpa Yupanquin (há quase 30 anos radicado em Paris) mas em seu terceiro álbum traziam até uma versão de "Soy Loco por ti América" (Gil / Capinam / Torquato Neto). Um ecletismo musical e continental, proposta presente também neste novo elepê, no qual ao lado das composições dos integrantes originais do grupo acrescenta-se um tema do folclore boliviano ("Potosino Soy") e uma canção de exaltação à Nicarágua (de Jorge Minares). Sólidos e bem estruturados, o Raíces de América mostram um nível bem superior ao Tarancon, formado basicamente por brasileiros apaixonados pelo cancioneiro latino - e que tem sofrido inúmeras substituições. O repertório do Tarancon agrada ao público - e prova disto são as casas lotadas que tem obtido em suas constantes temporadas em Curitiba. Em seu novo elepê ("Mama Hueé", Continental) também comparecem com um repertório ideológico - a principiar pela adaptação que Jica / Turcão fizeram do "Cancion Urgente para Nicarágua", misturando espanhol e português, ou a curiosidade de um "Samba Landó" (José Seves / Horácio Salinas / Patrício Manns). É salutar que o Raíces da América e o Tarancon tenham público seguro e regularmente apareçam com novos elepês. Lamentável é que tantos talentos maiores da música latino-americana - como por exemplo, a esplêndida Maria Helena Walsh, cantora-compositora de dimensão internacional, ou um instrumentista como Eduardo Fallu, até hoje não tenham tido um único de seus (muitos) álbuns aqui editados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
30/10/1988

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