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Aramis

Revisão de Hugo da sua Argentina. Com paixão!

Hugo Mengareli é daquelas pessoas de alta voltagem criativa. Argentino radicado em Curitiba, faz cinema, teatro, conclui uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo, leciona cinema na Universidade Federal do Paraná, realiza filmes. Enfim, não pára de criar, apresentar novas propostas - variando desde filmes de temática social com "A Roça" até uma peça como "O Eucalipto e os Porcos" - (hoje e amanhã no auditório Salvador de Ferrante; volta ao cartaz a partir do dia 27). xxx Com o subtítulo de "Viva Peron, Carajo! La Cumparsita", esta nova peça que Hugo escreveu, produz e dirige - e lançando ainda seu filho, Luciano, 10 anos, como um dos intérpretes - pode ser resumida simplisticamente como "uma visão profunda (e realista) dos conflitos interiores do homem, atravessados pela tensa realidade social e política da Argentina, de 1954 a 1984. No elenco estão desde veteranos como Sansores, França e Maria Cecília Monteiro (professora, psicóloga, violinista e, acima de tudo apaixonada pelos palcos desde os tempos do grupo Escala) com gente nova, como Cleverson Cavalheiro, Laércio Ruffa, Lerte Rech Ratier, Marco Mocochinski, Marisa Bruning, Mauro Araújo, Nelly Bacila, Tupaceretan Matheus e outros. Tereza Perez Siqueira fez a coreografia. Os figurinos e cenários são de José Carlos Proença. xxx O próprio Hugo pode, melhor do que ninguém, falar da peça. Uma explicação do autor para que se possa entender melhor sua obra. "Eucaliptos e os Porcos" começou a nascer lá por 1966, quando eu ainda era estudante de teatro. Digo ainda, mas hoje - como diria Brecht - continuo sendo. Só que aquele "Eucalipto" - era assim que eu chamava originalmente o texto - terminava onde á hoje o primeiro ato. O segundo veio depois de 20 anos de vida, onde os sonhos às vezes não só viram pesadelo como se destroçam, desfazendo-se como brinquedos imaginários". A peça pretende, humildemente, não só falar de um momento da Argentina, de uma geração, senão de como algumas coisas são procuradas nos lugares errados. O inferno não são os outros. A história se repete, não só em forma de paródia, senão também da paródia trágica. Há muita morte, como também amor, isto é, sua síntese, é o que somos, os únicos seres viventes possíveis de sermos loucos. A loucura é o que realmente pertence ao ser humano, não é propriedade de um país, de uma etnia, senão do próprio ser humano. "Eucalipto e os Porcos" conta a história de um refugiado político que ao retornar à sua terra e à sua cidadezinha se defronta com a morte do pai. Através dessa situação percorrerá sua vida na busca de explicação, de arrancar suas identificações e pô-las em discussão através de planos da lembrança e imaginação. Apesar de tanta morte, Rafael Moretti - o personagem - vai juntando seus pedaços, necessariamente, indispensavelmente. Seu filho, Ramoncito, órfão de mãe - desaparecida, tem uma vida pela frente. Há uma vida a ser vivida". xxx A película tem uma sonoplastia que reproduz o som da época - transmissões radiofônicas, discursos políticos fundamentais dentro da história argentina e quando versões de "La Cumparsita" - uma interpretada por Hector Varela, outra por Aníbal Troillo e duas por Astor Piazzola.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/11/1986

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